A coloração dos vinhos brancos e o que ela revela
Ausência de contato com as cascas é a principal razão das colorações leves, indo do translúcido com reflexos esverdeados ao amarelo-palha
Muito se fala sobre a cor dos vinhos tintos: “rubi intenso”, “vermelho sangue”, “nuances marrons”, “cor de terra”, etc. Mas e os vinhos brancos? Fato é que da palha clara, ao dourando profundo, intenso, os brancos apresentam interessantes matizes de coloração.
Na verdade, vinhos brancos sempre exerceram fascínio pela sua limpidez, luminosidade e vasta gama de tonalidades — do quase incolor ao dourado profundo. Para compreender essas cores, é essencial observar como os vinhos brancos são produzidos. Diferentemente dos tintos, os brancos são elaborados a partir da fermentação do suco extraído das uvas sem a presença das cascas, onde se concentram boa parte dos pigmentos. Após a prensagem, o mosto é clarificado para remover partículas sólidas, e a fermentação ocorre em tanques de aço inoxidável ou barricas, gerando um vinho de coloração naturalmente clara, que varia conforme a uva, o método de produção e o grau de oxidação permitido.
A ausência de contato com as cascas é a principal razão pela qual os vinhos brancos apresentam colorações leves, indo do translúcido com reflexos esverdeados ao amarelo-palha. Uvas mais aromáticas ou colhidas em maior maturação podem produzir vinhos um pouco mais dourados, mas sempre dentro de uma faixa clara.
O potencial de envelhecimento dos vinhos brancos depende de fatores como acidez, teor alcoólico, maturação em barricas, presença de açúcar residual e, claro, qualidade da fruta. Vinhos jovens tendem a exibir cores muito pálidas, às vezes quase translúcidas. Com o tempo, especialmente quando envelhecem em garrafa, ocorre um processo natural de oxidação lenta e controlada. Esse envelhecimento transforma a cor de forma perceptível; de amarelo-claro para amarelo-palha, depois para amarelo-dourado e, em estágios avançados, para âmbar. Grandes brancos — como Rieslings alemães, Chenin Blanc do Loire, Chardonnay da Borgonha ou Sémillon de Bordeaux — podem envelhecer décadas, desenvolvendo tonalidades mais densas e profundas, além de complexidade aromática.
A França abriga diversos estilos de brancos, cada um com cores características. Os brancos do Loire — especialmente os elaborados com Sauvignon Blanc (Sancerre, Pouilly-Fumé) e Chenin Blanc (Vouvray, Savennières) — exibem cores claras, geralmente amarelo-limão com toques esverdeados na juventude. À medida que envelhecem, tendem ao amarelo-dourado, especialmente os Chenin, que oxidam de forma muito elegante. Os grandes Chardonnays da Borgonha, como Meursault, Puligny-Montrachet e Chablis, apresentam desde colorações muito pálidas (em Chablis, quase transparentes) até tons limão-médio ou palha-dourado nas versões mais encorpadas, sobretudo as fermentadas e maturadas em carvalho. Com envelhecimento prolongado, tornam-se mais dourados, chegando ao âmbar claro. E, por seu turno, os brancos do Rhône, frequentemente elaborados com Marsanne, Roussanne e Viognier, tendem a ter colorações mais intensas já na juventude — amarelo-palha a dourado-claro. O álcool mais elevado e o estilo menos ácido fazem com que adquiram tonalidades ainda mais douradas com a idade.
A Itália oferece uma ampla variedade de estilos e cores entre seus brancos. Conhecido por sua elegância e leveza, o Pinot Grigio italiano geralmente exibe cores quase translúcidas, amarelo-limão muito pálido, com reflexos discretamente esverdeados. Vinhos de gama superior podem apresentar cor um pouco mais intensa. Já a Trebbiano (também chamada Ugni Blanc na França) produz vinhos de cor palha-claro, brilhante e leve. Sua acidez elevada contribui para manter a coloração sempre jovem, raramente atingindo tons dourados enquanto novos. E, finalmente, a uva Pecorino, especialmente nas regiões de Marche e Abruzzo, gera vinhos com tonalidades limão-médio ou palha, às vezes ligeiramente douradas pela maior concentração natural da uva. Envelhece bem e pode escurecer para um dourado mais profundo com o tempo.
A conclusão a que se chega é que a cor de um vinho branco é um dos melhores indicadores de sua idade. Quanto mais velho, maior a tendência ao escurecimento. Entretanto, estilo de produção, uva e maturação também influenciam. Também devemos considerar que a cor do vinho branco pode ser determinada pelo método de vinificação, pelo contato mínimo com as cascas e pelo nível de oxidação ao longo do tempo. Reafirmo: conforme envelhecem, os brancos tendem a escurecer — passando do limão-pálido ao dourado e, eventualmente, ao âmbar. A análise visual, portanto, é uma das formas mais simples e eficazes de estimar a idade e o estilo do vinho. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
