Policiamento reforçado em frente a uma sinagoga em Gênova, na Itália, reflete a escalada da insegurança e dos crimes de ódio religioso na Europa
Policiamento reforçado em frente a uma sinagoga em Gênova, na Itália, reflete a escalada da insegurança e dos crimes de ódio religioso na Europa (Foto: EFE/EPA/Luca Zennaro)

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Há um brutal aumento de atos antissemitas no mundo — e o Brasil não é exceção. Uma retórica violenta contra judeus nas redes sociais, distorção de fatos em vários veículos da mídia, sinagogas vandalizadas, judeus espancados, suásticas pintadas em prédios da comunidade judaica vêm se multiplicando desde o bárbaro ataque de terroristas palestinos contra Israel em outubro de 2023.

Inúmeros grupos transformaram as vítimas (judeus) em algozes. As manifestações verbais escalaram para pichações e ameaças, culminando no brutal assassinato de 15 judeus na Austrália, numa festa alegre e familiar que comemorava um fato espiritual. Ainda há 42 hospitalizados, cinco dos quais em estado gravíssimo.

Mas, como é sabido, o que começa com judeus nunca acaba só com judeus. E eis que, às vésperas das festividades de fim de ano, o ódio islâmico se estendeu aos cristãos.

O Governo Francês acaba de cancelar as celebrações de Ano Novo no Champs-Élysées devido às ameaças de ações terroristas. No ano passado, um milhão de turistas estavam presentes — mas, neste ano, a polícia alertou para o imenso risco de atentados terroristas por parte de duas organizações: Al-Qaeda e ISIS, ambas de extremistas islâmicos.

No dia 31 de dezembro do ano passado, ocorreram na França 984 incêndios criminosos de automóveis. Neste ano, segundo a polícia do país, o risco é de atentados em grande escala — por isso o tradicional concerto da meia-noite foi gravado e só poderá ser visto em casa.

A violência começou contra judeus e gerou, apenas em 2024, 2.211 crimes de ódio anticristãos. O número de ataques incendiários contra igrejas quase dobrou.

Na França, gangues islâmicas vêm intimidando clérigos e vandalizando estátuas e crucifixos em vias públicas. O fenômeno se repete no Reino Unido, Alemanha e Espanha — e, em menor escala, mas com a mesma violência, na Itália, Suécia e Bélgica.

Eis a história do "canário na mina de carvão": os mineiros levavam canários para as minas. Quando o oxigênio começa a escassear os canários morrem. Era o sinal para abandonarem a mina pois, se ficassem, em algum tempo os mineiros morreriam por falta de oxigênio.

A jornalista espanhola Pilar Rahola afirma que os judeus são os “canários da civilização" — quando são perseguidos, os demais devem se preparar para ser as próximas vítimas. Se o ódio contra judeus é normalizado, as barreiras que protegem os cristãos também caem.

E não faltam exemplos: o crescimento da retórica antissemita já está atingindo símbolos cristãos: vandalismo em igrejas, interrupção de missas, destruição de árvores de Natal e de mercados natalinos.

Algum pensador, de cujo nome não me recordo, disse: "Primeiro o povo do sábado, depois o povo do somingo". Não resta dúvida de que é necessária uma solidariedade entre as diversas correntes religiosas. Se a liberdade não for protegida para os judeus, deixará de existir para os cristãos.

As escolas judaicas, as sinagogas, os clubes sociais judaicos obrigatoriamente precisam ter segurança às suas portas. Se as portas das igrejas ainda parecem seguras, os sinais vindos das ruas e das universidades parecem indicar que essa segurança é mais frágil do que imaginamos.

Quando as velas de Chanuká não puderem ser acesas em público, chegará o momento em que os sinos das igrejas deixarão de tocar. As comemorações dos assassinatos ocorridos em Londres, Paris e no Oriente Médio são um imenso sinal de alerta.

É fundamental que o mundo Cristão se una às lideranças judaicas para brecar o ódio aos judeus. Caso se omitam, é bastante provável que se tornem o próximo alvo. Não é um favor, é uma necessidade de autopreservação.

Marcos L. Susskind é ativista comunitário, palestrante e guia de turismo em Israel.