A Fonte Dona Beja revela o poder das águas radioativas que ajudaram a transformar Araxá em referência nacional em terapias naturais.
A Fonte Dona Beja revela o poder das águas radioativas que ajudaram a transformar Araxá em referência nacional em terapias naturais. (Foto: Fabrízio Gomes/Acervo Prefeitura de Araxá)

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Araxá cresceu com a fama da fonte de águas terapêuticas de Dona Beja, que nasce em temperaturas naturalmente quentes, de 37° a 38°. O município preserva, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, uma tradição moldada pela força das águas. A cidade fica a 363 quilômetros de Belo Horizonte e mantém uma identidade que atravessa séculos.

A origem do nome Araxá é indígena e remete ao “lugar onde se vê o sol primeiro”. O relevo e as construções que priorizam o nascente reforçam a ideia. O centro ainda exibe casarões que guardam fragmentos da formação urbana, nos tempos do ciclo mineiro do ouro.

O local combina diversidade mineral, história viva e uma cultura que valoriza as propriedades terapêuticas que emergem do subsolo. Elas revelam um repertório que inclui águas gasosas, ferruginosas, carbonatadas e radioativas. Um complexo hidrotermal e hoteleiro recebe os turistas no município.

"Pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo buscam as águas terapêuticas no Grande Hotel Barreiro, onde há banhos em águas sulfurosas, radioativas e lama negra. Araxá é uma cidade acolhedora e hospitaleira, combinada com segurança e tranquilidade, um destino ideal para o bem-estar", enaltece a secretária de Turismo de Araxá, Alda Sandra Marques.

Da fonte de águas terapêuticas de Dona Beja à cachaça na região

A figura de “Dona Beja” ampliou a fama de Araxá no século XIX. Ana Jacinta de São José era uma cortesã que se tornou símbolo de beleza e alvo da sociedade conservadora da época. A trajetória inclui o sequestro por um ouvidor de Dom João VI, a resistência à rejeição social e a criação da Chácara do Jatobá, um bordel de luxo.

A imagem dela se associou às águas e à lama do Barreiro, reforçando a lenda de que sua beleza era ligada às propriedades terapêuticas das fontes de água da natureza local. O nome dela hoje identifica um museu, uma fonte termal e uma cachaça da região.

A Fonte Dona Beja ocupa um papel central nessa narrativa. A água surge entre rochas vulcânicas e desce por uma gruta criada com azulejos brancos. A figura de “Dona Beja” acompanha a cena e mantém viva a memória da personagem.

Segundo a prefeitura de Araxá, as substâncias das águas auxiliam tratamentos respiratórios, estimulam o metabolismo e favorecem a diurese. Duchas naturais completam o cenário e jorram em frente à fonte.

O projeto do espaço leva a assinatura do engenheiro-arquiteto Raphael Hardy Filho, da equipe de Luiz Signorelli. A gruta estilizada abriga o emanatório que concentra a água radioativa. O mirante superior oferece vista ampla do parque e reforça como Araxá integra paisagem e patrimônio.

As águas minerais de Araxá emergem de uma cratera vulcânica única, formando um dos sistemas termais mais potentes do país.As águas minerais de Araxá emergem de uma cratera vulcânica única, formando um dos sistemas termais mais potentes do país. (Foto: Fabrízio Gomes/Acervo Prefeitura de Araxá)

Araxá possui fontes de águas sulfurosas e radioativas

Todo o complexo das fontes ergue-se ao redor da imensa cratera que molda a bacia do Barreiro — uma formação geológica de origem vulcânica que não apenas esculpiu a paisagem como deu vida às águas termais e aos minérios que orientaram a ocupação humana desde tempos remotos.

A Fonte Andrade Júnior, por sua vez, jorra água sulfurosa às margens do Lago do Barreiro. Os turistas buscam banhos de lama para aliviar estresse, dores musculares, reumatismo e distúrbios gastrointestinais.

De acordo com a prefeitura de Araxá, a água sulfurosa, de alta temperatura, é indicada para doenças reumáticas, problemas de pele, intoxicações e inflamações. A água radioativa, rica em radônio, contribui para o metabolismo e para o sistema imunológico.

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Grande hotel de Araxá registra era de ouro de Getúlio Vargas

O Grande Hotel Termas de Araxá consolidou a tradição termal do município no século XX. A obra, inspirada em casas de banho romanas e em referências europeias, começou em 1938 e terminou em 1944. O espaço funciona até hoje como um spa natural que oferece piscina emanatória, saunas, duchas, banhos de lama, imersão em água radioativa, massagens e tratamentos faciais.

O hotel, com 33 mil metros quadrados e apenas cinco quilômetros do centro de Araxá, reflete o momento de ouro da República com Getúlio Vargas. A suíte presidencial utilizada por ele é um local histórico preservado. Ocupava 200 metros quadrados e contava com dez cômodos, que continham entradas falsas e rotas de fuga, além de tabacarias e charutarias disponíveis apenas para o presidente.

Personalidades como Carmem Miranda e Santos Dumont também foram hóspedes do hotel. Nele, o plano “50 anos em 5″, de Juscelino Kubitschek foi consolidado, dizem relatos.

O Grande Hotel Termas de Araxá preserva o luxo histórico que transformou a cidade em referência nacional em turismo termal.Grande Hotel Termas de Araxá preserva o luxo histórico que transformou a cidade em referência nacional em turismo termal. (Foto: Fabrízio Gomes/Acervo Prefeitura de Araxá)

Complexo hoteleiro é patrimônio histórico de Minas Gerais

Criado para abrigar um cassino que durou dois anos, o edifício combina elementos coloniais hispano-americanos e detalhes neoclássicos. Colunas, capitéis, arcos e salões suntuosos integram a obra projetada por Luiz Signorelli. Os jardins de Burle Marx completam o conjunto e conectam o hotel às termas por acesso interno.

O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), tombou o complexo hoteleiro em 1989. O Grupo Tauá gerencia o hotel, por meio de licitação.

"O hotel foi encomendado para atrair turistas, criar um centro de luxo e lazer para políticos e celebridades, além do funcionamento do cassino como atração, elevando todo o glamour da época. O turista tem a oportunidade de conhecer a história com detalhes pela visita guiada", detalha a secretária de Turismo de Araxá.

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