(Foto: imagem criada usando ChatGPT/Gazeta do Povo)

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O que temos feito, como sociedade, para garantir que as crianças possam viver plenamente a infância? Vivemos uma era em que a infância parece encurtar a cada geração. A chamada adultização precoce se manifesta em diversos níveis: na pressão por desempenho e resultados, na exposição às redes sociais e nas questões de autoimagem. Crianças estão tendo de lidar com expectativas antecipadas, cujas consequências podem ser profundas para o desenvolvimento emocional e social.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Convenção sobre os Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas (ONU), são claros ao reconhecer que toda criança deve viver sua infância em plenitude, podendo brincar, imaginar, errar, aprender e se frustrar com o mundo à sua volta, além de ter acesso à cultura. Mas para que esses direitos sejam garantidos, se faz necessária uma mudança de olhar e de prática cotidiana.

Garantir o direito da criança de ser criança é proteger o presente e o futuro

A exposição cada vez maior às redes sociais e ao ambiente digital tem acelerado a adultização das crianças. Elas são expostas a conteúdos e comparações que não correspondem à sua idade, e muitas vezes sentem a pressão de agir como adultos antes do tempo. Esse fenômeno rouba da infância momentos essenciais de brincadeira, imaginação e descoberta.

Recentemente, o influenciador Felca destacou essa questão em um vídeo que repercutiu amplamente, lançando luz em um assunto que é urgente e precisa ser debatido com mais apelo. O drama Adolescência, exibido na Netflix, também traz contexto contundente. A série discute bullying, violência e impactos na família.

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Para lidar com esses desafios, em setembro foi sancionado pelo governo federal o ECA Digital, uma atualização do Estatuto da Criança e do Adolescente adaptada ao mundo conectado. A lei estabelece regras para proteção de crianças e adolescentes na internet, garantindo mais segurança, acesso responsável à informação e liberdade para explorar o digital sem comprometer o tempo de ser criança. Não se trata de condenar a tecnologia, que oferece oportunidades enormes de aprendizado e criatividade, mas de criar mecanismos que permitam o uso do digital de forma saudável pelas crianças.

A criança tem sentimentos, opiniões e curiosidade própria. A infância não deve ser vista apenas como uma preparação para o futuro, mas como um tempo de valor em si mesmo, o tempo da descoberta, da ludicidade e da imaginação.

E é justamente por isso que a educação tem um papel tão transformador. É na escola que muitas crianças podem encontrar um ambiente mais seguro, onde podem brincar, aprender e sonhar. O acesso à educação de qualidade é essencial para romper ciclos de vulnerabilidade e oferecer novas possibilidades de vida. Toda criança tem direito a uma infância protegida, mas também à oportunidade de aprender e se desenvolver plenamente.

Garantir o direito da criança de ser criança é proteger o presente e o futuro. É permitir que cada uma delas cresça com liberdade, imaginação e segurança para ser realmente quem é. Porque quando uma infância é respeitada, formamos adultos mais conscientes, que serão parte de uma sociedade mais justa, empática e capaz de cuidar de si mesma.

Flávia Blanco Lira, mestre em Comunicação e Semiótica e pós-graduanda em Liderança e Gestão, é gerente executiva do Instituto Energia do Saber.