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Poucas cidades no mundo podem dizer que possuem pedras preciosas capazes de exibir todas as cores do arco-íris. O município de Pedro II, no Norte do Piauí, é dona das únicas jazidas de gema de opala nobre do Brasil e transformou essa raridade geológica em símbolo cultural, econômico e cartão-postal turístico.
Encontrada fora do Brasil somente na Austrália e na Etiópia, as opalas de Pedro II remontam a cerca de 200 milhões de anos. O geólogo Érico Gomes, professor-doutor do Instituto Federal do Piauí (IFPI) e coordenador do Arranjo Produtivo Local (APL), considera a formação como um "capricho da natureza". "É uma combinação rara de fatores geológicos, em ambiente hidrotermal, que deu ao mineral características únicas", explica em entrevista à Gazeta do Povo.
O termo opala vem da palavra upala, do sânscrito — idioma sagrado dos antigos sacerdotes hindus — e quer dizer pedra preciosa. Conforme Gomes, a extração da opala no município de Pedro II começou por volta de 1940. Um agricultor encontrou a pedra enquanto limpava um roçado entre a encosta da serra do Boi Morto e o vale do rio dos Matos. Ao cavar para o plantio, ele foi atraído pelo brilho da pedra, retirou-a do solo e levou até o prefeito da época, Lauro Cordeiro.
Projetos impulsionam certificação e fortalecem a identidade da pedra piauiense
De acordo com o geólogo, propriedades como a dureza acima da média e a resistência ao craqueamento — fraturas provocadas pela perda de água — são reflexos do ambiente singular brasileiro e diferenciam a opala de Pedro II das encontradas na Austrália e na Etiópia.
O APL da opala, coordenado por Gomes e pela professora Lilane de Araújo Mendes Brandão, une pesquisa, capacitação e formalização da cadeia. O objetivo é proporcionar sustentabilidade, qualidade, rastreabilidade e reconhecimento internacional da opala de Pedro II. Entre os estudos em andamento estão:
- Mapeamento detalhado dos garimpos buscando entender melhor a formação das opalas e como se acumularam nas rochas. Com estas informações será possível descobrir novas minas e reavaliar os garimpos abandonados.
- Ensaios químicos, mineralógicos e gemológicos, que vão resultar na certificação de origem, espécie de “DNA da opala”, identificando oficialmente a pedra piauiense no mercado global.<br>
- Pesquisa de reaproveitamento de rejeitos, transformando resíduos da mineração em produtos como argamassas, blocos e insumos agrícolas.<br>

Do garimpo artesanal à produção de alto valor
Um dos processos importantes no trabalho com a pedra opala é a lapidação. Lapidário desde 1987, Juscelino Araújo lembra que a beleza da opala está escondida na pedra bruta e revelá-la exige habilidade. “As cores e o brilho costumam estar no interior da pedra. Basta um ângulo errado para perder tudo. A experiência mostra onde cada joia está.”
De acordo com Araújo, apenas cerca de 10% das reservas conhecidas em Pedro II foram extraídas, o que indica grande potencial futuro. Aproximadamente 300 homens atuam no garimpo e outras 500 pessoas trabalham com a opala, a maioria dedicada ao trabalho artesanal com a pedra preciosa.
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A paleta de cores da opala de Pedro II que inspira designers
A designer Áurea Amélia Brandão, diretora de criação da Opalas Pedro II, explica que para fazer um par de brincos é preciso dividir a mesma pedra, porque cada jogo de cores tem seu próprio movimento.
Segundo ela, a opala piauiense oferece uma paleta vasta de cores. São múltiplos tons de vermelho, verde, azul e lilás, sempre em variações exclusivas. É esse caráter irrepetível que torna a pedra preciosa tão desejada. Outro ponto favorável é a força da opala no mercado internacional. “Eu não preciso convencer ninguém do valor da opala. A pedra é desejada e conhecida. O que falta é o mundo saber que o Piauí também tem essa pedra preciosa", ressalta.

As pedras preciosas de opala estimulam o turismo em Pedro II
O impacto da opala vai além da mineração e da joalheria. Segundo o secretário de Turismo de Pedro II, Valdeci Teixeira de Castro, a descoberta da pedra foi um marco turístico no município. O interesse pela raridade trouxe pesquisadores, colecionadores e compradores. Logo, os visitantes passaram a explorar também as belezas naturais da região. A busca por trilhas, mirantes e cachoeiras, fortaleceram o ecoturismo. “A opala e o ecoturismo formam pilares complementares”, afirma o secretário.
Segundo ele, hotéis, restaurantes e lojas da opala registram aumento significativo nas vendas durante eventos na cidade. "A pedra preciosa tornou-se o grande cartão-postal, impulsionando a visibilidade de Pedro II e abrindo caminho para que o município fosse reconhecido tanto pela joia preciosa quanto por suas belezas naturais", disse.
De acordo com Castro, o setor criativo também cresce com a opala. Novas lojas, ateliês e experiências turísticas ligadas à cadeia mineral têm atraído empreendedores e investidores de fora. "Lojas especializadas continuam crescendo dentro da cidade, mas muitos visitantes vêm exclusivamente para conhecer a cadeia produtiva, adquirir pedras e comercializar peças fora de Pedro II".
Governo do Piauí aposta em qualificação, selo de origem e geoturismo
A Secretaria de Turismo do Piauí (Setur) também reconhece a opala como vetor de desenvolvimento. Para a coordenadora de Políticas Públicas do órgão, Romilla Macêdo, a pedra integra os produtos estratégicos das ações estaduais de desenvolvimento mineral. Embora o processo de extração ainda seja rudimentar, há projetos voltados ao avanço tecnológico e à qualificação da cadeia com objetivo de ampliar o valor agregado da opala transformada em joia.
Macêdo explicou que o estado também trabalha para conquistar um selo de origem para a opala piauiense. "Um passo essencial para ampliar sua exportação e consolidar sua identidade regional. O projeto está em andamento na Investe Piauí, a agência de atração de investimentos do governo do estado do Piauí, e deve fortalecer a profissionalização e a competitividade do setor."
Para apoiar garimpeiros, lapidários e artesãos locais, o governo disse que investe em múltiplas frentes. Entre elas, estão programas de formação técnica para artesãos e ourives, cursos profissionalizantes e o fomento à criação de centros de lapidação e design de joias.
"Eventos e roteiros voltados à visitação geológica têm impulsionado tanto a comercialização da opala quanto o fluxo de turistas interessados em conhecer de perto a história, os garimpos e as paisagens naturais que moldam a identidade de Pedro II", completa.
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