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Presenciamos atualmente um fenômeno particularmente preocupante: a tentativa sistemática de reconfigurar a percepção internacional sobre o Hamas, transformando uma organização reconhecidamente terrorista em uma suposta “força política” legítima. Essa narrativa, endossada até mesmo por alguns representantes de organismos internacionais, não apenas distorce a realidade dos fatos, mas representa um perigoso precedente para a segurança global.
Acompanhando as operações em Gaza, posso afirmar categoricamente: não existe separação ideológica entre o “braço político” e o “braço militar” do Hamas. Essa distinção artificial serve apenas para conferir legitimidade a uma organização que, desde sua fundação, mantém como objetivo declarado a destruição de Israel. Quando observamos as ações concretas do Hamas, vemos uma organização que visa atingir alvos civis, utiliza hospitais como centros de comando, escolas como depósitos de armas e civis como escudos humanos. Essas não são táticas de um movimento político legítimo, mas estratégias deliberadas de uma organização terrorista.
A responsabilidade da comunidade internacional é manter a clareza moral necessária para distinguir entre democracias imperfeitas e regimes terroristas. Somente por meio dessa clareza moral poderemos construir as bases para uma paz genuína
A tentativa de “lavar” a imagem do Hamas por meio de uma linguagem diplomática suavizada não é apenas inadequada – é moralmente inaceitável. Quando representantes internacionais sugerem que devemos ver o Hamas como uma força política mal compreendida, estão efetivamente legitimando décadas de terrorismo, sequestros e execuções sumárias. Essa normalização linguística mina os esforços internacionais de combate ao terrorismo, confunde a opinião pública mundial e incentiva outras organizações terroristas a adotarem estratégias semelhantes de “rebranding”.
Nas ações conduzidas em Gaza, o exército israelense segue rigorosamente os protocolos do direito internacional humanitário. Empregamos armamentos de alta precisão, emitimos avisos prévios à população civil e direcionamos nossa inteligência exclusivamente para alvos militares legítimos. Essa conduta contrasta drasticamente com as táticas do Hamas, que deliberadamente coloca suas instalações militares em áreas civis densamente povoadas. Nossa guerra não é contra o povo palestino, mas contra uma organização que sequestrou sua representação política e transformou Gaza em uma base militar fortificada.
Em tempos de conflito e polarização política, a clareza moral torna-se essencial. Não podemos permitir que o relativismo diplomático obscureça distinções fundamentais entre organizações democráticas que respeitam o direito internacional e grupos terroristas que sistematicamente o violam. O Hamas não é uma força política mal compreendida que merece legitimidade internacional. É uma organização terrorista que utilizou anos de relativa calma para construir uma das mais sofisticadas redes militares subterrâneas do mundo e planejar ataques como o de 7 de outubro.
A comunidade internacional deve resistir à tentação de adotar narrativas convenientes que prometem soluções fáceis para conflitos complexos. Nossa responsabilidade, como profissionais militares, é conduzir operações que neutralizem ameaças terroristas, minimizando danos a civis. Mas a responsabilidade da comunidade internacional é ainda maior: manter a clareza moral necessária para distinguir entre democracias imperfeitas e regimes terroristas. Somente por meio dessa clareza moral poderemos construir as bases para uma paz genuína que beneficie tanto israelenses quanto palestinos que aspiram a viver livres do terror.
Rafael Rozenszajn é o primeiro porta-voz em português das Forças de Defesa de Israel (FDI). Advogado especialista em direito internacional, major da reserva e autor do livro Guerra de Narrativas, está em visita ao Brasil a convite das entidades Hillel RJ e Hillel SP.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos