Papa Francisco durante a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, em Roma, por ocasião do Ano Santo, em 8 de dezembro de 2015. (Foto: Reprodução/YouTube/Centro Televisivo Vaticano)

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No dia 6 de janeiro, Leão XIV fechará a Porta Santa que Francisco abriu para inaugurar o Jubileu da Esperança. O encerramento do Ano Santo ocorre em um contexto de instabilidade global, um cenário contraditório que sublinha a importância da esperança cristã.

Um homem de branco, em uma cadeira de rodas, em silêncio, estava diante da Porta Santa. A fragilidade humana não destoava da grandeza da Basílica de São Pedro; pelo contrário, era a imagem mais eloquente da grande proclamação que se celebrava naquela véspera de Natal: Deus escolheu a fragilidade para nos salvar. Na atmosfera da basílica, a respiração ofegante do Papa Francisco misturava-se ao incenso, ao repicar dos sinos e à pergunta pulsante: qual Papa fechará a Porta?

Naquela noite, que inaugurou o Jubileu da Esperança, criou-se um clima de expectativa que só aumentou nos meses seguintes. A dúvida transformou-se gradualmente em incerteza até que, no Domingo de Páscoa, a aparição de Francisco durante sua última viagem no papamóvel deixou claro que ocorreria uma transição de pontificados em meio ao Jubileu, algo que acontecera apenas duas vezes na história.

Poucas horas depois, chegou a notícia da morte do Papa e, com ela, a inevitável pergunta: quem o sucederá? Uma pergunta que, na realidade, escondia outra, mais inquietante: o que acontecerá agora?

As manchetes giravam em torno da clássica dicotomia entre conservadores e progressistas, uma caricatura do processo mais fascinante e, talvez, mais misterioso que se desenrola a cada eleição do sucessor de Pedro, o Grande. O

maior e mais multicultural conclave da história, composto por 133 cardeais que mal se conheciam, deu sua resposta em menos de 24 horas. Com a rápida eleição do cardeal Prévost, a Igreja enviou uma poderosa mensagem de unidade na diversidade a um mundo marcado por guerras, polarização e divisão, tornando Leão XIV um ícone moral universal. Que líder mundial hoje pode se gabar de tal apoio? A porta da esperança permaneceu aberta.

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No início de seu pontificado, Francisco denunciou “uma terceira guerra mundial fragmentada” e, com crescente veemência, clamou pelo fim da guerra na Ucrânia “martirizada” e na Terra Santa. Infelizmente, apesar das tentativas fugazes de acordos de paz, esses e outros conflitos ao redor do mundo continuaram a se intensificar durante o Jubileu. Será que a esperança não decepciona?

Quando Leão XIV ascendeu ao papado, a instabilidade global já havia atingido níveis alarmantes, e, em seu primeiro discurso, ele não se esquivou dessa realidade: “A paz esteja convosco”, exclamou da Loggia central da Basílica de São Pedro. Uma verdadeira declaração que se tornou um programa para seu governo.

“A paz tem o sopro da eternidade; enquanto o mal é recebido com o grito ‘basta’, a paz é sussurrada ‘para sempre’”, escreveu o Papa em sua primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, revelando sua identidade agostiniana, que o impele a não permanecer na superfície, mas a explorar e expor a profundidade de sua meditação. “A paz, antes de ser um objetivo, é uma presença e um caminho”, disse ele também, alertando para o perigo de sucumbir a uma visão parcial e distorcida do mundo, que nos impede de ver a presença do bem e, assim, nos paralisa.

Leão XIV rebelou-se contra essa “globalização da impotência” e conclamou uma “revolução da reconciliação” nascida da contemplação de Jesus Cristo: “A bondade é desarmante”, refletiu ele. “Talvez seja por isso que Deus se fez criança.” Essa porta permanece aberta.

©2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: La puerta que no cerrará León XIV