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O morango brasileiro vive um novo ciclo de expansão com a chegada da cultivar Fênix, criada pela Embrapa. A variedade dobrou a produção de mudas em dois anos e promete independência das importações.
A Fênix atingiu 5 milhões de mudas produzidas neste ano, ante 2,5 milhões em 2023. A expectativa é ultrapassar 10 milhões em 2026. A cultivar se destaca pelo início precoce da produção, com intervalo curto entre o plantio e a colheita.
Essa característica amplia a janela de colheita para até sete meses, de junho a dezembro, mantendo a oferta constante do morango brasileiro no mercado. Além da precocidade, a Fênix combina atributos valorizados pelo consumidor. O morango brasileiro dessa cultivar tem coloração vermelha intensa, aroma marcante e equilíbrio entre doçura e acidez.
As frutas são grandes, com cerca de 23 gramas, e exibem formato cônico, típico da espécie. “Caiu mesmo no gosto do consumidor. É muito saborosa, com ótimo calibre e fácil de vender”, afirma o pesquisador Sandro Bonow, da Embrapa Clima Temperado.
Morango brasileiro Fênix tem coloração vermelha intensa, aroma marcante e equilíbrio entre doçura e acidez.
O viveirista Moacir Baldissarelli explica que os morangos Fênix possuem atributos superiores a variedades importadas. "As frutas apresentam boa firmeza, com maior resistência ao transporte e ótima durabilidade pós-colheita, garantindo mais tempo de prateleira. Um morango de muda vinda de fora não possui todas essas características", compara.
Variedade de morango brasileiro pode render 1,2 quilo por planta
O morango brasileiro da cultivar Fênix também é indicado para a indústria de frutas congeladas, sem perder sabor ou cor. O rendimento é expressivo. Em campo aberto, pode atingir 1,2 quilo por planta, dependendo do manejo.
Em sistema semi-hidropônico, alcança 900 gramas por planta. O plantio, feito entre março e abril, rende frutos até o fim do ano. Segundo Bonow, a Fênix surgiu para preencher uma lacuna. “A Embrapa veio contribuir para mudar esse cenário disponibilizando uma cultivar com atributos de qualidade demandados pelo mercado brasileiro”, afirma.

De acordo com a Embrapa, o número de viveiristas licenciados para multiplicar a variedade dobrou — subiu de 18 em 2023 para 36 em 2025. O programa de melhoramento da empresa recuperou pesquisas iniciadas nas décadas de 1960 e 1980.
A Fênix é o primeiro resultado comercial dessa nova fase, testada em diversas regiões do país. Neste ano, o Ministério da Agricultura aprovou seu plantio também em Brazlândia, no Centro-Oeste.
Avanço da cultivar Fênix ganha interesse de empresários europeus
Durante décadas, o morango brasileiro dependia quase totalmente de cultivares estrangeiras. Cerca de 98% das frutas consumidas no país vinham de variedades americanas, com mudas importadas de Chile, Argentina e Espanha. Essas transações, cotadas em dólar, encareciam a produção e limitavam o acesso de pequenos produtores.
A Fênix inverte essa lógica. As mudas nacionais têm custo mais baixo e chegam no momento ideal de plantio em cada região produtora. O morango brasileiro passa, assim, a ter mais autonomia e previsibilidade de safra.

De acordo com o pesquisador Luís Eduardo Antunes, a cultivar reforça a soberania nacional. “A combinação entre qualidade da fruta, precocidade e resiliência faz da Fênix uma aliada importante para tornar o país soberano na produção de mudas”, afirma.
Antunes estima que a produção possa alcançar 10 milhões de mudas em 2026. O morango brasileiro ainda importa cerca de 70 milhões de mudas por ano. No entanto, o avanço da Fênix já atrai o interesse de empresários europeus, que veem na genética tropical uma oportunidade de adaptação ao clima mediterrâneo.
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