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Na recente conferência climática de Belém (COP30), o presidente do Grupo Africano de Negociadores, o tanzaniano Richard Muyungi, expressou de forma concisa e enfática a posição geral do continente sobre a agenda da “transição energética” baseada no abandono progressivo dos combustíveis fósseis. Em suas palavras, é “patético” fazer tal proposição aos africanos, pois “A nossa transição é da lenha e do carvão vegetal para a eletricidade” (Climate Home News, 02/12/2025).
A rigor, mais que patético, é crueldade pretender que a África abandone a plena exploração dos seus recursos energéticos, em função de uma agenda cada vez mais desacreditada, como a da “descarbonização” da economia. Afinal, vive no continente grande parte dos habitantes do planeta que não dispõem de eletricidade e que dependem de lenha, carvão vegetal e esterco para cozinhar, combustíveis poluentes que causam de 600 a 700 mil mortes por ano por doenças cardiorrespiratórias na África – muito mais do que os catastrofistas costumam atribuir aos mal denominados “extremos climáticos”.
O manifesto ressalta o grande potencial de exploração e produção de petróleo e gás natural no continente, prevendo uma produção combinada de 11,4 milhões de barris de óleo equivalente por dia, em 2026
Tal posição foi apresentada de forma ainda mais contundente na cúpula do G-20 em Joanesburgo, África do Sul (22 e 23 de novembro). Na oportunidade, a Câmara Africana de Energia (CAE) divulgou uma declaração com o simbólico título, “Deixem os combustíveis fósseis africanos energizarem o nosso futuro industrial”, a qual pede uma reorientação fundamental da política energética global, permitindo que os combustíveis fósseis africanos sejam colocados “no centro da segurança energética, do crescimento industrial e do combate à pobreza”.
O manifesto ressalta o grande potencial de exploração e produção de petróleo e gás natural no continente, prevendo uma produção combinada de 11,4 milhões de barris de óleo equivalente por dia, em 2026, com perspectiva de atingir 13,6 milhões até 2030 (para comparação, a produção brasileira é da ordem de 5 milhões).
E afirma: “A exploração deve ser acelerada, pois continua sendo a pedra angular do futuro energético da África. Novos investimentos em exploração e produção são essenciais para impulsionar o crescimento industrial, e o gás natural deve servir como a espinha dorsal dessa transformação. O G-20 deve defender o financiamento para a exploração, em vez de penalizá-la, pois negligenciar o gás condena milhões à pobreza energética contínua. Cerca de 600 milhões de africanos atualmente não têm eletricidade, enquanto 900 milhões não têm acesso a soluções limpas para cozinhar. O gás não é apenas um combustível de transição – é uma tábua de salvação para a industrialização, o acesso à energia doméstica e o desenvolvimento econômico. O investimento estratégico em gás pode liberar energia para cidades, fábricas e residências, conectando o continente a um futuro mais limpo e produtivo.”
Uma farpa especial é dirigida contra a Agência Internacional de Energia, até há pouco, uma das principais promotoras da “descarbonização” da matriz energética mundial: “A Agência Internacional de Energia deve redefinir suas projeções. As previsões atuais subestimam os recursos de hidrocarbonetos da África e ignoram o papel que o gás pode desempenhar no fomento do acesso à energia, na criação de empregos e na capacidade industrial. A persistente estigmatização dos combustíveis fósseis deve acabar. A retórica da transição por si só é insuficiente: ações significativas exigem financiamento alinhado, políticas de apoio e respeito genuíno pelas prioridades energéticas da África.”
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Os dois parágrafos finais apontam categoricamente para a estrutura de interesses que sustenta a indústria do catastrofismo climático: “Os governos africanos estão prontos. Países de Angola ao Egito, da Nigéria ao Senegal e da Líbia a Moçambique, estão implementando reformas para atrair capitais por meio de rodadas de licenciamento, condições fiscais estáveis e regulamentação pragmática. Estamos preparados para oferecer ambientes favoráveis: desenvolvimento de conteúdo local, infraestrutura transfronteiriça e parcerias estratégicas para apoiar o crescimento a longo prazo. Mas precisamos de capital; precisamos de tecnologia; e precisamos de um sistema financeiro global que apoie o desenvolvimento, e não que o puna. Rejeitamos os apelos para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis sob o pretexto de virtude climática, o que apenas ameaça a prosperidade da África e mantém milhões de pessoas presas na pobreza energética.
Em vez disso, exigimos um futuro energético justo, movido a recursos africanos, construído por trabalhadores africanos e que proporcione benefícios tangíveis às comunidades. Apelamos ao G-20 para que faça do desenvolvimento de combustíveis fósseis um pilar central da sua política para a África, desbloqueando o financiamento, eliminando barreiras ideológicas, promovendo a exploração e investindo na infraestrutura de gás que irá energizar lares, indústrias e economias em todo o continente [grifos nossos].”
Em síntese: na Ásia, o consumo de petróleo, gás natural e carvão só cresce; os EUA de Donald Trump já abandonaram a agenda descarbonizadora e a África vai no mesmo caminho. Parece que o bonde da “descarbonização” está ficando sem passageiros.
