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Conforme o esperado, o Banco Central (Bacen) manteve a Selic meta em 15% a.a. O que não estava previsto era o tom da Ata do Copom. Para muita gente do mercado financeiro, havia a expectativa de que o Bacen sinalizasse cortes na taxa básica de juros, o que não ocorreu. Pelo contrário, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que “a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.
O motivo pelo qual muitos analistas apostavam numa suavização do tom da Ata do Copom foi o arrefecimento da inflação corrente. Em abril de 2025, a inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, estava em 5,53%, enquanto hoje a taxa se encontra em 4,68%.
Apesar da desaceleração inflacionária, há pontos a serem considerados para justificar a decisão do Banco Central. Primeiro, o IPCA acumulado em 12 meses continua bem acima da meta de 3%. Além disso, o arrefecimento da inflação é recente, de modo que o Bacen não pode agir precipitadamente, jogando fora todo o trabalho de meses de aperto monetário para estancar o ritmo de elevação de preços.
Nesse caso, agir apressadamente poderia ter colocado em risco toda a credibilidade do mercado na autoridade monetária, ainda mais quando parte dos analistas enxerga a nova diretoria do Copom com desconfiança em relação à capacidade de ceder às pressões políticas do governo Lula para reduzir a Selic. A confiança na condução da política monetária é um elemento tão importante quanto a própria alteração da taxa básica de juros no controle inflacionário.
A segunda razão para a manutenção da Selic neste patamar é o fato de as expectativas inflacionárias ainda se encontrarem acima do teto da meta. É verdade que, desde abril de 2025, as projeções do IPCA recuaram de 5,65% para 4,55%. Entretanto, essa projeção continua acima do centro e do teto da meta, respectivamente em 3% e 4,5%.
As expectativas inflacionárias são um fator importante na decisão de juros. Isso porque, se os empresários apostarem em mais inflação no futuro, eles se antecipam e reajustam os preços no presente, a fim de repassar as elevações de custos para os consumidores. Não há nada de errado nisso.
Os empresários apenas agem racionalmente perante a possibilidade de inflação futura. Para evitar esse comportamento, o Banco Central deve conduzir a política monetária não apenas baseado na inflação corrente, mas, sobretudo, ancorando as expectativas inflacionárias.
Por fim, e não menos importante, a Selic permaneceu em 15% a.a. para compensar a política fiscal expansionista do governo. Já ficou claro que o arcabouço fiscal não deu conta do recado e que o Planalto não está disposto a cortar gastos, ainda mais às vésperas das eleições. Pelo contrário, o presidente Lula ligou a máquina do populismo, com ampliação de programas sociais e créditos subsidiados — tudo pela sua reeleição.
No entanto, o populismo eleitoral cobra seu preço. A demanda agregada sobe acima da capacidade de oferta, gerando, inevitavelmente, aumento de preços.
Nesse cenário, o Banco Central não tem outra escolha a não ser colocar a política monetária para trabalhar em dobro, compensando a inflação causada pelo expansionismo fiscal do governo federal.
Evidentemente, juros elevados reduzem a inflação no curto prazo, mas geram efeitos colaterais, como encarecimento do custo de capital, elevação da inadimplência e redução da atividade econômica, com impactos negativos sobre a renda e o emprego.
Para controlar a inflação sem gerar esses danos, não há outra saída senão o ajuste fiscal, medida adotada com sucesso pelo presidente da Argentina, Javier Milei.
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Com a redução de despesas estatais, há uma diminuição da demanda agregada pelo componente de gastos do governo, aliviando a pressão inflacionária
Além disso, a redução de gastos do governo aumenta a poupança nacional (renda menos consumo), sobrando mais recursos para investimentos em tecnologia, infraestrutura e qualificação da mão de obra, essenciais para aumentar a capacidade de oferta (produção) do país. Com a elevação da oferta agregada, finalmente poderíamos ter estímulos de demanda (corte de juros e impostos) sem gerar pressões inflacionárias.
Em resumo, os juros são o antitérmico de curto prazo para reduzir a inflação, mas a austeridade fiscal é o reforço de imunidade de longo prazo contra a patologia inflacionária.
