‘Bola está com Ocidente’, diz Putin sobre o fim da guerra
Presidente russo nega responsabilidade pelo conflito e comemora avanços territoriais na Ucrânia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira (19) que o fim da guerra na Ucrânia depende de Kiev e de seus aliados ocidentais. Ele voltou a negar a responsabilidade russa pela origem do conflito e comemorou os recentes avanços territoriais das tropas de Moscou em território ucraniano.
As declarações foram feitas durante a tradicional coletiva anual do líder russo, em Moscou, em meio a esforços diplomáticos de Estados Unidos e países europeus para buscar uma saída para a guerra, iniciada em fevereiro de 2022. A definição sobre a questão territorial segue sem solução.
“Nossas tropas avançam em toda a linha de contato” e “estou certo de que antes do fim do ano veremos novos êxitos”, disse Putin, em evento transmitido pela televisão estatal. Segundo estimativas, a Rússia controla atualmente cerca de 19% do território da Ucrânia, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.
Putin afirmou que “a bola está completamente no campo” dos “rivais ocidentais”, citando o governo de Kiev e seus apoiadores europeus. “Não nos consideramos responsáveis pela morte de pessoas, porque não fomos nós que começamos esta guerra”, acrescentou. O presidente russo declarou ainda que poderá ordenar a suspensão de ataques com mísseis de longo alcance e drones no dia de eventuais eleições presidenciais na Ucrânia, defendidas por Moscou e Washington.
Durante a coletiva, Putin comentou a decisão da União Europeia de não utilizar ativos russos congelados para financiar um empréstimo de 90 bilhões de euros à Ucrânia. Mais de 200 bilhões de euros do Banco Central da Rússia estão bloqueados na instituição financeira Euroclear, com sede em Bruxelas. Segundo ele, o uso desses recursos seria “um assalto” e poderia ter “consequências graves”.
Na mesma sexta-feira, em Varsóvia, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que, caso seu país seja derrotado, a Rússia atacará a Polônia “de maneira inevitável”. Putin rebateu dizendo que Moscou não atacará outros países “se for tratada com respeito” e se seus interesses forem considerados.
A questão territorial permanece como um dos principais impasses nas negociações. Em novembro, veio a público uma proposta elaborada por Washington, sem a participação de Kiev ou de países europeus, que previa a retirada ucraniana da região de Donetsk e o reconhecimento, pelos Estados Unidos, de áreas como Crimeia, Donetsk e Luhansk como russas. O plano foi posteriormente modificado, mas o tema segue como ponto de fricção.
Em setembro de 2022, a Rússia anunciou a anexação das regiões de Zaporizhzhia, Donetsk, Luhansk e Kherson, apesar de não controlar integralmente esses territórios.
A guerra também é motivo de preocupação interna na Rússia. Segundo pesquisa do instituto independente Levada, divulgada neste mês, 21% dos entrevistados gostariam de perguntar a Putin quando terminará a chamada “operação militar especial”. Outros 16% querem saber quando haverá melhora nas condições de vida, em meio à inflação de 6,6% registrada em novembro e às sanções econômicas impostas pelo Ocidente.
Apesar de a economia russa ter resistido às restrições internacionais, analistas apontam dificuldades como escassez de mão de obra e crédito bancário caro. O Banco Central da Rússia reduziu recentemente a taxa básica de juros em meio ponto, para 16%. Após dois anos de crescimento impulsionado pelo esforço de guerra, a expectativa oficial é de desaceleração, com projeção de expansão do PIB entre 0,5% e 1% neste ano, abaixo dos índices registrados em 2023 e 2024.
*Com informações da AFP
