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Jair Bolsonaro está preso. A principal estratégia da direita é tentar aprovar a anistia, mas ela não vai passar: Davi Alcolumbre, presidente do Senado, não irá pautá-la e, mesmo se a anistia passasse, seria declarada inconstitucional pelo STF, que até já avisou com antecipação que a derrubaria.
E, caso a anistia fosse aprovada e não acabasse derrubada, o processo do suposto golpe desgastou a figura de Bolsonaro aos olhares de muitos. Mesmo se ele fosse candidato em 2026, ele já não tem condições de saúde para fazer uma boa campanha eleitoral viajando por esse país enorme, com uma agenda cheia e muita pressão de todos os lados. E, mesmo que se recuperasse fisicamente e pudesse fazer uma boa campanha, suas chances de ganhar seriam baixíssimas com essa composição do STF, do TSE e do STJ, e levando em conta as intervenções de 2022.
Por isso, trabalha-se com a estratégia da “dosimetria”: uma redução das penas pela qual Bolsonaro teria uma condenação menor, iria para a prisão domiciliar mais cedo, mas continuaria sem poder se candidatar. Outro teria de representar a direita.
Em 2018, Bolsonaro ganhou cedo demais. Venceu as eleições presidenciais, mas não conquistou o poder
Mas sejamos realistas: se alguém da direita vencesse em 2026, o sistema todo seria contrário; a mídia é contrária, até partes do agro e da Faria Lima são contrários, e especialmente o Judiciário é contrário. Entre 2019 e 2020, o STF tomou 123 decisões contra o Executivo; alguém acha que seria diferente com um próximo governo de direita? E, mesmo que este consórcio deixasse um direitista governar, ele receberia de herança um péssimo legado econômico.
Em 2018, Bolsonaro ganhou cedo demais. Venceu as eleições presidenciais, mas não conquistou o poder. Foi como colocar um homem com um canhão além da linha inimiga, cerceado de inimigos com pistolinhas. O canhão é mais forte, mas no longo prazo os milhões com pistolinhas prevalecem. Não deixaram Bolsonaro governar, tiraram-no de lá e o fizeram prisioneiro. O mínimo que pode acontecer em 2026 é a mesma coisa.
Qualquer coisa que a direita faça foi, é e será bloqueada. E não há a quem recorrer. Não é justo, não é o ideal, mas é a realidade; aceitem, que dói menos. Na ciência política se descreve, não se torce; tenta-se prever, não se tenta fazer acontecer. Não se trata do que queremos, do que deveria ser, do espírito de torcida dos militantes, da “vontade de potência”, do positive vibe. Na militância política os líderes transmitem otimismo, dão palavras de ordem e inflamam os subordinados; eles, por sua vez, se empolgam no coletivismo das massas, se iludem e, quando as coisas não vão como queriam, se desiludem. Um clássico!
Durante a ditadura militar, a esquerda era reprimida e focou no longo prazo, no ensino, na cultura, no jornalismo etc. Em 20 a 30 anos a mentalidade marxista virou senso comum. E é exatamente por isso que agora estamos como estamos. Da mesma forma, a única coisa que se pode fazer agora é focar no longo prazo. Não há como colher frutos sem semear antes. Um prédio se constrói a partir das fundações. A direita não tinha fundações e desmoronou.
A única coisa que a direita pode fazer agora é focar no longo prazo. Não há como colher frutos sem semear antes
Agora, é a hora de focar na formação de base, com livros, documentários, filmes, cultura; formar juízes, professores, economistas, historiadores, pedagogos, cientistas políticos, diretores de filmes, jornalistas etc. E não de forma facciosa, militante e desonesta como fazem os extremistas, mas de forma honesta, justa e científica; do contrário, os resultados serão frágeis.
No longo prazo as coisas serão diferentes; a população está envelhecendo e, ao envelhecer, tende a ser mais conservadora. Também a geração mais jovem está se tornando mais religiosa, e agora há várias iniciativas na área da opinião pública: Gazeta do Povo, Brasil Paralelo, revista Oeste, Senso Incomum, PHVox, Fio Diário, Bradock, Timeline, Mises Brasil etc. No longo prazo, as ideias da população vão mudar.
Keynes dizia que “no longo prazo, estaremos todos mortos”. Parafraseando o economista de Cambridge, no Brasil “no curto prazo, estamos todos mortos”. Se a direita focar no curto prazo, não terá nem o curto nem o longo prazo. Mas, se focar no longo prazo, talvez tenha sucesso.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
