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Os candidatos à presidência do Chile foram às urnas neste domingo (16), em meio a apelos do campo direitista para uma união contra a única candidata da esquerda, a comunista Jeannette Jara, que chega como favorita, mas sem apoio necessário para vencer no primeiro turno.
Jara deve enfrentar no segundo turno, em 14 de dezembro, quem ficar em segundo lugar no pleito eleitoral deste domingo, em uma disputa acirrada, segundo as pesquisas, entre os direitistas José Antonio Kast e Johannes Kaiser.
O primeiro a votar foi Kaiser, líder do recém-criado Partido Nacional Libertário e considerado o fenômeno destas eleições, já que até poucas semanas atrás não aparecia como presidenciável.

“Tenho meu apoio comprometido a toda candidatura que esteja em oposição à continuidade deste governo muito ruim”, afirmou Kaiser em um bairro central da capital, após ter ganhado destaque com seu discurso direcionado à segurança e à migração.
Mais tarde, nos arredores da capital, Kast, advogado católico e pai de nove filhos, declarou que, se não ficar em segundo lugar, dará seu apoio “à lista diferente da do governo”.
“Os chilenos têm muito claro que querem que haja alternância no governo e esperam unidade”, acrescentou Kast, candidato derrotado pelo atual presidente Gabriel Boric, em 2021.
Candidata de centro-direita não revelou quem apoiará caso não vá ao segundo turno
As pesquisas indicam que a candidata comunista tem poucas chances de chegar a La Moneda (sede presidencial) se todo o campo da direita se unir e somar os apoios da direita "tradicional", cuja candidata, Evelyn Matthei, por enquanto, tem evitado revelar a quem apoiará caso não chegue ao segundo turno.
“Os chilenos vão votar em alguém que, de fato, não esteja tão politizado, mas que possa levar nosso país adiante”, afirmou Matthei, que foi a favorita durante meses, mas caiu para o quarto lugar.

A coalizão de centro-direita Chile Vamos, que a ex-prefeita representa, está dividida entre somar-se às forças que ela considera radicais e não fazer campanha para nenhum candidato no segundo turno.
Desde 2006, o poder vem se alternando entre esquerda e direita e nenhum presidente entregou a faixa presidencial a um sucessor do mesmo campo político.
A última a votar foi a própria Jara, que representa a coalizão progressista mais ampla da história (dos democrata-cristãos ao Partido Comunista).
“O ódio, a crítica ao outro e a exasperação do medo não servem para governar um país. Para governar um país é preciso ter capacidade de diálogo e empatia com aqueles que vivem todos os dias pensando se vão conseguir chegar ao fim do mês”, declarou a ex-ministra, que é a primeira militante comunista a liderar toda a esquerda e a centro-esquerda em uma eleição presidencial.
A insegurança no centro do debate eleitoral
A jornada de votação transcorre com normalidade, embora haja longas filas em diversas partes do país devido ao fato de que, pela primeira vez, o voto é obrigatório em uma eleição presidencial, com mais de 15,7 milhões de pessoas convocadas às urnas, entre elas mais de 800 mil estrangeiros.
A campanha foi marcada pelo aumento da criminalidade e da percepção de insegurança, apesar de o Chile ser um dos países mais seguros das Américas, com uma taxa de homicídios de 6 por 100 mil habitantes em 2024, segundo as estimativas oficiais.

À Gazeta do Povo, o estudante chileno Alan Camhi afirmou que sua maior preocupação é relacionada "a segurança e a economia".
"Por um lado, no tema da segurança, a taxa de homicídios e de crimes vem aumentando. Há criminosos com mais de 15 anotações que seguem soltos e continuam cometendo delitos. Por outro lado, as pessoas não respeitam os policiais".
"No campo econômico, passamos de ser o país com maior crescimento da região a crescer apenas 2% ao ano. O investimento está caindo. As coisas estão mais caras. Queremos voltar a ser o país de antes", completou Camhi.
“Tomara que a gente escolha o presidente certo e que este país melhore, porque a cada dia está mais perigoso”, disse à EFE a estudante Sofía, de 20 anos, enquanto esperava para votar no icônico Estádio Nacional de Santiago, em Ñuñoa.
A aposentada María Isabel Abierto, também moradora de Ñuñoa, concordou que “o Chile está mais inseguro”, mas afirmou que se trata de uma situação global “porque o mundo está muito conturbado”: “Os extremos não são bons”, acrescentou.