
Ouça este conteúdo
Por definição, as relações internacionais são marcadas por diferentes formas de dominação: militar, econômica, cultural, tecnológica etc. Mas, nas últimas décadas, um novo mecanismo de hegemonia vem ganhando força: o congelamento do poder global por meio da agenda ambiental – a tentativa dos países ricos de preservar sua posição dominante impondo regras e restrições que impedem o avanço das nações em desenvolvimento, com a justificativa de proteger o planeta.
O congelamento do poder é isso: nações que já detêm vantagens estruturais buscam estabilizar o status quo internacional, bloqueando a ascensão de novos competidores e estabelecendo metas globais que, sob aparência de justiça climática, limitam o crescimento industrial das nações em desenvolvimento. O discurso é de sustentabilidade; o efeito, a dependência e a estagnação.
É uma forma sutil, mas muito eficaz, de manter o Brasil em posição subordinada no sistema global de produção e consumo. Da mesma maneira como, no passado, o colonialismo impôs barreiras comerciais para garantir o domínio europeu, o colonialismo contemporâneo se manifesta na forma de normas regulatórias, restrições ambientais e – igualmente importante – narrativas morais que favorecem os países ricos e punem os pobres, em uma estratégia de contenção geopolítica e perpetuação da desigualdade.
Disfarçado de bom-mocismo, a agenda ambiental se tornou uma ferramenta de guerra comercial disfarçada, transferindo o ônus da crise climática para os países em desenvolvimento. Por exemplo, os Estados Unidos e a União Europeia, responsáveis por mais de 60% das emissões de gás carbônico, impõem tratados que limitam o crescimento industrial e agrícola de países como o Brasil. Eles compram créditos de emissão baratos de florestas preservadas em territórios pobres, enriquecendo enquanto travam o potencial econômico alheio.
Metas de neutralidade de carbono, transição energética e restrições ao uso de combustíveis fósseis são apresentadas como obrigações universais. Mas essa universalidade é ilusória. Países que já se industrializaram são ricos hoje porque já emitiram demais no passado: construíram seu bem-estar sobre séculos de uso intensivo de carvão, petróleo e gás. Mas, agora, eles pedem que os países que ainda lutam contra a pobreza abram mão de seu desenvolvimento.
Essa inversão moral (os maiores responsáveis históricos pela degradação ambiental se transformam em juízes do comportamento dos outros) está no cerne da questão ambiental hoje. Ela se manifesta, por exemplo, na forma de barreiras tarifárias que penalizam produtos vindos de países de matriz energética considerada “suja”. Ou nos critérios de financiamento internacional, que dificultam o acesso de países emergentes a crédito se suas políticas não se alinharem às diretrizes dos países ricos.
A retórica ambiental se tornou um instrumento de poder: ela serve para reforçar desigualdades e legitimar um sistema de dependência econômica travestido de preocupação planetária. Por trás do discurso humanitário, há frequentemente interesses estratégicos e econômicos, como o controle indireto sobre áreas ricas em biodiversidade, minerais e recursos hídricos.
A COP30 representa um momento pivotal, já que as negociações climáticas em curso podem representar armadilhas para o desenvolvimento nacional
O branco europeu volta à floresta, agora vestido de verde e dizendo ao índio como ele deve viver – sem estrada, sem energia elétrica, sem geladeira, como atração de um museu vivo para o turismo de luxo europeu.
Isso fica explícito na atuação das ONGs estrangeiras na Amazônia. Embora algumas desenvolvam projetos legítimos de preservação e pesquisa, a maioria funciona como extensão informal da política externa de seus países de origem.
Essas ONGs operam com financiamento pesado de governos e fundações sediadas na Europa e nos Estados Unidos, impondo seus interesses sobre comunidades locais, ou mesmo interferindo em decisões de soberania nacional. Ao travar projetos de infraestrutura, mineração e agricultura sustentável sob o pretexto de proteger a floresta, elas impedem que o Brasil desenvolva seu próprio modelo de progresso ambiental, mantendo o país na posição de “jardim tropical” a serviço do mundo rico.
Sob o verniz da solidariedade ecológica, essas organizações difamam o agronegócio brasileiro no exterior, ignorando seus avanços tecnológicos e sua produtividade crescente, com menor impacto ambiental. Outras produzem relatórios alarmistas e enviesados, usados por governos estrangeiros como justificativa para sanções e boicotes comerciais. Essas ONGs são o Cavalo de Troia do congelamento do poder.
As ONGs funcionam como verdadeiros exércitos de ocupação. Organizações como WWF e Greenpeace recebem centenas de milhões de dólares anuais de bilionários como George Soros, de fundações como a Rockefeller e do governo norueguês – o mesmo que explora petróleo no Ártico, enquanto condena nossa pecuária. Esse dinheiro não cai do céu: ele impõe narrativas, compra e treina militantes e financia ações judiciais que paralisam obras de infraestrutura essenciais para o país.
Fazem isso operando com uma impunidade digna de Estados soberanos, sem prestar contas a ninguém no Brasil. Possuem frota própria de aviões, helicópteros e drones que sobrevoam territórios indígenas sem autorização do Congresso, coletando informações seletivas que municiam as campanhas internacionais de boicote à soja e à carne brasileira.
Pior: transformam indígenas em reféns de sua agenda. Pagam lideranças para posar para fotos usando cocar enquanto assinam manifestos contra hidrelétricas que trariam luz e empregos às suas comunidades. É o colonialismo 2.0: o branco europeu volta à floresta, agora vestido de verde e dizendo ao índio como ele deve viver – sem estrada, sem energia elétrica, sem geladeira, como atração de um museu vivo para o turismo de luxo europeu.
Grande parte da pressão internacional sobre o Brasil se concentra na questão amazônica. Governos europeus e organizações não governamentais frequentemente tratam o desmatamento como se fosse uma falha moral do país, ignorando que o território amazônico é habitado, produtivo e que a equação do desenvolvimento sustentável precisa incluir o bem-estar da população local. O subtexto dessas críticas é claro: o Brasil deve conservar, mas não explorar. A floresta é vista como patrimônio global — mas o ônus da preservação recai apenas sobre os brasileiros.
Nesse contexto, ainda que esvaziada, a COP30 representa um momento pivotal, já que as negociações climáticas em curso podem representar armadilhas para o desenvolvimento nacional: metas de descarbonização impostas sem as contrapartidas financeiras adequadas, mercados de carbono que só beneficiam os países ricos e restrições à agricultura e mineração que interessam mais às ONGs estrangeiras que às comunidades locais.
