O acesso à água tratada é um dos pilares da universalização do saneamento, ainda distante em grande parte do país.
Curitiba é a única capital brasileira classificada no nível máximo. (Foto: Jonathan Campos/Arquivo Gazeta do Povo)

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A universalização do saneamento ainda está longe de ser uma realidade para a maioria das cidades brasileiras. Um levantamento nacional divulgado nesta semana mostra que apenas 63 municípios do país, o equivalente a 2,54% dos avaliados, conseguiram alcançar o patamar mais alto de atendimento em água, esgoto e resíduos sólidos. No cenário nacional marcado por desigualdades, Curitiba surge como exceção: é a única capital brasileira classificada no nível máximo do ranking.

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O dado faz parte do ranking Abes da Universalização do Saneamento 2025, elaborado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes). O estudo analisou informações de 2.483 municípios, que concentram cerca de 80% da população brasileira. Ainda assim, a maior parte das cidades aparece em estágios intermediários ou iniciais, o que ajuda a explicar por que a infraestrutura básica segue sendo um dos principais gargalos do desenvolvimento urbano no país.

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No recorte regional, o Paraná aparece como referência positiva. Além de Curitiba, também figuram na faixa mais alta do ranking os municípios de Pinhais, na Região Metropolitana, e Maringá, no noroeste do estado. Ao todo, apenas quatro cidades do Sul alcançaram essa classificação máxima, sendo três paranaenses.

O levantamento considera indicadores ligados ao acesso à água, coleta e tratamento de esgoto e manejo de resíduos sólidos. Para entrar no ranking, os municípios precisam apresentar dados completos nessas áreas, o que ajuda a explicar por que mais da metade das cidades brasileiras ficou de fora da edição deste ano.

Mesmo entre os municípios avaliados, os desafios persistem. O tratamento de esgoto aparece como o principal entrave à universalização do saneamento, especialmente em cidades de pequeno e médio porte. Em muitos casos, a coleta existe, mas o esgoto ainda não recebe tratamento adequado, o que compromete os resultados finais.

Outro ponto observado pelo estudo é a importância do planejamento. Municípios que contam com plano estruturado de saneamento tendem a apresentar desempenho melhor e mais consistente ao longo do tempo. Entre aqueles que alcançaram a universalização do saneamento, mais de 80% possuem esse tipo de planejamento, proporção bem superior à observada nas cidades que ainda estão nos primeiros estágios.

Para o presidente da Abes, Marcel Costa Sanches, o ranking deixa um recado direto para gestores e para a população. “Saneamento não é um assunto distante ou técnico. Ele aparece quando a criança deixa de ir ao hospital, quando o posto de saúde atende menos casos evitáveis e quando a cidade funciona melhor”, afirma. Os números reforçam esse efeito: em municípios que alcançaram a universalização do saneamento, as internações por doenças ligadas à falta de infraestrutura básica chegam a ser quase três vezes menores do que naqueles que ainda dão os primeiros passos.

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