Governo Lula quer meter a mão em R$ 8,5 bilhões “esquecidos”
Alexandre Garcia comenta sobre os R$ 8,5 bilhões “esquecidos” em bancos que o governo Lula quer para aumentar a arrecadação. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil.)

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A relação entre dinheiro e felicidade é uma questão central que transcendeu a filosofia para se tornar um tema estratégico na gestão de pessoas e na estratégia organizacional. A resposta é complexa: o dinheiro é fundamental, mas não é o fator decisivo, especialmente quando as necessidades básicas estão satisfeitas.

O estudo que realizamos com empresas e funcionários brasileiros, denominado O Conceito de Felicidade como Indicador Aplicado às Empresas no Brasil, propõe o Índice de Felicidade Organizacional (IFO) e lança luzes sobre essa questão ao analisar o bem-estar dos trabalhadores brasileiros. Os achados da nossa pesquisa reforçam uma perspectiva consolidada: a satisfação financeira é um pilar crucial, mas coexiste com outros fatores de peso igual ou superior.

O dinheiro é o oxigênio que permite a sobrevivência e a segurança, mas o propósito, o apoio social e o crescimento pessoal são o coração e a alma de uma vida e de uma carreira verdadeiramente felizes

No âmbito global, pesquisas de especialistas como Kahneman e Deaton já haviam estabelecido um limite de saturação para a renda, sugerindo que ganhos adicionais melhoram a avaliação geral da vida, mas não necessariamente o bem-estar emocional cotidiano, uma vez atingido um patamar de segurança. O dinheiro, portanto, compra a segurança e a estabilidade que removem fontes significativas de infelicidade e estresse, sendo o alicerce que permite a construção de uma vida plena.

No entanto, o indicador IFO, que criamos, ao ponderar as variáveis que compõem a felicidade no trabalho, demonstra que a equação vai muito além do contracheque. A variável “Satisfação Financeira” recebeu o peso 3 (numa ordem que vai de 1 a 5) no índice, o que a coloca em um patamar de alta relevância. Contudo, ela é superada em peso pela variável “Propósito no Trabalho” e pelo “Apoio Social”, ambas com peso 4.

Essa hierarquia de fatores é reveladora. Ela sugere que, para o trabalhador brasileiro, o significado do que se faz e a qualidade das relações interpessoais no ambiente de trabalho são preditores mais fortes de felicidade do que a remuneração em si, uma vez que esta seja considerada justa e suficiente. O propósito confere sentido à jornada diária, transformando o trabalho em fonte de realização pessoal. O apoio social, por sua vez, atende à necessidade humana fundamental de pertencimento e conexão, sendo um poderoso amortecedor contra o estresse e a solidez.

Outros fatores intrínsecos e eudaimônicos, como “Aprendizado e Desenvolvimento” (peso 4) e “Saúde Física e Mental” (peso 3), também se destacam. Isso indica que o trabalhador busca ativamente o crescimento, a aquisição de novas competências e um ambiente que valorize seu bem-estar integral. Empresas que investem em desenvolvimento contínuo e em políticas de suporte à saúde mental demonstram um compromisso que transcende a transação financeira.

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A felicidade no trabalho, portanto, não é um luxo, mas um ativo estratégico mensurável. O estudo do IFO sugere que as empresas que adotam uma visão holística do bem-estar colhem frutos em termos de produtividade e engajamento. Trabalhadores felizes são mais produtivos, mais inovadores e menos propensos à rotatividade e ao absenteísmo.

Em conclusão, a resposta à pergunta “Dinheiro traz felicidade na vida e no trabalho?” é um enfático “sim, mas não sozinho”. O dinheiro é o oxigênio que permite a sobrevivência e a segurança, mas o propósito, o apoio social e o crescimento pessoal são o coração e a alma de uma vida e de uma carreira verdadeiramente felizes. As organizações que compreendem essa complexidade e investem em uma gestão que equilibra a satisfação financeira com o bem-estar eudaimônico estão, na verdade, investindo em sua própria sustentabilidade e sucesso a longo prazo.

Lucas Gabriel Slompo é estudante de Ciências Econômicas e bolsista do Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC 2024-2025); Eduardo Siqueira Seifert é estudantes de Administração e voluntário do PAIC 2024-2025; Henrique Diedrich Baitala é estudante de Ciências Econômicas e voluntária do PAIC 2024-2025; Hugo Eduardo Meza Pinto, doutor em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo, é professor da FAE Centro Universitário.