
Ouça este conteúdo
Em outubro de 2008, quatro adolescentes foram mantidos em cárcere privado em um residencial popular em Santo André, São Paulo. Depois de mais de 100 horas de sequestro – e uma sequência bastante questionável de atitudes da polícia e da mídia que cobria o fato – uma das vítimas acabou sendo morta pelo agressor, que foi preso em flagrante.
Esse é o pano de fundo do documentário “Caso Eloá: Refém ao Vivo”, que estreou na Netflix e relembra, 17 anos depois, o desenrolar do feminicídio que vitimou Eloá Cristina Pereira Pimentel, que tinha 15 anos quando foi morta pelo namorado Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos. A obra traz trechos do diário íntimo de Eloá e revisita o crime brutal do ponto de vista da família da adolescente.
Dirigido por Cris Ghattas, o documentário traça a cronologia utilizando a farta documentação produzida pela imprensa na época do crime. As primeiras equipes de TV chegaram ao residencial poucas horas depois de iniciado o sequestro, e lá permaneceram por mais de cinco dias, tempo em que quatro adolescentes foram mantidos reféns sob a mira de um revólver dentro do apartamento de Eloá.
Documentário sobre caso Eloá traz crítimas à imprensa e à polícia
No filme são apresentadas críticas severas à atuação da imprensa no caso. No desejo de conseguir informações exclusivas, e assim manter em alta a audiência, os jornalistas interferiram diretamente nas negociações da polícia ao ligarem para o sequestrador.
À época, especialistas em segurança pública apontaram a postura das emissoras nas entrevistas com Lindemberg como sendo “irresponsável e criminosa”. Em resposta, um dos jornalistas – o primeiro a conseguir entrevistar o sequestrador – deixa claro no documentário que não se arrepende do que fez e afirma que qualquer repórter gostaria de estar em seu lugar.
A ação da polícia de São Paulo, por meio do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), não escapa do escrutínio do documentário, em especial em dois momentos. O primeiro foi permitir que Nayara Rodrigues, amiga de Eloá, voltasse ao apartamento depois de ter sido libertada por Lindemberg. Um dos personagens do documentário aponta que “o GATE ficou marcado por um sequestro em que aumentou o número de reféns”.
O segundo foi a decisão dos policiais de invadir o apartamento para neutralizar o sequestrador. Atiradores de elite estiveram por várias vezes em condição de disparar contra Lindemberg, mas não tiveram autorização para tal. A polícia sustenta que a explosão na porta, necessária para a entrada dos agentes, se deu após um disparo no interior do apartamento – o que é contestado pela desefa do sequestrador.
Além das graves falhas na condução do caso, a produção devolve a narrativa à vítima. Eloá não é retratada apenas como uma refém, mas como uma jovem cheia de sonhos, planos e afetos. Depoimentos dos pais, irmãos, amigos e especialistas constroem a narrativa de resgate. Trechos do diário dela são lidos com delicadeza, revelando uma adolescente comum, que jamais deveria ter sido transformada em parte de um espetáculo da mídia.
- Caso Eloá: Refém Ao Vivo
- 2025
- 85 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível na Netflix


