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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) encerra o ano de 2025 com uma carta divulgada nesta segunda-feira (29). Em sua tradicional mensagem de Ano Novo, a entidade manifestou preocupação com os rumos adotados pelo Brasil e fez críticas diretas ao Congresso Nacional, à política de juros elevados e a iniciativas que colocam em debate a legalização do aborto.
Assinada pelo presidente Dom Jaime Cardeal Spenglere por membros da secretaria-geral da CNBB, a carta oscila entre tom pastoral e político. Ao mesmo tempo em que destaca avanços em áreas como saúde e sustentabilidade ambiental, o documento aponta retrocessos éticos, sociais e institucionais que, segundo os bispos, “comprometem a democracia e aprofundam desigualdades históricas no país”.
Um dos principais alvos da crítica é o Congresso Nacional. A CNBB afirma que há uma “perda de decoro” e falta de responsabilidade por parte de parlamentares, mencionando discursos de ódio, manipulação da verdade, radicalismos ideológicos e a prevalência de interesses particulares sobre o bem comum. Para a entidade, esse cenário fragiliza a confiança da população nas instituições democráticas e deixa “feridas abertas no tecido social”.
No campo econômico, a CNBB chama atenção para o impacto dos juros elevados e da dívida pública. A mensagem classifica como “exorbitantes” os valores gastos com juros e amortizações, avaliando que esse modelo compromete a capacidade do Estado de investir em áreas essenciais como educação, saúde, moradia e segurança pública. Na leitura da CNBB, a política econômica acaba penalizando sobretudo os mais pobres, ampliando a desigualdade social e “dificultando a construção de um desenvolvimento mais justo”.
O documento também critica mudanças recentes em marcos legais considerados sensíveis, como a flexibilização de normas ambientais e a cita o marco temporal para demarcação de terras indígenas no Congresso. Segundo os bispos, essas decisões representam “desrespeito aos povos originários e ameaçam a proteção do meio ambiente”, em um momento em que o Brasil ocupa posição de destaque no debate climático global, especialmente com a realização da COP-30, em Belém.
Um ponto central do documento foi a defesa da vida. A CNBB reafirma a posição histórica da Igreja Católica contrária ao aborto e declara oposição a qualquer iniciativa que objetive legalizar a prática no Brasil. Para a Confederação, a vida humana é “sagrada” desde a concepção até o fim natural e não pode ser relativizada. Ao mesmo tempo, o texto amplia o conceito de defesa da vida, associando-o ao combate à fome, à miséria, à violência e à exclusão social. Defender a vida, segundo a entidade, é garantir condições para que todos tenham dignidade e oportunidades.
Ao final, os bispos fazem um apelo à pacificação do país e ao fortalecimento da democracia por meio do diálogo, do respeito mútuo e da responsabilidade social. A mensagem pede a autoridades e cidadãos que coloquem a vida, a justiça social e o cuidado com a “Casa Comum” acima de projetos políticos e disputas de poder. Para a CNBB, o Brasil entra em 2026 desafiado a reconstruir pontes, enfrentar desigualdades e manter viva a esperança em meio às crises.


