Filipe Martins, réu da ação penal nº 2.693 (núcleo 2), sob relatoria de Alexandre de Moraes. (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

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“Alguém certamente havia caluniado Josef K., pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.”
(Franz Kafka)

Um dos momentos decisivos na história da inteligência humana foi aquele em que Sócrates estava sendo levado para conversar com o sofista Górgias, um sujeito famoso na Grécia Antiga por dizer-se capaz de responder a qualquer pergunta que lhe fizessem. Em vez de propor alguma questão capciosa ou obscura, Sócrates manda seus discípulos simplesmente perguntarem a Górgias:
— Quem é você?

Essa é a pergunta que todo canalha tem medo de responder: a pergunta que se refere à nobreza de alma e ao amor pela verdade.

Os agentes da ditadura brasileira fizeram essa pergunta ao principal delator do 8 de janeiro e obtiveram sua resposta: a pessoa em questão é um cara que ama seus confortos, seu cargo e seu salário, e estava disposto a dizer qualquer coisa para mantê-los, mesmo que isso significasse a destruição de velhinhas, homens doentes e mães de família que não cometeram crime algum.

Tempos depois, quando perceberam que precisariam de um delator mais confiável, ou ao menos minimamente verossímil, prenderam Filipe Martins por conta de uma viagem que ele não fez, de uma minuta que ele não escreveu, de uma reunião da qual não participou e de uma tentativa de golpe que não existiu. Para completar, ele foi preso em Ponta Grossa por ter “fugido” para os Estados Unidos.

Mesmo depois de manter Filipe encarcerado por seis meses — incluindo dez dias de tortura numa solitária — com base numa mentira escandalosa, tudo o que seus algozes obtiveram foi a resposta inspirada nas palavras que Sócrates pronunciou há 2.400 anos:
— Não vou delatar porque não há nada a ser delatado. Prefiro sofrer uma injustiça a cometer uma injustiça.

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Nessa resposta memorável, Filipe Martins mostrou a seus carrascos um comportamento que certamente lhes é desconhecido, pois a nobreza de alma e o amor pela verdade são hoje objeto de escárnio no Brasil.

Em um país governado por canalhas — onde os canalhas festejam juntos, aplaudem-se mutuamente, prostituem-se uns aos outros, criam partidos, ganham rios de dinheiro e andam de mãos dadas —, a atitude de Filipe vira motivo de chacota e piadinhas.

A propósito, conheço dois homens inocentes que foram escarnecidos de modo semelhante antes de serem mortos. Um deles se chamava Sócrates e pagou com a vida sua teimosia em dizer a verdade. O outro se chamava Jesus e era a própria Verdade.

Você não é Jesus, você não é Sócrates, você não é Josef K. — mas, afinal, quem é você, Filipe Martins? Você é o homem que disse não aos canalhas. Você é o homem que preferiu ser condenado injustamente a pactuar com a mentira. Você é a imagem daquilo que a ditadura dos canalhas pretende fazer com todos os que se negarem a apoiá-la, aplaudi-la e amá-la.

Você é cada um de nós, Filipe. Meu amigo, meu irmão.

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