Galinha Pintadinha, empresa de entretenimento infantil e Duolingo, aplicativo de ensino de idiomas geraram críticas por postura woke. (Foto: Montagem - logo das empresas Galinha Pintadinha e Duolingo)

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Em menos de dois meses, duas deputadas federais de Santa Catarina usaram as redes sociais para questionar conteúdos que, segundo elas, extrapolam o objetivo original de entretenimento ou educação, e passam a introduzir pautas ideológicas em ambientes de livre acesso infantil.

A primeira denúncia foi feita pela deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), que publicou um vídeo em suas redes sociais no dia 20 de outubro criticando postagens da empresa Galinha Pintadinha, uma das maiores marcas de entretenimento infantil do país, deixando pais e mães preocupados sobre o teor dos vídeos que as crianças costumam assistir da empresa.

Segundo a deputada, perfis da Galinha Pintadinha no Instagram e em outras plataformas passaram a divulgar mensagens que abordam temas como críticas ao capitalismo, a defesa do fim da jornada de trabalho 6×1 e referências ideológicas associadas à esquerda. Em um dos casos citados por Zanatta, personagens da marca aparecem em postagens que problematizam privilégios econômicos e desigualdade social.

É importante frisar que a crítica da deputada não se dirigiu às músicas e animações disponibilizadas nas plataformas de vídeo ou áudio da empresa, mas às publicações feitas nas redes sociais oficiais.

Galinha Pintadinha: sucesso infantil e militância nas redes sociais

Júlia Zanatta mostra publicações do perfil oficial da Galinha Pintadinha para embasar suas críticas. Em uma delas, a personagem participa de uma trend do Instagram chamada “músicas que não são do mesmo cantor”. O vídeo compara a canção infantil “Borboletinha” a uma melodia semelhante ao hino da Internacional Comunista, em tom de brincadeira. Zanatta também mencionou publicações que, segundo ela, abordariam temas como transição de gênero.

“Qual discernimento uma criança tem para entender sobre União Soviética, críticas ao capitalismo ou até mesmo transição de gênero?”, questionou Zanatta. Segundo ela, a estratégia “faz parte de um plano para atacar a família e enfraquecer os valores que sustentam a sociedade”.

No vídeo da parlamentar, ela afirma que a página “virou uma fábrica de militantes do PSOL” e que o objetivo dessas mensagens seria moldar o pensamento das crianças desde cedo.

Neutralidade política?

Criada em 2006 pelos publicitários Juliano Prado e Marcos Luporini, a Galinha Pintadinha surgiu de forma acidental, quando um clipe animado da cantiga homônima — já em domínio público — foi produzido para uma apresentação de TV e acabou sendo publicado no YouTube. O vídeo, inicialmente esquecido, acumulou centenas de milhares de visualizações em poucos meses, impulsionado por pais que buscavam conteúdo simples e musical para crianças pequenas.

O sucesso levou à criação de DVDs físicos, vendidos diretamente ao público em um momento em que a plataforma ainda não remunerava criadores. A estratégia permitiu à dupla manter os direitos digitais da marca, que se expandiu rapidamente. Hoje, a Galinha Pintadinha está presente em mais de dez idiomas, soma bilhões de visualizações e movimenta cifras estimadas em bilhões de reais por ano, tornando-se um dos maiores cases do entretenimento infantil brasileiro.

Em uma entrevista realizada para o canal Flow Podcast no Youtube em 2021, Marcos Luporini foi enfático ao defender a neutralidade política da marca. O fundador relatou que houve um desejo por parte de alguns colaboradores da sua empresa em "posicionar-se politicamente", mas ele interveio, reforçando que a missão da empresa é produzir para crianças e que as convicções pessoais não devem refletir no desenho infantil.

A Gazeta do Povo tentou contato com a empresa, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta. Mas, em vista da manifestação pública do criador, a controvérsia ficou restrita ao ambiente digital das redes sociais, sem mudanças apontadas no conteúdo musical tradicional exibido em vídeos e produtos infantis.

Aplicativo educacional que defende diversidade nas lições

Após a repercussão do caso envolvendo a Galinha Pintadinha, foi a vez da deputada Carol de Toni (PL-SC) criticar o Duolingo, aplicativo de ensino de idiomas fundado em 2011 pelo professor Luis von Ahn e pelo engenheiro Severin Hacker.

A crítica de Carol de Toni ocorreu por meio de um vídeo publicado em suas redes sociais. Nele, a deputada exibe capturas de tela de exercícios do aplicativo. Entre as frases mostradas estavam exemplos usados em atividades de escuta, repetição e tradução que tratam da orientação sexual. Segundo a parlamentar, esse tipo de conteúdo estaria inserido em lições voltadas ao aprendizado linguístico, sem aviso prévio aos pais.

No vídeo, feito em 11 de dezembro, Carol de Toni afirmou que o debate não seria a existência desses temas na sociedade, mas a forma como são apresentados a crianças e adolescentes durante o uso do aplicativo. A deputada classificou a prática como “ideologização da infância” e disse que decisões sobre a introdução de temas ligados à sexualidade e identidade de gênero deveriam caber às famílias, não a plataformas educacionais.

Valores centrais do Duolingo

Se um dos fundadores da Galinha Pintadinha deixou claro que pretende dar neutralidade política à marca, a empresa americana Duolingo, por sua vez, tem outro perfil e outro público-alvo principal.

A plataforma global de educação em idiomas com mais de 130 milhões de usuários ativos mensais tem a maior faixa etária de clientes entre 18 a 24 anos, seguida de perto pelo grupo de 25 a 34 anos. Ou seja, a empresa não tem como foco o público infantil, ainda que utilize desenhos animados na sua abordagem educacional.

Em seu blog oficial, a empresa publicou em 2021 que inclui personagens e histórias com o objetivo de promover a "diversidade" em todos os campos, inclusive o sexual.

Embora o Duolingo mantenha classificação indicativa “Livre” nas lojas de aplicativos, ele exige autorização dos responsáveis para contas de usuários menores de 13 anos. Nessas contas infantis, algumas funções sociais são limitadas, como rankings e interação com outros usuários, mas o conteúdo das lições segue o mesmo padrão pedagógico.

A Gazeta do Povo também procurou a empresa Duolingo, mas não obteve resposta.

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