(Foto: Julia Vivcharyk/Unsplash )

Ouça este conteúdo

Nunca se ouviu tanto a palavra longevidade. Recentemente, no XXIX Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo, o tema esteve presente em diversas palestras, em áreas distintas da medicina e com amplas abordagens. Mas hoje, o assunto não se limita apenas à saúde. Está impulsionando avanços em tecnologias e até levando à reflexão sobre novos modelos de negócios, para se adequar a essa população que segue em ritmo crescente no mundo – e de forma ativa. Dizem que, num futuro breve, não será raro existir o cargo de Chief Longevity Officer, profissional responsável por colocar na mesa de discussões o envelhecimento e suas implicações para o dia a dia do trabalho.

É inegável o aumento significativo na proporção de pessoas idosas. Globalmente, em 1950, a população com 60 anos ou mais era de 195 milhões. Passou para cerca de 600 milhões em 2000, atingiu 1 bilhão em 2018 e, nesse ritmo, projeta-se que chegará à marca de 2 bilhões em 2048 e 3 bilhões em 2100.

A gana é ser longevo, sim, mas atingir a chamada agerasia: um envelhecimento com saúde, autonomia e qualidade de vida, para aproveitar esses anos extras – impensáveis há algumas décadas

Atualmente, os recursos para se viver mais – e melhor – envolvem muito além do que as preocupações com o aparecimento de rugas. Cuidar da aparência é apenas um ponto nesse universo. O foco da saúde está sendo redirecionado: envelhecer deixou de ser um processo natural que deve simplesmente ser aceito. A ciência tem sinalizado outros caminhos, sugerindo que é possível dissociar nossa idade cronológica da biológica – que envolve o funcionamento das células – e a prevenção passa a ser prioridade.

O que muda com essa nova forma de enxergar essa etapa da vida? Tudo. Deixamos de olhar as pessoas idosas como limitadas, sem perspectivas e passivas diante das doenças inerentes ao envelhecimento. A marcha segue em mão inversa. A longevidade é mais um desafio para a ciência, por meio de pesquisas, novas estratégias, condutas médicas e fármacos eficazes, que nos asseguram ser possível, sim, ter um processo de envelhecimento ao menos retardado – ou vivê-lo de forma mais leve, com prazer e vitalidade.

Não é mais um futuro distante. Já é realidade ter acesso a uma estrutura que proporcione bem-estar e qualidade de vida aos chamados 60+. A “gana” é ser longevo, sim, mas atingir a chamada agerasia: um envelhecimento com saúde, autonomia e qualidade de vida, para aproveitar esses anos extras – impensáveis há algumas décadas.

VEJA TAMBÉM:

E há ferramentas para isso: no universo do rejuvenescimento celular, da biologia molecular e até da inteligência artificial, novos produtos são desenvolvidos para combater o envelhecimento biológico. Uma das áreas mais importantes e sensíveis é a nutrição focada na longevidade. Afinal, durante toda a vida fazemos escolhas no prato, e não adianta culpar o consumo por impulso nos supermercados, a praticidade dos fast-foods, os salgadinhos, os refrigerantes e os ultraprocessados.

Vale sempre a máxima “descascar mais e desembalar menos”, privilegiando os alimentos in natura, como frutas, verduras, legumes, gorduras boas, proteínas magras e fibras – com equilíbrio e saudabilidade, sem dietas milagrosas. As tentações não são proibidas, mas devem ser coibidas quando colocamos em primeiro lugar nossa saúde e bem-estar – especialmente se desejamos comemorar 100 anos com fôlego para apagar as velinhas.

Durval Ribas Filho, médico nutrólogo, fellow da The Obesity Society – TOS (USA) e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos