
Ouça este conteúdo
Apesar da queda dos casamentos formais e do avanço das uniões consensuais — as não registradas oficialmente —, o estado de Minas Gerais ainda mantém viva a tradição de dizer “sim” no altar da igreja e no cartório. De acordo com dados do Censo Demográfico 2022 - Nupcialidade e Família, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última quinta-feira (5), o estado é o único do país onde mais da metade das uniões conjugais foram formalizadas tanto no civil quanto no religioso.
O resultado contrasta com a tendência nacional. Pela primeira vez desde o início do levantamento, as uniões consensuais superaram os casamentos formais no Brasil. Segundo o IBGE, 38,9% das pessoas vivem em união consensual, enquanto 37,9% optaram pelo tradicional matrimônio no civil e no religioso. Em 2000, o percentual de casamentos duplamente formalizados era de 49,4%.
“O aumento na proporção de uniões consensuais reforça as mudanças comportamentais da sociedade brasileira, em que o casamento formal vem perdendo espaço para as relações não oficializadas”, explicou a analista da pesquisa do IBGE, Luciene Longo.
Minas Gerais segue em sentido oposto e concentra o maior número de casamentos formais
Em Minas Gerais, a tendência é o matrimônio com assinatura dos papéis no cartório, vestido de noiva e a benção na igreja. Conforme o IBGE, entre as 9,05 milhões de pessoas casadas no estado mineiro, 51,3% se uniram no civil e no religioso. Outros 17,7% optaram por se casar apenas no civil, enquanto 1,5% realizou somente a cerimônia religiosa. Quando o assunto são as uniões consensuais, os casais mineiros representam 29,4%, a menor proporção do país.
Os dados mostram ainda que o tipo de união varia conforme a idade. Entre os jovens mineiros de 15 a 19 anos que vivem em união, 84,3% escolheram pela consensual. Entre as pessoas de 45 a 49 anos, mais da metade (52,4%) se casou tanto no civil quanto no religioso. A proporção chega ao pico entre os idosos de 80 anos ou mais, dos quais 79,9% formalizaram as duas cerimônias.
A pesquisa mostra ainda que, pela primeira vez, menos da metade das famílias mineiras é formada por casais com filhos. O índice caiu de 50,4% em 2010 para 42% em 2022. No mesmo período, a proporção de casais sem filhos subiu de 17,1% para 24,1% no estado.
Valores cristãos e tradição ajudam a explicar o comportamento mineiro
A forte presença das igrejas cristãs, valores familiares tradicionais e a influência cultural do interior ajudam a explicar a tendência matrimonial em Minas Gerais. Em muitas cidades mineiras, as pessoas ainda veem a cerimônia religiosa como um rito essencial de passagem e um símbolo de estabilidade e respeito social.
Um exemplo é Desterro do Melo, município que tem o maior número proporcional de católicos em Minas Gerais, segundo o IBGE. Dos 2.994 habitantes do município, 2.848 pessoas professam a fé católica, o que contribui para a manutenção de práticas como o casamento religioso.
Para o padre Marcelo Carlos da Silva, vigário da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, em Belo Horizonte, o expressivo número de casamentos civis e religiosos reflete a identidade cultural do estado.
“Minas tem uma religiosidade muito enraizada, que vem desde o período colonial, marcada pelo barroco e pela tradição católica. Mesmo com as transformações da sociedade, o sacramento do matrimônio ainda tem grande valor simbólico e espiritual”, avalia Silva em entrevista à Gazeta do Povo.
O padre ressaltou que o comportamento das pessoas em Minas Gerais é historicamente mais tradicional e ligado à família e acredita que a força do casamento, tanto civil quanto religioso, tem relação com perfil do mineiro. “Aqui temos uma cultura centrada na família, nas tradições do interior e na busca pela estabilidade. Acredito que para os mineiros não basta “juntar os panos”. As pessoas querem oficializar o compromisso diante de Deus e da sociedade.”
VEJA TAMBÉM:




