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Em uma movimentação militar sem precedentes nas últimas décadas, o porta-aviões norte-americano de propulsão nuclear Gerald Ford, a maior embarcação de guerra do mundo, chegou ao Caribe, escoltado pelos quatro navios — três contratorpedeiros e um navio de apoio logístico — que compõem o Grupo de Ataque 12 da Marinha dos EUA.
A chegada do Gerald Ford reforça o já numeroso contingente aeronaval norte-americano na região, composto por diversos navios de guerra, incluindo o Grupo-Tarefa de Desembarque Anfíbio Iwo Jima, que transporta um contingente de 2,2 mil fuzileiros navais, um submarino de propulsão nuclear, além de aeronaves de reconhecimento e ataque e de efetivos posicionados em bases dos EUA no Caribe, especialmente em Porto Rico.
A entrada do navio na área de responsabilidade do Comando Sul dos EUA foi anunciada no dia 11 de novembro. O Pentágono emitiu uma nota na qual justificou o movimento, afirmando que ele atendia à diretriz do presidente Trump de “desmantelar Organizações Criminosas Transnacionais e combater o narcoterrorismo em defesa da Pátria”. O Secretário da Guerra dos EUA, Pete Hegseth, anunciou a “Operação Lança do Sul”, destinada a “remover os narcoterroristas do nosso hemisfério”.
Nesse contexto, destaque-se que os EUA já destruíram cerca de vinte barcos no Caribe e na costa pacífica da Colômbia, matando 80 pessoas, alegando que todos transportavam drogas destinadas aos EUA. Recorde-se, também, que o governo norte-americano acusa o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de ser o líder de um cartel internacional de tráfico de drogas.
Tudo isso levou a uma crescente especulação sobre quais seriam os próximos passos das forças armadas americanas. Haverá ataques ao território continental da Venezuela? Nesse caso, quais seriam os alvos? O objetivo é o declarado combate ao narcotráfico ou vai mais além, visando, na verdade, retirar Maduro do poder?
Se for esse último o objetivo, é possível que os EUA optem por uma invasão da Venezuela, nos moldes das realizadas no Iraque e no Afeganistão? Toda essa movimentação destina-se apenas a fornecer apoio a eventuais grupos venezuelanos dispostos a derrubar Maduro? Ou trata-se tão somente de pressionar psicologicamente o presidente venezuelano para que ele próprio tome a iniciativa de negociar sua saída do poder?
Perguntado sobre o tema, e depois de participar, na semana passada, de várias reuniões com seus principais assessores das áreas de segurança, defesa e relações exteriores, o presidente Trump disse que já havia “mais ou menos decidido” o que fazer, mas que não podia revelar qual era a sua decisão.
Nesse quadro, a forte presença militar americana é evidentemente muito superior ao necessário para a simples atuação contra o narcotráfico. Por outro lado, uma invasão à Venezuela exigiria uma força muito superior à que está atualmente desdobrada no Caribe.
Esse meio-termo parece apontar para uma atuação mais incisiva do que os ataques a pequenos barcos do narcotráfico
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O porta-aviões pode, por exemplo, garantir a superioridade aérea necessária para ações de pequeno porte, como o desembarque de efetivos reduzidos para a realização de operações especiais de captura ou eliminação de alvos; garantir o êxito de ataques cirúrgicos contra alvos estratégicos; ou apoiar eventuais ações insurgentes desencadeadas dentro da própria Venezuela com o objetivo de destituir o atual governo.
Nesse sentido, María Corina Machado, a principal líder oposicionista venezuelana, divulgou um áudio no último sábado, dia 15 de novembro, conclamando os militares do país a, “na hora decisiva” que, segundo ela, se aproxima, não cumprirem as ordens do regime Maduro. Trata-se de uma fala que deixa no ar a iminente possibilidade de uma ação que exigirá uma tomada de posição dos militares venezuelanos. Contudo, não é a primeira vez que Corina faz esse tipo de discurso, sem que nada tenha acontecido nas ocasiões anteriores.
O governo Maduro alega que Trump quer “forçar uma guerra em uma zona de paz” e tenta demonstrar alguma prontidão militar, mobilizando as forças armadas e as chamadas milícias bolivarianas.
De qualquer maneira, a situação já escalou para um jogo de soma zero, no qual a vitória de um dos lados — Trump ou Maduro — significará a derrota do outro. Para Maduro, a simples permanência no poder já constitui uma vitória. Para Trump, será difícil explicar ao público interno tamanha movimentação militar se, ao fim de tudo isso, o líder venezuelano continuar no comando.
Mas, caso o governo Maduro — considerado ilegítimo por EUA, União Europeia e por boa parte dos países da região — caia sem derramamento de sangue, Trump poderá reivindicar uma vitória geopolítica relevante, removendo um governo profundamente desalinhado de Washington e, além disso, retirando um espaço importante para as influências russa e chinesa na América Latina.
