O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

Ouça este conteúdo

As viagens dos presidentes da Câmara e do Senado, do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), do ministro da Justiça e de autoridades secretas somam R$ 8,6 milhões até o início de novembro. Foram 394 voos, sendo 75 na categoria “Uber aéreo” — com 3, 2 ou apenas 1 passageiro. Em 14 trechos havia somente 1 passageiro.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, fez 82 voos. Compartilhou a aeronave com outros ministros em apenas cinco ocasiões. Sua despesa chegou a R$ 1,65 milhão. Seus 19 voos de “Uber aéreo” somaram R$ 346 mil. A grande maioria das viagens ocorreu entre Brasília e São Paulo — 54 trechos. Ele costuma deixar Brasília na sexta-feira e retornar na segunda.

No dia 6 de outubro, por exemplo, o ministro voou da capital para São Paulo logo após o almoço, com quatro passageiros a bordo. Passou o fim de semana em São Paulo, sem cumprir agenda oficial, e retornou a Brasília na segunda, após o almoço. De 26 a 29 de setembro, fez o mesmo roteiro, novamente sem agenda oficial em São Paulo. Em 19 de junho, uma quinta-feira, às 10h, Lewandowski seguiu de Brasília para São Paulo com dois passageiros na aeronave oficial, também sem agenda no fim de semana. Na segunda, retornou a Brasília no início da manhã. No dia 2 de abril, uma quarta-feira, o ministro voou de Brasília para São Paulo, mais uma vez com dois passageiros e sem compromissos oficiais.

Os voos secretos

Os 48 voos “à disposição da Defesa”, mais conhecidos como voos secretos, já custaram R$ 883 mil neste ano. Na categoria “Uber aéreo”, foram 39 voos, ao custo de R$ 565 mil. Em 11 desses deslocamentos, havia apenas o “agente secreto” a bordo. Mas como surgiu essa mordomia?

No início do governo Lula, alguns ministros do STF procuraram o então ministro da Justiça, Flávio Dino, solicitando acesso aos voos da FAB. Alegavam que estavam sendo constrangidos e ameaçados em voos comerciais e em aeroportos.

A legislação, porém, determinava que apenas os presidentes da Câmara, do Senado e do STF, além do vice-presidente, tinham direito a usar jatinhos oficiais para deslocamentos até suas residências. Dino, porém, encontrou uma brecha na lei: outras autoridades poderiam usar as aeronaves em casos de risco à segurança — ou ausência dela. Hoje, Dino é ministro do STF. No primeiro ano dessa nova prerrogativa, quem mais utilizou os jatinhos oficiais foi o ministro Alexandre de Moraes.

A autorização para o uso dos jatinhos “chapa branca” é concedida caso a caso pelo Ministério da Defesa. Dos 48 voos secretos neste ano, 39 ocorreram entre Brasília e São Paulo — ida e volta. É possível imaginar quem tem aproveitado a mordomia para viajar para casa.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, já fez 113 voos neste ano, totalizando R$ 2,8 milhões em despesas. Ele costuma viajar com frequência para seu estado, a Paraíba, além de visitar São Paulo, como normalmente fazem os presidentes da Câmara e do Senado. Também realizou duas viagens ao exterior, para Nova York e Lisboa — ao custo de R$ 470 mil. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, gastou R$ 1 milhão com viagens pelo país.