Turmalina Paraíba consolida rota internacional que começa no sertão e termina nos principais polos de lapidação e consumo de gemas do mundo.
Turmalina Paraíba consolida rota internacional que começa no sertão e termina nos principais polos de lapidação e consumo de gemas do mundo. (Foto: Alberto Aragão/Acervo pessoal)

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A Turmalina Paraíba colocou o sertão nordestino no mapa global das gemas. A pedra preciosa, reconhecida pelo brilho elétrico e pelo azul de intensidade considerada incomum, atrai mineradores, laboratórios e colecionadores que disputam cada novo achado.

A busca por jazidas inéditas segue ativa e reforça o status da Turmalina Paraíba como uma das gemas mais cobiçadas e valiosas do mercado internacional. A composição da pedra explica parte desse fascínio.

Lítio, boro e sódio formam uma combinação rara na natureza, enquanto o cobre em alta concentração produz o tom azul neon que é a assinatura da Turmalina Paraíba. O manganês adiciona nuances rosas e lilases, ampliando o interesse científico e comercial em torno da gema.

Os depósitos aparecem em pegmatitos graníticos, rochas formadas pelo resfriamento lento do magma, que criam veios com cristais grandes e minerais raros. Por isso, geólogos concentram pesquisas na Província Pegmatítica do Seridó, situada entre os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, área que oferece o padrão mais consistente da Turmalina Paraíba.

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O primeiro exemplar surgiu em 1982, quando Heitor Dimas Barbosa encontrou a pedra preciosa. O minerador era dono da Mina da Batalha, no distrito de São José da Batalha, no município de Salgadinho, região do Cariri, distante 244 quilômetros de João Pessoa (PB).

O Instituto Gemológico da América (GIA) confirmou a autenticidade em 1989 e impulsionou o reconhecimento internacional da gema brasileira. Desde então, marcas de luxo transformam a Turmalina Paraíba em peças que alcançam valores que rivalizam com os de diamantes raros.

O preço do quilate varia conforme cor, brilho e pureza. Em exemplares excepcionais, a Turmalina Paraíba supera centenas de milhares de dólares por quilate. Peças com essa gema migram rapidamente para coleções privadas e leilões disputados.

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O empresário Sebastião Ferreira, dono de uma mina de Turmalina Paraíba em Parelhas, no Rio Grande do Norte, afirma que o mercado brasileiro praticamente não consome a gema. "As pedras seguem principalmente para Hong Kong e Tailândia, onde passam pelo beneficiamento, e depois abastecem compradores do Japão, da Europa e dos Estados Unidos", explicou.

Ferreira também destaca que a produção das minas não determina, por si só, o valor final da Turmalina Paraíba. Ele observa que tamanho, cores e qualidade variam muito e interferem diretamente no preço da pedra preciosa.

"Enquanto o mercado brasileiro costuma priorizar pedras maiores, a Turmalina Paraíba se destaca por outros critérios. Mesmo em dimensões reduzidas, pode alcançar valores elevados quando apresenta atributos raros, como coloração excepcional e formato diferenciado", afirmou Ferreira.

Com produção escassa e alto valor agregado, a Turmalina Paraíba reafirma o Brasil como origem de uma das pedras mais raras e disputadas do mercado global de joias.Com produção escassa e alto valor agregado, a Turmalina Paraíba reafirma o Brasil como origem de uma das pedras mais raras e disputadas do mercado global de joias. (Foto: Alberto Aragão/Acervo pessoal)

Variações de cores ampliam o valor científico e estético da Turmalina Paraíba

A Turmalina Paraíba apresenta tons que vão do azul neon ao verde e ao lilás. Essas variações dependem da presença de elementos que interferem na forma como a pedra absorve e devolve a luz. Lapidada, a gema mantém alto índice de refração e preserva o brilho mesmo em ambientes pouco iluminados.

No estado bruto, a pedra costuma aparecer em prismas marcados por estrias verticais. Apesar do valor superior ao de muitos diamantes, sua produção permanece limitada: cerca de 20 mil quilates por ano — um contraste evidente diante dos 480 milhões de quilates de diamantes extraídos anualmente no mundo, segundo a GIA.

A busca global ampliou o mapa da Turmalina Paraíba, com depósitos identificados em Moçambique e na Nigéria — mas nenhum deles replicou, com a mesma intensidade, o neon que brilhou primeiro no interior da Paraíba. De acordo com o empresário do ramo de mineração, Alberto Aragão, que há 12 anos é exportador e explorador de minas na Bahia, a Turmalina Paraíba retirada na África é vendida por 50% a menos do que vale a brasileira.

"Apesar de serem visualmente idênticas, quem compra faz sempre uma análise, para ver se possui manganês e cobre na composição. Esse é o grande diferencial, porque há um brilho diferente na pedra daqui", explicou.

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