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Países como Alemanha, Dinamarca e Reino Unido realizaram uma série de prisões e operações coordenadas nos últimos dias que expuseram depósitos clandestinos de armas, rotas de transporte e vínculos entre o Hamas e redes criminosas da Europa desde agosto. As autoridades afirmam que integrantes do grupo terrorista palestino buscavam montar infraestrutura para atentados contra alvos judeus e israelenses no continente, movimentando fuzis, pistolas e centenas de munições entre diferentes países.
Os primeiros alvos da investigação foram três homens detidos em 1º de outubro em Berlim, identificados como Abed Al G., Wael F. M. e Ahmad I. Segundo a BBC, eles tinham acabado de receber um fuzil AK-47, pistolas e grande quantidade de munição. A promotoria federal afirmou que o arsenal seria usado em ataques fatais contra instituições judaicas e israelenses, e descreveu os três como operadores do Hamas na Europa.
O caso se ampliou na semana passada, quando a DW noticiou que um libanês suspeito de integrar a estrutura do Hamas foi preso, logo após entrar na Alemanha pela fronteira com a República Tcheca. Ele foi acusado de adquirir uma arma automática, oito pistolas e mais de 600 munições em Berlim, em agosto, e de repassar o material a outro suspeito já detido. No mesmo dia, a polícia da Dinamarca realizou buscas em propriedades em Copenhague ligadas ao mesmo núcleo terrorista.
Na quinta-feira (13), Mahmoud Z., também de origem libanesa, foi preso em um trem no norte da Alemanha após cruzar a fronteira vinda da Dinamarca. Segundo a promotoria, ele havia recebido um fuzil, oito pistolas e 600 munições na região de Hesse e transportado o arsenal até Berlim, onde o repassou ao mesmo grupo detido em outubro. As autoridades também vinculam ao caso um suspeito preso em Londres no começo deste mês, acusado de levar parte das armas para Viena, na Áustria, onde um depósito ligado à mesma operação foi descoberto.
Segundo o Combating Terrorism Center (CTC) - centro de pesquisa em contraterrorismo ligado à Academia Militar de West Point, nos Estados Unidos - o grupo terrorista Hamas vem estruturando, há anos, uma rede de apoio na Europa: criando depósitos clandestinos de armas, estabelecendo células com membros que possuem residência legal no continente e acionando grupos do crime organizado para movimentar fuzis, pistolas, munições e até drones sem chamar atenção das autoridades.
Em relatório divulgado neste mês, o CTC destaca a cooperação do Hamas com o Loyal to Familia (LtF), uma gangue dinamarquesa envolvida em tráfico de armas e violência urbana. Integrantes do LtF teriam ajudado operativos ligados ao Hamas a movimentar munições, esconder equipamentos e adquirir drones em território europeu, ampliando a capacidade da organização de operar discretamente.
Segundo análise do CTC, toda essa estrutura compõe um plano de contingência criado pelo Hamas para permitir ações fora do Oriente Médio. A ideia era que, caso a liderança baseada no Oriente Médio ordenasse, células já instaladas na Europa tivessem acesso imediato às armas escondidas e pudessem executar ataques usando redes logísticas montadas previamente.
Relatórios do Meir Amit Intelligence and Terrorism Information Center (ITIC) - instituto israelense especializado no monitoramento de grupos ligados ao Irã, ao Hamas e ao Hezbollah - mostram que a Alemanha concentra há anos estruturas de apoio logístico e de arrecadação ligadas a essas organizações. Segundo o ITIC, parte dessas redes continuou ativa até 2023, quando o governo alemão passou a adotar proibições específicas contra entidades associadas ao Hamas e intensificou operações de busca e apreensão em diversas cidades do país.
Promotores citados pela imprensa europeia afirmam que os suspeitos presos nos últimos dias atuavam seguindo instruções diretas de comandantes do Hamas no Líbano, responsáveis por supervisionar depósitos de armas e orientar deslocamentos entre países europeus.
Para o Combating Terrorism Center (CTC), a Europa vive um cenário inédito: a atuação do Hamas deixou de se limitar a propaganda e arrecadação de fundos e evoluiu para a formação de células voltadas a atentados e à manutenção de arsenais no continente.
Os investigadores dizem que ainda não está claro se essa movimentação representa uma mudança estratégica permanente ou um movimento oportunista após o enfraquecimento do Hamas em Gaza. Mas, diante das prisões recentes, dos depósitos descobertos e das ligações com o crime organizado europeu, autoridades afirmam que a ameaça assumiu uma nova dimensão - e que a prioridade, agora, é impedir que essas redes se reorganizem.


