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Cabo Gilberto Silva (PL-PB), o novo líder da oposição (Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados)

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Novo líder da oposição na Câmara dos Deputados, o deputado federal Cabo Gilberto Silva (PL-PB) avalia que a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto tem espaço para crescer até as eleições de 2026, apesar da vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apontada por pesquisas no momento. Para o parlamentar, o cenário ainda está aberto e tende a se redefinir à medida que a campanha avance e a temperatura política diminua.

Cabo Gilberto assumiu a liderança da oposição nesta terça-feira (16), após a passagem do cargo feita pelo ex-líder Luciano Zucco (PL-RS), durante reunião com vice-líderes e parlamentares da bancada na Câmara dos Deputados.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Cabo Gilberto afirma que Flávio Bolsonaro reúne condições de ampliar sua competitividade, especialmente com a aproximação de partidos de centro e maior exposição pública ao longo do próximo ano. O deputado minimiza os números atuais das pesquisas e destaca que o pré-candidato foi lançado recentemente. Para ele, o senador carrega também o peso natural da rejeição de uma parte dos eleitores, que está associada ao sobrenome Bolsonaro, após o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A leitura do novo líder da oposição ocorre em um contexto em que levantamentos eleitorais indicam vantagem de Lula em um eventual segundo turno, mas também indicam uma disputa ainda distante do período oficial de campanha. Pesquisa publicada pela Genial/Quaest, nesta terça-feira (16), mostra que Lula tem 46% das intenções de votos. Já Flávio aparece com 36% em um eventual segundo turno. A sondagem foi encomendada pela Genial Investimentos e ouviu 2.004 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 11 e 14 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

Ao longo da entrevista, o deputado também comenta sobre a estratégia da oposição para 2026, o papel do ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha, as dificuldades de articulação no Congresso, as críticas à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), a pauta da anistia, a política de segurança pública e o cenário econômico, além de traçar um diagnóstico sobre a crise institucional no país.

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Confira a entrevista

O senhor assume a liderança da oposição em um momento delicado. Quais são as prioridades para 2026 e como a oposição pretende atuar daqui para frente?

Cabo Gilberto Silva: Primeiro, estamos assumindo a liderança da oposição em uma situação muito delicada da nossa democracia. Hoje não temos divisão de poderes nem equilíbrio institucional. Existe um poder que se sobrepõe aos demais. Em uma democracia saudável, a oposição e a liderança do governo cumprem papéis fundamentais, e hoje isso está comprometido.

Nossa missão, portanto, é muito maior. Temos visto parlamentares sendo cassados, inclusive campeões de votos. Cito o caso de estados como Paraná e São Paulo, onde a deputada mais votada em 2022 [Carla Zambelli] foi alvo de um processo sem provas, claramente por perseguição política. Isso ficou evidente, inclusive, em mensagens vazadas de grupos de WhatsApp.

Estamos vivendo uma democracia muito aquém do que o Brasil precisa. Diante disso, vamos focar também no governo, que prometeu muito nas eleições e não entregou. Mais uma vez, vai prometer resolver os problemas do país, mas quando analisamos os resultados, vemos que nada foi feito.

Sou do Nordeste, é a primeira vez que um paraibano assume a liderança da oposição. Só tenho a agradecer a Deus, ao povo da Paraíba e aos meus pares, que, de forma unânime, me escolheram. Isso é fruto de muito trabalho: chegamos cedo, saímos tarde, participamos de todas as discussões. Fico honrado como paraibano e nordestino em assumir essa missão em um ano tão importante para a democracia brasileira.

Este foi um ano de muitos embates, especialmente com a presidência da Câmara, por causa da pauta da anistia. Como a oposição pretende conduzir essa relação no próximo ano?

Cabo Gilberto Silva: Vamos trabalhar da mesma forma que temos trabalhado até agora. Houve um acordo lá atrás, mas também muita resistência. A oposição não tem maioria: somos cerca de 120 deputados e pouco mais de 20 senadores. Quem tem maioria são os partidos do Centrão.

Mesmo assim, vamos trabalhar da melhor forma possível. Tenho um bom relacionamento com o presidente da Câmara, o deputado Hugo Motta. Somos paraibanos e vamos dialogar para que as pautas sejam decididas no plenário. Foi assim, por exemplo, no caso da deputada Carla Zambelli, em que vencemos no plenário.

Como o senhor avalia a influência do STF nas decisões do Congresso e no cenário eleitoral? Isso pode se repetir em 2026?

Cabo Gilberto Silva: Não tenho dúvida de que isso vai continuar acontecendo. As eleições de 2022 não foram justas nem equilibradas. Houve decisões do TSE e do STF claramente desiguais. Isso não é uma questão ideológica, é um fato.

Esperamos que as próximas eleições sejam conduzidas de forma justa, que o TSE e o Supremo respeitem os candidatos. Mas a situação é grave. Existem inquéritos ilegais e inconstitucionais abertos desde 2019. Onde está na legislação brasileira a possibilidade de um inquérito durar quase uma década? Isso não existe.

Hoje, um ministro do STF atua como investigador, acusador, juiz e vítima ao mesmo tempo. Isso é uma aberração jurídica. Tudo isso acontece por conta da fraqueza do Congresso e da hipertrofia do Judiciário. Sem dúvida, isso atrapalha as eleições.

Essas interferências também podem dificultar o avanço da pauta da anistia no Congresso?

Cabo Gilberto Silva: Sem dúvida nenhuma. Nós queríamos a anistia, mas não tivemos votos suficientes. O que foi aprovado [na Câmara] foi a redução de penas, algo que acabou sendo judicializado.

Isso já está atrapalhando o funcionamento do Congresso. O marco temporal foi aprovado nas duas Casas, os vetos foram derrubados, e mesmo assim a questão foi parar no STF, com votos para derrubar a decisão do Legislativo.

O caso da deputada Carla Zambelli é mais uma aberração jurídica. Houve atropelo do artigo 55 da Constituição e da própria presidência da Câmara. Apesar disso, não vamos desistir. Vamos continuar trabalhando para restabelecer a liberdade e a democracia no Brasil.

O PL lançou o nome de Flávio Bolsonaro para o Palácio do Planalto, mas pesquisas apontam dificuldades de competitividade contra o presidente Lula no momento. Como o senhor avalia esse cenário?

Cabo Gilberto Silva: A maioria das pesquisas mostra empate técnico no segundo turno. Flávio Bolsonaro foi lançado há pouco tempo como pré-candidato, indicado pelo [ex-]presidente Jair Bolsonaro. Ainda é cedo.

Ele tem se comportado muito bem, concedendo entrevistas, mostrando equilíbrio e preparo político. Quando conseguirmos atrair partidos de centro, sua candidatura ficará ainda mais competitiva.

Na direita, temos vários nomes fortes. Na esquerda, só aparece o nome de Lula. É natural que o sobrenome Bolsonaro gere rejeição, já que foi governo, mas hoje o nome mais competitivo é o de Flávio Bolsonaro.

Existe resistência dos partidos de centro à candidatura do PL? Como trabalhar isso?

Cabo Gilberto Silva: Converso com todos. Muitos partidos de centro preferiram o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é um grande nome, mas a escolha já foi feita.

Vamos trabalhar para reduzir essa resistência e tentar trazer esses partidos já no primeiro turno. Se isso não ocorrer, cada um lança seu candidato e nos encontramos no segundo turno. Não tenho dúvida de que o segundo turno será entre Flávio Bolsonaro e Lula.

Qual será o papel do ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha?

Cabo Gilberto Silva: Sem dúvida nenhuma, Jair Bolsonaro é o grande puxador de votos. Ele é um fenômeno eleitoral. Se fosse candidato, venceria as eleições.

Ele tem defeitos, como todos nós, mas sua energia é impressionante. Atrai multidões em qualquer região do país. Flávio ainda não tem esse mesmo carisma, mas vamos trabalhar com o que temos hoje.

Eu preferia o presidente Bolsonaro como candidato, mas, diante da perseguição política que ele sofre, vamos concentrar todas as forças em Flávio Bolsonaro.

A PEC da Segurança e o PL Antifacção ficaram para o ano que vem. Como o senhor avalia esse adiamento?

Cabo Gilberto Silva: O PL contra facções eu preferia que tivesse sido aprovado agora, pois já estava maduro. Infelizmente, a maioria dos líderes decidiu adiar.

Já a PEC da Segurança, eu sou favorável ao adiamento. O texto enviado pelo governo cria conflitos entre categorias e não trata do principal: o homem e a mulher da segurança pública. Não existe política séria de segurança sem valorizar os profissionais.

Policiais arriscam a vida diariamente, ganham salários irrisórios e não têm condições mínimas de trabalho. Casos isolados de má conduta devem ser punidos, mas a regra é o sacrifício desses profissionais. Por isso, defendi o adiamento para construir um texto mais justo.

Como a oposição vê as negociações sobre o Orçamento?

Cabo Gilberto Silva: A pauta econômica é a mais grave dos últimos anos. A dívida pública se aproxima de R$ 10 trilhões, o maior valor da história. Isso afeta diretamente a vida da população, com juros em torno de 15%.

O Brasil não para de arrecadar, criou ou aumentou impostos mais de 30 vezes neste governo. O déficit fiscal cresce mês após mês. Temos 92 milhões de brasileiros dependentes de programas sociais.

Existe chance de avanço de CPIs de interesse da oposição no próximo ano, como a chamada “Lava Toga”?

Cabo Gilberto Silva: É muito difícil. Quando não é o governo que blinda, é o STF. Essa composição atual é muito ruim para a democracia.

Faço aqui um apelo à imprensa brasileira para mostrar o que está acontecendo. Temos censura, jornalistas e veículos de comunicação calados. Isso é gravíssimo.

Quero, inclusive, parabenizar a Gazeta do Povo pelo trabalho, especialmente pela iniciativa “Quantas Vozes o STF Calou”. É um jornalismo importante, que cumpre seu papel de informar a sociedade.