O governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro está ganhando protagonismo com o combate ao crime organizado, (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

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O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirma que o seu estado se tornou o “epicentro” da crise de segurança pública no país e, por isso, precisa de apoio nacional e internacional para enfrentá-la. Em entrevista ao O Globo, ele detalhou conversas com autoridades dos Estados Unidos para ampliar a cooperação, rebatendo críticas da oposição que veem risco de intervenção estrangeira.

Segundo Castro, o foco do diálogo é o controle de armas e peças usadas na montagem dos chamados “fuzis Frankenstein”. “Restringiram a venda de armas prontas, mas não das peças. Cerca de 80% das armas apreendidas no Rio são montadas aqui. Nada disso foi para pedir que os Estados Unidos entrem no país, isso é bobagem. Esse diálogo não fere a soberania”, disse.

Depois da megaoperação do dia 28 — que deixou 121 mortos, entre eles 117 suspeitos e quatro policiais — nos complexos do Alemão e da Penha, Castro afirmou ter dado às forças de segurança todas as condições para atuação adequada e prometeu rigor caso se comprove uso irregular de câmeras corporais. “O que me foi passado é que todos os núcleos tinham câmeras. Agora, é dar total transparência. Se não for verdade, quem errou vai responder.”

O governador atribuiu aos moradores a retirada de corpos da Serra da Misericórdia, o que inviabilizou a perícia no local. “Não foi o Estado que fez isso, nem que colocou todo mundo de cueca para criar imagens fortes. Os drones mostraram quem fez a fraude processual. Os corpos começaram a ser retirados por volta de meia-noite.”

Repercussão positiva da megaoperação abriu janela de oportunidades, diz Castro

Para Castro, a repercussão da megaoperação abriu uma “janela de oportunidade” para avançar em três frentes: retirada de armas das comunidades, remoção de barricadas e asfixia financeira do crime. Ele afirmou que a Polícia Civil intensificou investigações para atingir a economia das facções.

Diante das críticas ao número de mortos, Castro diz preferir destacar os 99 presos na operação. “Isso mostra que foi uma ação para prender. O que impressiona é drone jogando bomba, gente fortemente armada na mata. Quem trocou tiros por 18 horas foi o tráfico. O que deve chocar é o grau de criminalidade e o poder bélico contra o Estado.”

Questionado sobre o relato do Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF), que menciona duas mortes atípicas — uma por tiro à curta distância e outra por decapitação — ele declarou: “É uma guerra. Não creio que alguém tenha tido tempo ou tranquilidade para fazer isso. Isso foi criminoso tentando jogar a culpa na polícia.”

Castro defende associar facções a terrorismo, mas admite negociar projeto

Sobre o projeto de lei antifacção em discussão no Congresso, defendeu o enquadramento de criminosos como terroristas, mas admitiu negociar. “Não adianta inflamar o debate e travar um texto que possa ser útil. Se não der para chamar de terrorismo, vamos buscar os instrumentos para o enfrentamento real.”

Castro argumenta que tem havido exagero nas críticas sobre risco de intervenção externa, no caso de associar facções a terrorismo. “Tirando a Primeira e a Segunda Guerra, não lembro de uma nação continental, democrática e com instituições fortes ter sido invadida. Isso é discurso demagógico. Com a classificação de terrorismo, poderíamos seguir o dinheiro e reduzir o poder financeiro das facções, que alimenta seu poder bélico.”

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