COP 30 Belém
A COP 30 acontece no Parque da Cidade, área onde funcionava o antigo aeroporto de Belém. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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A realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP 30 em Belém coloca o Brasil sob os holofotes da transição energética global. Com toda essa grande movimentação, o mundo espera de nós, não apenas discursos sobre sustentabilidade, mas sim, demonstrações práticas de como uma economia emergente pode se desenvolver com base em uma matriz limpa, estável e competitiva.

No entanto, para converter essa capacidade em liderança, é preciso fortalecer o setor elétrico em sua infraestrutura, regulamentação e capacidade para inovação.

Ao olharmos para o futuro com uma perspectiva otimista, sem dúvida, a COP 30 servirá para mostrar que o Brasil pode ser um líder não só em geração de energia limpa, mas sim, na governança climática

Sem dúvida, possuímos um ponto de partida vantajoso. Hoje, cerca de 90% da eletricidade consumida no País vem de fontes limpas, frente a uma média global de 40%. Os dados fazem parte de um documento com recomendações estratégicas para o fortalecimento da matriz elétrica brasileira apresentado pela Coalizão do Setor Elétrico, articulado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com curadoria técnica e estratégica da PSR Consultoria ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30.

O material teve o apoio de seis associações do setor e a participação de mais de 70 entidades, reunidas em quatro eixos temáticos: Geração, Transmissão, Distribuição e Consumo. A pesquisa sugere ações práticas para assegurar que o País mantenha uma percentagem superior a 90% de energia renovável no setor, com uma diminuição de até 176 milhões de toneladas de CO₂ anualmente, unindo descarbonização e progresso industrial.

Entre as demandas apresentadas no documento, destacam-se a modernização regulatória, a eliminação de subsídios ineficientes, o planejamento coordenado da ampliação da infraestrutura elétrica e o incentivo à inovação tecnológica.

Esta é uma agenda madura, que destaca a importância do setor elétrico como líder na transição energética e mostra que o Brasil possui capacidade para liderar, com equilíbrio e responsabilidade, a nova economia de carbono reduzido.

Com todo esse crescente debate, percebe-se claramente que o setor elétrico será sem dúvida, o coração da descarbonização da economia, como defendido por muitos especialistas. É ele que viabiliza a eletrificação de transportes, a indústria verde e o avanço das cidades inteligentes.

No entanto, há um ponto de atenção, ou seja, precisamos discernir matriz limpa de sistema seguro. O Brasil precisa enfrentar a crescente complexidade da operação do sistema, compensando fontes intermitentes como solar e eólica e a geração firme, proveniente de hidrelétricas com reservatórios e térmicas de baixo carbono.

Essa expansão das renováveis precisa vir acompanhada de investimentos robustos em transmissão, digitalização e armazenamento. Esse é o único caminho para garantir que a energia limpa gerada nos extremos do país chegue com confiabilidade aos grandes centros consumidores.

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Nos próximos anos, a estabilidade do setor dependerá de como enfrentaremos questões estruturais. Elas envolvem a atualização do marco regulatório, a previsibilidade dos leilões, o aprimoramento da precificação da energia e a integração tecnológica das redes.

Um ponto para ser levado em consideração é de que a falta de uma regulamentação clara ainda impede que se atraiam investimentos de longo prazo, especialmente em iniciativas que precisam de segurança jurídica e um retorno gradual. Desafios que precisam de coragem e um planejamento regulatório.

No entanto, ao olharmos para o futuro com uma perspectiva otimista, sem dúvida, a COP 30 servirá para mostrar que o Brasil pode ser um líder não só em geração de energia limpa, mas sim, na governança climática. Para isso, debater agora o fortalecimento do setor energético incorporado a políticas que fomentem a fabricação local de equipamentos e que refletem na geração de empregos, aumento de renda e inovação, é mais do que necessário.

Com a COP 30, o Brasil vive um momento extremamente oportuno para ressaltar o quão o setor elétrico é indispensável para o desenvolvimento da sustentabilidade tão em pauta pelo momento. Para que o setor possa estar no centro da transição energética global precisamos mais do que nunca fomentar o debate da importância dele e agir com visão, ousadia e comprometimento no longo prazo.

Marcelo Mendes é gerente geral da KRJ Conexões. É economista e executivo de marketing e vendas do setor eletroeletrônico há mais de 15 anos.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos