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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (à esquerda), e o diretor de Política Econômica, Diogo Abry Guillen (à direita), durante evento em setembro de 2025. (Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central do Brasil)

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A taxa Selic terminará 2025 em 15%. Na última reunião deste ano, o Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, manter os juros no mesmo patamar em que se encontram desde junho. Já era uma decisão esperada – talvez até mesmo governistas e outros aliados do presidente Lula também soubessem que as chances de suas reclamações serem ouvidas pelo Copom eram praticamente nulas. E qualquer um que não esteja usando antolhos ideológicos ou seja adepto do terraplanismo financeiro sabe que uma redução, neste momento, era de fato improvável.

O comunicado da reunião encerrada na última quarta-feira é praticamente idêntico ao de novembro, com a exceção de uma ou outra palavra e de leves mudanças nas previsões de inflação: de 4,5% para 4,4% em 2025, e de 3,3% para 3,2% no segundo trimestre de 2027, que é o “atual horizonte relevante de política monetária”, de acordo com o comunicado – a meta atual para o IPCA, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo.

Enquanto Lula trata o limite inferior da meta fiscal como o objetivo a perseguir, os diretores do Banco Central de fato buscam levar a inflação para a verdadeira meta

E esta é a diferença fundamental entre o Copom e o governo federal. Enquanto Lula e Fernando Haddad tratam o limite inferior da meta fiscal como o objetivo de resultado primário a perseguir (apesar das advertências do Tribunal de Contas da União), os diretores do Banco Central de fato buscam levar a inflação para a verdadeira meta; em outras palavras, não se trata de contentar-se com um IPCA de 4,5%, mas de conseguir que o índice chegue aos 3%. Como essa convergência para a meta só está prevista para daqui a um ano e meio, ainda é cedo para iniciar um ciclo de afrouxamento monetário, por mais que a atividade econômica já tenha começado a desacelerar, como demonstra o resultado do PIB do terceiro trimestre, que inclusive é mencionado no comunicado.

E mesmo a perspectiva de início da redução dos juros corre risco no ano que vem. Em busca da reeleição, Lula dá mostras de que gastará tudo o que for necessário, especialmente em busca de votos das classes baixa e média. Os benefícios sociais em expansão desmedida, as isenções de impostos planejadas irresponsavelmente, e o estímulo ao consumo para manter a economia aquecida – acima de suas possibilidades – puxam o país na direção contrária à desejada pelo Banco Central. As menções do comunicado a uma “política monetária em patamar significativamente contracionista” e à “manutenção do nível corrente da taxa de juros”, ambas “por período bastante prolongado”, não são gratuitas: são um aviso, frequentemente ignorado, de que políticas gastadoras forçam a continuidade dos juros altos.

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Para sorte de Lula, talvez o Copom não veja razão para manter os juros necessariamente nos 15% atuais – o mercado financeiro trabalha com uma Selic de 12,25% ao fim de 2026, segundo o Boletim Focus. Não deixará de ser uma taxa alta, mas o petista ainda poderá tentar levar o crédito por uma queda nos juros no momento que mais importa. Basta aos marqueteiros de campanha esconder o fato de que a Selic só chegou aos maiores níveis em quase 20 anos devido às políticas do próprio Lula.