Governadores Romeu Zema e Ronaldo Caiado, durante evento da Frente do Livre Mercado sobre a segurança pública. (Foto: Ana Carolina Curvello/ Gazeta do Povo)

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O debate sobre segurança pública na Câmara dos Deputados reuniu nesta quarta-feira (12) governadores que defenderam uma postura mais dura do Estado contra o crime organizado, com destaque para a equiparação das facções criminosas ao terrorismo — proposta que ganhou força entre aliados da oposição e setores do centro, mas pode ser colocada de lado na votação do Projeto de Lei Antifacção.

Os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO), Jorginho Mello (PL-SC) e a vice-governadora Cellina Leão (PP-DF) cobraram mudanças na legislação penal e criticaram decisões do Judiciário que, segundo eles, fragilizam o enfrentamento ao crime. Todos defenderam a ampliação do rigor punitivo e o reconhecimento das facções como organizações terroristas, o que permitiria penas mais severas e maior integração das forças de segurança.

“Essas organizações agem com estrutura e poder equivalentes a grupos terroristas. Não há como combatê-las com leis brandas ou interpretações que favorecem a impunidade”, afirmou Zema.

Caiado reforçou a necessidade de retomar a autoridade do Estado dentro dos presídios e alertou para o avanço do crime organizado sob decisões judiciais que “tiram poder dos gestores e enfraquecem as polícias”.

“Estamos enxugando gelo. O crime está cada vez mais articulado e o Estado cada vez mais limitado. É preciso enfrentar a leniência institucional que protege criminosos e fragiliza quem está na linha de frente”, disse o governador de Goiás.

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, também endossou a tese da equiparação, afirmando que o Brasil “não pode tratar terror de facções com o mesmo código de quem comete crimes comuns”.

“Esses grupos aterrorizam comunidades, impõem toque de recolher, atacam delegacias, queimam ônibus e matam inocentes. Isso é terrorismo. E enquanto o Congresso não reconhecer, vamos continuar enxugando gelo”, disse Jorginho.

Durante o evento, promovido pela Frente Parlamentar do Livre Mercado, os governadores formalizaram o Pacto pela Segurança Pública, documento que reafirma o compromisso com uma proposta “estruturante e consistente” de combate ao crime organizado, incluindo a integração entre os sistemas de inteligência estaduais e federal e penas mais severas para líderes de facções.

Câmara pode votar PL Antifacção nesta quarta (12)

O debate ocorre em meio à tramitação de dois textos: o projeto de lei relatado pelo deputado Capitão Derrite (PL-SP), que endurece penas e amplia a integração das forças policiais, e a PEC da Segurança, sob relatoria de Mendonça Filho (União-PE).

Apesar da pressão de governadores e de parte da bancada da segurança, Derrite recuou da proposta inicial que equiparava as facções criminosas ao terrorismo. O texto apresentado manteve o endurecimento das penas e ampliou a integração dos sistemas de inteligência das forças policiais, mas deixou de fora a classificação das facções como organizações terroristas — ponto que ainda deve ser retomado em outra proposta em tramitação na Câmara.

No encontro com os governadores, Derrite destacou a importância de uma legislação eficaz e alertou para o risco de o projeto “morrer na praia” por disputas ideológicas.

“A gente está conseguindo unir quem atua na prática na segurança pública com quem estuda o tema. Nos últimos 40 anos o Congresso nunca aprovou uma lei que puna de forma adequada os membros de organizações criminosas. É o momento de entregar uma resposta real à população”, afirmou.

Derrite relatou ter sofrido ameaças do Primeiro Comando da Capital e disse que o novo texto cria um marco legal autônomo para o combate ao crime organizado, com penas de 20 a 40 anos e cumprimento mínimo de 70% da pena em regime fechado, apesar de não mencionar a equiparação com o terrorismo. Ele também criticou o Projeto Antifacção apresentado inicialmente pelo governo federal, que previa a possibilidade de redução de pena para integrantes de facções, e defendeu a criação do Banco Nacional de Membros de Organizações Criminosas, com interoperabilidade entre os estados.

Em relação à PEC da Segurança, Mendonça afirmou que o texto original era “cosmético” e inconstitucional por interferir na autonomia dos estados, mas que sua versão deve incorporar a progressão zero para crimes hediondos — endurecendo o cumprimento de penas. O texto final da PEC será apresentado no dia 4 de dezembro.

“Se é inconstitucional, que se coloque na Constituição e se resolva o problema. A sociedade está cansada de respostas utópicas. É hora de mudar a forma de pensar o combate ao crime”, disse o relator.

O líder do Novo, Marcel van Hattem (RS), destacou que há apoio majoritário para votação do texto de Derrite ainda nesta terça-feira e reforçou o coro dos governadores em defesa da equiparação das facções ao terrorismo.

“Paraguai e Argentina já declararam o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas. Como o Brasil pode não fazer o mesmo?”, questionou o deputado.

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