Japão define teto de trabalhadores estrangeiros e expõe contraste com o debate migratório dos EUA
Ao adotar imigração econômica controlada, Tóquio segue caminho oposto ao impasse político americano; brasileiros podem acessar os programas
A decisão do governo do Japão de fixar em 1,23 milhão o número de trabalhadores estrangeiros aceitos por meio dos programas “Specified Skilled Worker” e do novo sistema de “employment for skill development” revela mais do que uma resposta técnica à falta de mão de obra. Ela expõe um contraste direto com a forma como os Estados Unidos lidam com a imigração.
Enquanto o Japão transforma escassez de trabalhadores em política pública clara, com números definidos, setores-alvo e controle estatal rígido, os Estados Unidos continuam presos a um debate altamente politizado, fragmentado e frequentemente ideológico, no qual imigração se mistura com fronteira, segurança, eleições e identidade nacional.
No Japão, o discurso é direto: faltam trabalhadores, a população envelhece e a economia precisa funcionar. A solução é importar mão de obra de forma organizada, temporária ou semipermanente, com regras explícitas.
Nos Estados Unidos, embora a economia também dependa fortemente de imigrantes, o tema segue travado no Congresso, oscilando entre endurecimento retórico e tolerância prática.
O modelo japonês não é liberal no sentido clássico. Não há promessa de integração irrestrita nem de imigração em massa. O que existe é imigração funcional: estrangeiros entram para trabalhar onde o mercado exige, sob contratos definidos e com expectativa clara de retorno ou progressão controlada dentro do sistema.
Já os Estados Unidos convivem com um paradoxo. O país atrai milhões de imigrantes, legais e ilegais, mas não consegue estruturar um sistema coerente que alinhe demanda econômica, controle migratório e regularização. O resultado é dependência informal, insegurança jurídica e conflito político permanente.
Nesse cenário, o Japão faz algo que Washington ainda evita: admite o problema e fixa um número.
A pergunta que surge naturalmente é se há espaço para brasileiros nesse novo desenho japonês. A resposta é sim. O programa “Specified Skilled Worker” não é restrito a uma nacionalidade específica. Brasileiros podem se candidatar, desde que atendam aos requisitos exigidos, que incluem testes de habilidade técnica e proficiência básica na língua japonesa, além de contrato com empregador habilitado.
Historicamente, brasileiros já têm presença relevante no Japão, especialmente descendentes de japoneses. Mas os programas atuais não se limitam a esse grupo. Eles são voltados a estrangeiros em geral, desde que preencham os critérios técnicos definidos pelo governo japonês.
Setores com demanda recorrente incluem indústria, construção, agricultura, serviços, cuidados pessoais e áreas operacionais onde a falta de mão de obra local é mais aguda. O novo sistema de “emprego para desenvolvimento de habilidades” amplia esse caminho ao combinar trabalho e formação, criando uma porta de entrada adicional para quem ainda não possui alta qualificação.
Diferentemente dos Estados Unidos, onde o acesso legal ao mercado de trabalho pode ser longo, incerto e sujeito a mudanças políticas abruptas, o Japão aposta em previsibilidade. As regras são duras, mas claras. O limite é rígido, mas conhecido.
O contraste é evidente. Enquanto os EUA discutem imigração como problema político, o Japão a trata como ferramenta econômica. Um debate é emocional. O outro é pragmático.
Para brasileiros em busca de oportunidades no exterior, isso significa que o Japão deixa de ser apenas uma exceção culturalmente fechada e passa a ser uma opção concreta, ainda que exigente. Não é um convite irrestrito, mas é uma porta oficialmente destrancada.
E, no mundo atual, portas destrancadas com regra clara valem mais do que discursos inflamados sem solução.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

