Menopausa vai além do calorão: cuide dos ossos, do coração e da cabeça

Com informação, acolhimento e cuidados certos, essa fase pode ser vivida com saúde, autonomia e bem-estar, reduzindo sintomas e prevenindo doenças

  • Por Brazil Health
  • 19/12/2025 08h00
Freepik Mulher idosa a lutar com febre alta Tratar a menopausa apenas como “mais uma idade” ou “fase comum da vida” subestima a complexidade da transição

Menopausa não é o fim: é a fase que mais exige cuidado, apoio e informação, já que transformações hormonais, emocionais e corporais exigem orientação adequada e uma rede de suporte para que a mulher atravesse esse período com saúde e qualidade de vida.

A menopausa é o marco biológico que assinala o fim da fase reprodutiva de uma mulher, ocorre quando os ovários deixam de liberar óvulos e a produção de hormônios sexuais — como o estrogênio — cai de forma permanente. Tecnicamente, considera-se que a menopausa aconteceu depois de 12 meses consecutivos sem menstruação, desde que não haja outra causa clínica (antes disso, o período de transição é considerado climatério). Na maioria dos casos, a menopausa natural ocorre por volta dos 45 aos 55 anos, embora haja variações individuais.

É no climatério que as alterações hormonais começam a se refletir no corpo e na vida da mulher: os ciclos menstruais tornam-se irregulares, e sintomas como ondas de calor, alterações de humor e distúrbios do sono podem surgir.

Hoje, com o aumento da expectativa de vida, muitas mulheres vivem décadas na pós-menopausa, uma fase da vida tão longa quanto relevante. Esse “novo tempo” traz desafios e oportunidades para a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida — dimensões que merecem visibilidade médica e social.

Os efeitos da menopausa vão muito além dos sintomas tradicionais, como o calorão. A queda no estrogênio está associada a mudanças no metabolismo, na sexualidade e na saúde urogenital, além do aumento do risco cardiovascular e da modificação no perfil lipídico. Também há perda óssea acelerada e, consequentemente, maior risco de osteoporose e fraturas, assim como alterações de humor — aspectos que, como um todo, interferem profundamente no bem-estar.

Por isso, tratar a menopausa apenas como “mais uma idade” ou “fase comum da vida” subestima a complexidade da transição. Para muitas mulheres — especialmente aquelas que vivem várias décadas após a menopausa — esse é um momento-chave de reavaliação da saúde integral: não apenas ginecológica, mas também óssea, cardiovascular, emocional e funcional.

Neste artigo, convido a leitora a enxergar a menopausa na maturidade não como um fim, mas como uma nova etapa de vida, que pode e deve ser vivida com saúde, autonomia, cuidado e dignidade.

O que acontece no corpo e na mente durante a menopausa?

A chegada da menopausa marca uma série de transformações nem sempre visíveis, em diferentes sistemas do corpo e também no emocional e na cognição. A explicação dessas mudanças ajuda a entender por que a menopausa não deve ser vista apenas como o fim da menstruação, mas como um novo capítulo da saúde da mulher. A principal mudança é a queda progressiva na produção de estrogênio e progesterona. Essa instabilidade hormonal pode provocar uma combinação de sintomas que variam em intensidade de mulher para mulher, como:

  • Ondas de calor e suores noturnos: devido a alterações na regulação da temperatura corporal, muitas mulheres sentem calor súbito, sudorese, rubor no rosto e palpitações.
  • Irritabilidade, alterações emocionais e até dificuldades cognitivas (tanto pelas mudanças hormonais quanto pelos distúrbios do sono).
  • Insônia e cansaço excessivo: causados pelos suores noturnos e despertares frequentes.
  • Secura vaginal e desconforto na relação sexual, por mudanças na lubrificação, com dor na relação e até diminuição da libido.
  • Perda de massa óssea, por alterações na manutenção da densidade óssea.
  • Ganho de peso, especialmente na região abdominal.
  • Ressecamento de pele e mucosas e enfraquecimento de cabelos e unhas.
  • Mudanças no metabolismo cardiovascular, com menor proteção de coração e vasos pela queda do estrogênio, elevando o colesterol ruim e o risco de infarto e pressão alta.

É importante reforçar que não existe “menopausa igual para todas”, e que cada mulher vive o processo de forma singular. Essas transformações físicas e mentais colocam a menopausa como um período de vulnerabilidade — podendo impactar não só a saúde orgânica, mas também a qualidade de vida, o bem-estar psicológico, a sexualidade, a autoestima e a funcionalidade no dia a dia.

Como lidar com os sintomas e manter a qualidade de vida?

Quando uma mulher entra no climatério e na menopausa, não basta reconhecer os sintomas; é essencial buscar acompanhamento profissional para avaliar sintomas, exames e estratégias de cuidado. As recomendações podem incluir:

  • Ajustes no estilo de vida, com alimentação equilibrada, suplementação vitamínica quando necessário e atividade física regular.
  • Exames de perfil hormonal e cardiometabólico, avaliação da saúde óssea e exames ginecológicos de rastreio de rotina.
  • Orientações de bem-estar global, com práticas para melhorar o sono, gerenciamento do estresse e evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
  • Terapias complementares, como mindfulness e psicoterapia.

Em casos específicos, pode ser indicada a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), sempre com avaliação individualizada e monitoramento regular. Quando bem indicada, essa terapia pode reduzir desconfortos e prevenir riscos ósseos e cardiometabólicos. O acompanhamento deve considerar a mulher como um todo — não apenas o sistema reprodutivo — levando em conta seu bem-estar físico, psicológico, sexual e social. Isso permite decisões terapêuticas e de cuidado alinhadas com sua realidade e expectativas.

Por que acolhimento e informação fazem diferença

Há dados recentes que mostram que um percentual expressivo de mulheres com sintomas da menopausa não busca ou não recebe tratamento adequado — mesmo quando os efeitos são severos —, muitas vezes acreditando que precisam “aguentar” ou que seus sintomas não têm importância. Outras lidam com estigmas sociais que associam a menopausa ao envelhecimento, à perda de vitalidade ou à diminuição da feminilidade — ideias ultrapassadas que aumentam o sofrimento emocional.

Acolher significa ouvir sem julgar, validar a experiência da mulher e oferecer apoio prático e emocional. Informação de qualidade ajuda a entender o que está acontecendo, reduz a ansiedade e facilita decisões sobre tratamento.

A menopausa não deve ser sinônimo de desconforto ou perda de qualidade de vida. Com acompanhamento adequado e suporte, esse período pode se tornar um momento de redirecionamento e renovação, além de autoconhecimento e fortalecimento. Cuidar dessa fase é cuidar de toda a trajetória de saúde da mulher.

Dra. Julianne Pessequillo – CRM 160.834 | RQE 71.895
Geriatra e clínica geral, especializada em longevidade saudável
Membro da Brazil Health