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Não existe cidade perfeita. Muitos municípios se destacam pela segurança, mas não têm boas oportunidades de trabalho. Outros têm emprego e segurança, mas falta infraestrutura básica. Alguns têm emprego, segurança e infraestrutura, mas as escolas deixam a desejar.
Ainda assim, com os dados certos em mão, é possível estimar com confiança quais são as melhores cidades para morar no Brasil. Pelo segundo ano seguido, a Gazeta do Povo fez isto: combinou 27 indicadores, com os pesos devidos, e os aplicou a todos os 5.570 municípios do país.
A premissa é simples: boas cidades são fruto de uma combinação de fatores, incluindo segurança, uma economia sólida, boas escolas, uma população bem educada, ruas arborizadas e opções de cultura. A edição de 2025 utilizou os dados mais recentes disponíveis.
O resultado pode surpreender.
Quer saber em que posição ficou a sua cidade? Busque na tabela interativa ao fim desta reportagem.
A fórmula
A nova edição do Ranking das Cidades utiliza seis indicadores a mais que a versão de 2024. Para padronizar as comparações, cada critério foi traduzido para uma nota de 0 a 10.
Ainda assim, é importante ressaltar que o ranking não pretende ser exaustivo, já que não existem dados nacionais sobre temas relevantes, como o número de furtos. Além disso, há fatores subjetivos que fogem a qualquer tipo de medição. Um deles é a beleza natural.
Também vale enfatizar que o objetivo do ranking é mostrar as melhores cidades para morar, e não avaliar o trabalho dos governos municipais — até porque boa parte dos dados leva em conta números de dois ou três anos atrás, já que muitos deles não são divulgados em tempo real.
As 10 melhores cidades para morar no Brasil
Todas as cidades do topo do ranking estão no interior e têm uma população reduzida. Apenas uma tem mais de 10 mil habitantes.
O tamanho reduzido da população costuma vir acompanhado de baixos índices de violência, o que se reflete nas boas notas alcançadas. Nenhuma das dez melhores cidades registrou homicídios ou suicídios nos bancos de dados consultados, apenas uma tem morador de rua.
Além disso, essas cidades têm em comum boas notas nos índices de educação, infraestrutura e saúde fiscal das gestões municipais. No entanto, todas apresentam opções modestas de lazer. Nenhuma delas possui sala de cinema, por exemplo.
Veja as 10 primeiras colocadas no ranking:
1) Jateí (MS)
2) Montauri (RS)
3) Paraí (RS)
4)Nova Bréscia (RS)
5) Coqueiro Baixo (RS)
6) São Bento do Sapucaí (SP)
7) Cruzália (SP)
8) Santa Salete (SP)
9) Barra Funda (RS)
10) Guabiju (RS)
A líder do ranking: segurança e prosperidade
A primeira colocada do ranking é do Mato Grosso do Sul. Jateí, localizada a cerca de 250 km de Campo Grande e com uma população de 3.596, ela pode não ser famosa, mas possui excelentes indicadores.
Quem visita a cidade se depara com ruas bem arborizadas e calçadas limpas, o que é o sinal externo de outros indicadores menos visíveis.
Entre 2019 e 2023 (período analisado para o cálculo da nota), Jateí teve zero homicídios. Zero também é o número de moradores de rua da cidade, que tampouco teve moradores internados por uso de drogas, mortes em acidentes de trânsito ou suicídios em 2024. Não há moradias com características de favelas.
Entre todos os municípios do Brasil, a média salarial foi de R$2.635. O PIB per capita médio foi de R$33,871. Jateí supera esses números com folga: o salário médio é de R$ 3.679. O PIB PIB per capita, de R$ 119.162,85.
Na infraestrutura, a cidade conta com uma coleta de lixo domiciliar que atende 99,72% das residências, e possui 97,61% de vias pavimentadas, 98,87% de iluminação pública.
Recentemente, um dos símbolos da cidade foi classificado como patrimônio imaterial e cultural do Mato Grosso do Sul: a Fogueira de Jateí. Realizada sempre na semana de 29 de junho, a festa em homenagem ao padroeiro da cidade, São Pedro, conta com a queima da maior fogueira do país, que atualmente chega a impressionantes 60 metros de altura. O tradicional evento ainda tem rodeio, show pirotécnico e outras atrações típicas desse tipo de festa.
A primeira colocada no ranking da Gazeta do Povo tem sua economia impulsionada pela suinocultura. A cidade sul-mato-grossense fica na região de Dourados, a cerca de 270 km da capital Campo Grande, e tem bons índices nessa área: é o 9º maior PIB per capita e o 6º melhor salário médio do estado, segundo o IBGE.
Uma boa renda ajuda na estabilidade da população, estimada em pouco mais de 3,5 mil habitantes. É o caso da servidora pública Caroline Lima, que chegou a sair de Jateí para concluir os estudos, mas decidiu voltar “para casa” depois de formada.
“A gente tem muita segurança, uma tranquilidade muito grande por aqui. Isso se mede pelas crianças brincando nas ruas, sem perigo. Eu não troco Jateí por nada. Já saí, fui estudar em outra cidade, mas decidi voltar. Minha vida é melhor aqui”, resumiu, em entrevista à Gazeta do Povo.
"Falta gente para trabalhar"
A contadora Claudia Lasta é uma das cerca de 1,5 mil pessoas que moram na gaúcha Montauri, segunda colocada no ranking da Gazeta do Povo. Para ela, a pequena cidade se destaca em dois fatores principais: segurança e saúde.
“Principalmente para quem tem filhos, como eu, a gente consegue se sentir muito seguro aqui. E é um privilégio, para mim, poder ver essas crianças brincando na rua sem preocupações e com bastante tranquilidade”, disse ela à reportagem.
Sobre a saúde, a contadora elogiou os serviços oferecidos pelas unidades públicas do setor. “É tudo SUS, mas parece que estamos sendo atendidos em clínicas e hospitais particulares; é um suporte muito bom”, avalia.
Ela reconhece que, por conta do tamanho da cidade, há a necessidade de deslocamentos para centros maiores, como Passo Fundo, para resolver uma ou outra questão do dia a dia. Ainda assim, garante Lasta, não há motivos para deixar Montauri.
“Às vezes a gente vai para outras cidades ver algo do comércio, por exemplo. Mesmo assim, eu não trocaria a minha vida aqui por uma cidade maior. Todo mundo se conhece, então é como se fosse uma grande família. Nada se compara à tranquilidade de viver aqui”, completa a contadora.
Também na região de Passo Fundo fica Paraí, a terceira colocada no ranking das cidades. À Gazeta do Povo, o empresário Cláudio Klaus destacou, além da segurança e da saúde, a boa oferta de empregos como um dos destaques do município de 7,3 mil habitantes.

“Falta gente para trabalhar aqui, tantas são as vagas de emprego. Temos um comércio forte e uma indústria de peso. Temos uma fábrica italiana de tintas que tem sua sede brasileira aqui. Só para você ver, eu tenho um hotel aqui há oito anos e meio, e nunca, nunca aconteceu nada nem com a gente nem com os carros dos hóspedes, que acabam ficando na rua mesmo, nem precisa guardar nas garagens”, comentou.
São Paulo lidera entre as capitais
No ranking das capitais, São Paulo alcançou a melhor nota: 7,18. Apesar dos seus problemas, a maior cidade do país continua imbatível em boa parte dos quesitos.
Puxaram para cima a nota da capital paulista os bons resultados nos indicadores de emprego e economia, além de um índice de homicídios relativamente baixo quando comparado às outras capitais. Apenas Florianópolis tem um desempenho comparável nesta categoria. O salário mensal médio dos paulistanos, segundo o IBGE, é de R$ 5.427,80 e o PIB per capita é de R$ 66.872,84.
Em segundo lugar, com uma nota 6,78, ficou a capital mineira, Belo Horizonte. Com mais de 2,4 milhões de habitantes, a cidade teve bons resultados em infraestrutura, economia e saúde. De acordo com o IBGE, o salário mensal médio na cidade é de R$ 4.318,11, e o PIB per capita supera os R$ 41 mil. Além disso, possui mais de 800 médicos para cada 100 mil moradores e rede de esgoto que atende mais de 97% das residências.
Fechando o top 3 das capitais, aparece Curitiba, com uma nota de 6,66 puxada principalmente pelos resultados nos indicadores de emprego, educação e economia. A cidade possui um dos maiores índices de moradores com curso superior no país, além de uma taxa de alfabetização de 98,4%. O salário médio mensal na capital paranaense é de R$ 4.774,41, e o PIB per capita supera os R$ 49 mil, segundo o IBGE.
As melhores cidades médias
Para muitos brasileiros, o tamanho da cidade é um fator fundamental. Talvez Jateí seja pequena demais, e São Paulo (e até mesmo Ribeirão Preto) seja grande demais. As cidades médias costumam ter muitas virtudes.
Partindo do pressuposto de que cidades médias são aquelas entre 100 e 500 mil habitantes, a primeira colocada é Valinhos (SP), na Região Metropolitana de Campinas. A cidade recebeu nota 7,88 e alcançou a 21ª colocação no ranking geral. É a melhor cidade para se morar com mais de 100 mil habitantes e menos de 500 mil. Ela sempre é mencionada quando se montam listas das melhores cidades para se viver no Brasil. Com 132 mil moradores, tem índices baixos de homicídios e teve boas notas nos indicadores econômicos e de infraestrutura.
São Caetano do Sul (SP), na Região Metropolitana de São Paulo, é a segunda colocada nesta categoria. Em nosso ranking geral, a cidade de 172 mil moradores alcançou a 48ª posição e a segunda colocação entre as cidades médias. O município possui baixos índices de homicídios e se destaca na questão de empregos, com mais 135 mil pessoas ocupando postos de trabalho formal no município. Mais de 48% de seus moradores com mais de 25 anos de idade possuem formação superior, e o PIB per capita é de R$ 95.640,71.
Fechando o top 3 das cidades médias está Indaiatuba (SP), que possui 269 mil habitantes e mais de 195 anos de história. A principal cultura agrícola do município é a uva, e o PIB per capita local supera os R$ 87 mil. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da cidade é o melhor do estado de São Paulo e está sempre entre os melhores do país.
Os melhores e piores estados
Os estados com cidades entre as 100 melhores do ranking são Rio Grande do Sul (46), São Paulo (20) e Santa Catarina (15). Minas Gerais (10) e Paraná (7), Mato Grosso (1) e Mato Grosso do Sul (1) também aparecem.
Na média por estado, os destaques vão para Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Veja a lista:
1) Rio Grande do Sul - 6,18
2) Santa Catarina - 6,17
3) São Paulo - 6,16
4) Paraná - 5,76
5) Minas Gerais - 5,65
6) Mato Grosso do Sul - 5,62
7) Mato Grosso - 5,43
8) Goiás - 5,26
9) Rondônia - 5,22
10) Rio de Janeiro - 5,17
11) Piauí - 5,05
12) Espírito Santo - 5,03
13) Rio Grande do Norte - 4,76
14) Tocantins - 4,68
15) Paraíba - 4,64
16) Maranhão - 4,51
17) Bahia - 4,48
18) Ceará - 4,43
19) Alagoas - 4,29
20) Acre - 4,29
21) Pernambuco - 4,25
22) Sergipe - 4,21
23) Pará - 4,18
24) Amapá - 4,15
25) Amazonas - 4,08
26) Roraima - 4,04
Acesse o ranking completo
Na ferramenta abaixo, você pode buscar a sua cidade pelo nome. Todos os 5.570 municípios brasileiros estão listados.
Não houve empates no levantamento. Para simplificar a leitura, a tabela mostra apenas duas casas decimais. Belém, por exemplo, teve uma nota 5,713 contra 5,707 de Palmas. Com o arredondamento, ambas aparecem com 5,71.
Como a nota foi calculada
O ranking da Gazeta do Povo considerou 27 indicadores nacionais, que são divididos em 10 categorias diferentes. Os mais relevantes ganharam peso maior no cálculo. Confira abaixo os indicadores contabilizados em suas categorias.
- Homicídios — peso 4
Taxa de Homicídios 2019-2023, ponderada (peso maior para os anos mais recentes). Fonte: IPEA – Atlas da Violência / Estatísticas de Homicídios.
2. Economia — peso 3
Vagas de empregos formais no setor privado. Fonte: CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Agosto 2025).
Salário mensal médio. Fonte: IBGE – CEMPRE 2023.
Número de empresas atuantes. Fonte: IBGE – CEMPRE 2023.
PIB per capita 2021. Fonte: IPEA.
- Moradores de rua, favelas e dependentes químicos — peso 3
Famílias em situação de rua. Fonte: CADÚnico (CADUNC) (Outubro de 2025).
Percentual de moradores em favelas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
- Educação — peso 2
População adulta com diploma superior. Fonte: IBGE – Censo 2022.
Taxa de alfabetização. Fonte: IBGE – Censo 2022.
Nota do IDEB - Anos Finais do Fundamental. Fonte: INEP – IDEB 2023.
Nota do IDEB - Ensino Médio. Fonte: INEP – IDEB 2023.
Vagas presenciais no ensino superior. Fonte: Censo da Educação Superior 2024.
5. Saúde — peso 2 Internações por uso de drogas (jan/2024–set/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
Número de médicos (setembro/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
Total de leitos de internação (setembro/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
Mortes evitáveis de 0 a 4 anos (2025). Fonte: DATASUS/Tabnet.
6. Saúde financeira do município (Capacidade de Pagamento) — peso 2
Capacidade de Pagamento do município. Fonte: Tesouro Nacional – CAPAG.
7. Infraestrutura urbana — peso 3
Porcentagem de domicílios com esgotamento sanitário. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Porcentagem de domicílios com coleta de lixo. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Arborização urbana. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Vias pavimentadas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Bueiros e bocas de lobo (%). Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Iluminação pública. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
Porcentagem de calçadas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.
8. Mortes no Trânsito — peso 1
Mortes no trânsito por 100 mil habitantes. Fonte: DATASUS/Tabnet (2024).
9. Suicídios — peso 1
Número de suicídios. Fonte: DATASUS/Tabnet (2024)
10. Salas de cinema — peso 1
Número de salas de cinema. Fonte: ANCINE – 2025.