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O legado interrompido

15/12/2025 12:34 Pleno.News

O legado interrompido

Do mundo se leva sim alguma coisa: leva-se a vergonha de ter destruído o que não se soube honrar

Juliana Leite - 15/12/2025 09h34

Lula ao lado de Íris Abravanel, as filhas de Silvio Santos e seus maridos Foto: Ricardo Stuckert / PR

O que se abriu não foi apenas uma nova frente televisiva, mas uma ferida simbólica. O SBT, que durante décadas se sustentou na ideia — talvez ingênua, mas potente — de falar diretamente com o público, decidiu ajoelhar-se diante do sistema que sempre afirmou dispensar. A inauguração, marcada pela presença de Lula, da mulher de Alexandre de Moraes e de ministros ligados ao Banco Master, não foi um evento institucional qualquer; foi uma declaração.

Ali, sem metáforas, a emissora anunciou sua conversão: deixou de ser um espaço popular para tornar-se mais uma engrenagem da máquina estatal, dedicada a repetir narrativas oficiais travestidas de jornalismo.

O que incomoda não é a política em si — política sempre esteve presente —, mas a abdicação completa de independência. Quando uma emissora que nasceu falando com o povo passa a falar em nome do poder, algo essencial se rompe. O jornalismo deixa de intermediar a realidade e passa a administrá-la, como quem seleciona o que pode ser dito, o que deve ser suavizado e o que precisa desaparecer.

Nesse movimento, a crítica vira inconveniente, a divergência vira ruído, e a verdade, um detalhe ajustável à conveniência do governo da vez. O resultado é previsível: uma TV que não informa, apenas confirma.

Silvio Santos Foto: Roberto Nemanis/ SBT

O mais devastador, porém, não é o alinhamento político, mas a destruição de um legado. Silvio Santos construiu uma emissora que sobrevivia da confiança popular, não de aval institucional. Ao se vender ao sistema, o SBT não apenas trai sua história — esvazia seu sentido de existir. Torna-se mais uma TV estatal disfarçada, sustentada por narrativas oficiais e por um consenso artificial.

E quando isso acontece, não se perde apenas uma emissora. Perde-se um espaço de voz. Perde-se o elo com o Brasil real. E, ao contrário do que a velha frase sugere, do mundo se leva sim alguma coisa: leva-se a vergonha de ter destruído o que não se soube honrar.

Juliana Moreira Leite é jornalista especialista em cultura, escritora e curiosa. Nesse espaço vai falar sobre assuntos da atualidades sob a sua visão.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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