Para ser de direita é preciso identificar e desmascarar o erro essencial do socialismo: a crença no deus-Estado como o solucionador de todos os problemas, planejador da economia e redistribuidor da riqueza (Foto: Imagem criada utilizando Open AI/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

Sempre que um campo político gera mais incertezas do que respostas, é sinal de que precisa se olhar com mais seriedade e autocrítica. A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro provocou esse tipo de inquietação. Não se tratou apenas de um anúncio eleitoral – foi, antes de tudo, um teste de maturidade institucional para o campo conservador.

De repente, ficou evidente que o futuro de 2026 pode depender menos do adversário externo e mais da nossa própria capacidade de agir com coerência, visão e responsabilidade estratégica.

Apesar de afirmar que “não há fragmentação”, a entrada de Flávio na disputa expôs exatamente o contrário. Trouxe à tona divisões latentes, hesitações estratégicas e uma pergunta que muitos evitavam: quem, de fato, está preparado para liderar a direita nas eleições de 2026?

É aqui que está o ponto que precisamos observar. Se a direita não se reorganizar agora, corre o risco de desperdiçar uma janela histórica de oportunidade. Por outro lado, se compreender a urgência da convergência, pode impedir que o PT vença em 2026 antes mesmo da largada oficial da eleição.

Para vencer a esquerda, a direita precisa de unidade real – não apenas retórica – e de um nome capaz de integrar conservadores, liberais e centro-direita. Isso requer pragmatismo, lucidez e responsabilidade

Os dados reforçam esse alerta. Uma pesquisa mostra que 35% dos brasileiros ainda identificam Jair Bolsonaro como líder da direita, enquanto Flávio registra apenas 1%. Fica difícil articular unidade quando o eleitorado conservador sequer reconhece a legitimidade do nome que se apresenta como herdeiro político.

Outro dado recente é que Flávio enfrenta 38% de rejeição, não lidera nenhum cenário e não vence Lula em nenhuma simulação de segundo turno. Seu apelo permanece restrito ao núcleo bolsonarista – fiel, é verdade, mas insuficiente para vencer uma eleição presidencial.

Outro obstáculo é a reação do centro político e do mercado. Apesar dos esforços para conquistar apoio de setores moderados e investidores, Flávio enfrenta resistência significativa. A avaliação corrente em partidos de centro-direita é de que sua candidatura carece de competitividade. Um exemplo disso foi a reação do mercado quando seu nome foi divulgado como pré-candidato: a Bolsa de Valores caiu e o dólar subiu.

Enquanto isso, governadores como Ratinho Jr., Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Tarcísio mantêm índices de aprovação elevados, baixa rejeição e comprovada habilidade de diálogo com o centro. São lideranças que ampliam, atraem e unificam – três verbos cruciais para qualquer projeto que pretenda derrotar o PT. E é nesse ponto que precisamos convergir: a direita precisa se unir em torno de um projeto.

VEJA TAMBÉM:

É justamente por isso que a pré-candidatura de Flávio representa um impasse. Ao declarar que sua candidatura “tem preço” e pode ser retirada mediante certas condições, o senador rebaixa um projeto nacional de redemocratização do país à condição de moeda de troca.

Para vencer a esquerda, a direita precisa de unidade real – não apenas retórica – e de um nome capaz de integrar conservadores, liberais e centro-direita. Isso requer pragmatismo, lucidez e responsabilidade estratégica.

O problema não é a ausência de candidatos, mas a falta de uma decisão política madura. O momento exige menos personalismo e mais compromisso com o país. Menos disputas internas e mais construção de convergência.

Sem unidade, a direita seguirá à mercê da própria sombra e de suas vaidades – e 2026 corre o risco de ser mais um ano perdido, mantendo o país refém do PT.

Fabio Oliveira é especialista em gestão pública e deputado estadual pelo Paraná.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos