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As declarações do chanceler alemão durante sua passagem por Belém, criticando a desorganização urbana, a precariedade estrutural e a falta de planejamento básico na capital paraense, ganharam proporções que ultrapassam a diplomacia. A fala do chanceler resume a situação de Belém e de várias capitais brasileiras: “É difícil compreender como uma cidade que deveria ser vitrine mundial enfrenta problemas tão básicos.”
O episódio acende um alerta incômodo: o Brasil, mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, continua oferecendo ao visitante — e ao próprio cidadão — serviços públicos e infraestrutura muito aquém do que sua carga tributária permitiria esperar.
É inadmissível que várias capitais brasileiras tenham graves problemas de transporte público, criminalidade, saúde, iluminação, sujeira e saneamento básico. Essas dificuldades já seriam preocupantes por si só; no entanto, tornam-se ainda mais graves diante dos elevados impostos pagos pela sociedade brasileira.
Embora a carga tributária, calculada pelo total de arrecadação em proporção do PIB, chegue a 34%, outros cálculos indicam que os impostos pagos pela classe média brasileira consomem 50% de sua renda, considerando todos os tributos (IR, IPI, ICMS, IPTU, IPVA, etc.).
A carga tributária brasileira assemelha-se à de países europeus, mas sem a eficiência dos serviços públicos de nações de primeiro mundo. Ao contrário, a população precisa pagar escolas particulares e planos de saúde privados para ter acesso à boa educação e atendimento médico-hospitalar de qualidade.
Os transportes também são precários. Em várias capitais, não há metrô. Na principal megalópole da América Latina, não existe um trem que ligue o aeroporto ao centro da cidade. Trânsito caótico e poluição (do ar, sonora e visual) também compõem o cenário de várias cidades brasileiras.
Mas nenhum problema é tão grave quanto a falta de segurança. É impossível sentir-se absolutamente seguro em qualquer cidade brasileira. O medo não é à toa: aproximadamente 500 mil pessoas foram assassinadas nos últimos 10 anos.
Apesar de toda a ineficiência estatal presente em diversas áreas (saúde, educação, infraestrutura, transportes e segurança pública), o brasileiro pede mais Estado para resolver seus problemas. Numa contradição absoluta, muitos cidadãos acreditam que o grande causador de seus problemas será também seu salvador. É comum brasileiros reclamarem do governo, mas votarem em políticos que prometem mais Estado.
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O que a população não entende é que mais Estado significa mais impostos, sem a devida contrapartida em qualidade de serviços
Dado que o Estado brasileiro é ineficiente, por que não pedir menos impostos, a fim de sobrar mais dinheiro na mão das famílias e não do governo? Sem dúvida, o indivíduo sabe como gastar seu dinheiro melhor do que políticos e burocratas.
Entretanto, após anos de doutrinação cultural de esquerda, é muito difícil implementar ideais liberais na mente das pessoas, apelando à responsabilidade individual, sem a crença ingênua de que o governo vai nos salvar.
A defesa de ideais liberais não encontra apenas respaldo teórico, mas também empírico. Como demonstrado em artigos anteriores nesta coluna, o liberalismo está associado a maior desenvolvimento econômico. Basta verificar que os cinco primeiros colocados do Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation são: Singapura, Suíça, Irlanda, Taiwan e Nova Zelândia.
Infelizmente, o Brasil está no pior dos dois mundos: temos a carga tributária da Alemanha e os serviços públicos de Belém.
