Perspectivas para a economia estão atreladas à política

Governo e Congresso podem dificultar os esperados ajustes

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 01/12/2025 16h17
BRASÍLIA,DF,29.10.2014:COPOM-JUROS - Sede do Banco Central em Brasília (DF), nesta quarta-feira (29). A taxa básica de juros da economia (Selic), válida para os próximos 45 dias, será anunciada hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BDC). A reunião que vai definir a Selic, a penúltima do ano, começou ontem (28) à tarde, com apresentações técnicas e discussões sobre a conjuntura econômica. (Foto: Charles Sholl/Futura Press/Folhapress) Charles Sholl/Futura Press/Folhapress O mercado dá como certo que a Selic tenha uma trajetória de queda a partir do próximo ano

A economia brasileira tem apresentado resiliência maior que se previa diante da manutenção de juros elevados por tanto tempo, com a Selic nos atuais 15% ao ano. Em tese, isso deveria ter produzido uma freada mais intensa na atividade e, como consequência, também no mercado de trabalho, na demanda, reduzindo o espaço para reajustes de preços. Em vez disso, a economia mantém expansão acima das projeções iniciais, o mercado de trabalho registra o menor patamar de desemprego da série histórica, com recorde também da massa salarial, o que dá fôlego para o consumo. E fôlego maior para os Serviços, um dos focos de resiliência da inflação. Diante disso, fica a dúvida: quando e com qual intensidade teremos cortes dos juros básicos.

O mercado dá como certo que a Selic tenha uma trajetória de queda a partir do próximo ano. As projeções de inflação em queda, com a deste ano, já abaixo do teto da meta, de 4,5%, que ninguém imaginava algumas semanas atrás, reforçam a perspectiva. O problema, é que o foco do Banco Central, na calibragem da política monetária, é o centro da meta, de 3%, em horizonte maior. Horizonte que só deve ser atingido lá pra 2028. Desde que até lá os vários fatores de influência não atrapalhem a convergência do IPCA para esse ponto central da meta.

Nesse sentido entra a questão política. Parte do fôlego da economia vem de programas sociais, transferência de renda do setor público, o reajuste real do salário mínimo, que ampliam o poder de compra. A partir do ano que vem ainda vai ter a isenção maior do imposto de renda. Milhões de brasileiros com um dinheirinho a mais, não só pra trocar a TV, como destacou o presidente Lula no pronunciamento de domingo.

Nada contra boas condições de emprego e renda ou a melhora do poder aquisitivo. Com o desequilíbrio social que temos no País, seria muito bom que houvesse condições para reforço ainda maior. Só que isso acaba reduzindo o impacto da política monetária. O aperto, via juros elevados, pode se arrastar por mais tempo. O que também castiga a população. Basta ver os dados de endividamento e inadimplência.

Agora, também é preciso considerar que essas iniciativas do governo aumentam as incertezas quanto à evolução das contas públicas, o cumprimento das metas de ajuste. O governo pode até cumprir as metas, usando estratégias como medidas para ampliar arrecadação ou excluir gastos, dos limites previstos no arcabouço, como os precatórios (dívidas judiciais).

Mas persiste um cenário de incerteza, que pesa nas perspectivas também para a inflação. E a própria política de juros elevados, mantida, em parte, pelas condições fiscais, piora o cenário. Os juros ampliam a dívida pública, que nas projeções oficiais pode chegar a 79% até do ano. O problema não é o tamanho, mas as condições de bancar a dívida em expansão, sem sobra de caixa, com orçamento apertado como temos no Brasil.

Fora a posição do governo em relação aos gastos, agora tem o embate com lideranças do Congresso, que pode atrapalhar o avanço de pautas que ajudariam a assegurar um cenário fiscal menos preocupante para 2026, ano de eleições.

Mais que barrar iniciativas do governo, esse clima ainda pode levar à aprovação das pautas bomba, que comprometam mais o equilíbrio das contas, sem esquecer a pressão exercida por parlamentares na defesa das emendas. Cobram cortes, mas mantêm as próprias prioridades e resistem à redução de benefícios e estímulos tributários.

Enfim, diante de todas fragilidades do cenário econômico, a política, até por interesses eleitoreiros, nos vários aspectos, pode tornar os ajustes mais difíceis, o que vale para as finanças pública e, também, para a inflação.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.