PIB reforça ânimo quanto ao corte dos juros, mas BC deve manter as rédeas curtas.
Um outro fator pode reforçar o início dos cortes da Selic, na primeira reunião do Copom de 2026, que é a possibilidade de um novo corte das taxas de juros, na reunião da próxima semana do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos
A expansão do PIB, de apenas 0,1% no terceiro trimestre, reforçou a expectativa quanto ao início do corte dos juros, pelo Copom, em janeiro, não só por confirmar a desaceleração da economia, em geral, mas também pela composição. O consumo das famílias cresceu apenas 0,1%, apesar dos bons números do mercado de trabalho, com patamar recorde da massa salarial. Isso mostra que os juros elevados já podem estar produzindo maior efeito sobre o ritmo de consumo, independentemente do reforço da renda proveniente do trabalho e de programas sociais. No mesmo sentido, também houve pequena expansão das importações, de 0,3%, apesar da valorização do Real frente ao dólar. Importações também refletem a evolução da demanda interna, além de investimentos.
Paralelamente aos dados do PIB, tem a inflação em queda, o IPCA 15 já ficou no teto da meta, de 4,5%, no acumulado em 12 meses. E as projeções do mercado sinalizam variação ainda menor.
Um outro fator pode reforçar o início dos cortes da Selic, na primeira reunião do Copom de 2026, que é a possibilidade de um novo corte das taxas de juros, na reunião da próxima semana do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos. Juros menores lá tendem a favorecer o fluxo de investimentos para outros mercados, com o Brasil mantendo a atratividade pelo diferencial das taxas. Semana que vem também haverá reunião do Copom, mas por aqui a aposta unânime é de manutenção da Selic em 15%.
Quanto a 2026, mesmo que haja algum corte em janeiro, fica a dúvida quanto à intensidade da queda da Selic ao longo do ano. Primeiro porque, mesmo em queda, as projeções de inflação ainda estão longe de uma convergência mais rápida para o centro da meta, que é 3%. E esse é o objetivo do Banco Central. Por outro lado, apesar dos sinais de desaceleração da economia, que pode inibir o avanço dos preços, da inflação, ano de eleições costuma registrar aumento dos gastos públicos. Sendo que no próximo ano já haverá um reforço da disponibilidade de renda para milhões de brasileiros, por conta do aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda. Condições que podem dar algum fôlego para o consumo.
Na prospecção de cenário ainda persistem as incertezas fiscais. Mesmo que o orçamento do ano que vem seja aprovado, prevendo superávit das contas públicas, nos parâmetros da meta fiscal, há dúvidas quanto à execução das receitas e despesas, fora o aumento inevitável da dívida pública. A questão fiscal é um dos pontos relevantes na calibragem da política de juros, por todas implicações pode ter sobre fatores que pesam na inflação.
Como se vê, são vários os fatores que podem influenciar o esperado corte dos juros. Corte que vai ocorrer, mas dificilmente fazendo a Selic cair para um patamar que reverta a política monetária contracionista. O BC deve manter as rédeas curtas, enquanto não tiver segurança quanto ao objetivo de fazer a inflação caminhar para o centro da meta.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.