
A Polícia Federal identificou ao menos seis viagens realizadas pela empresária e lobista Roberta Moreira Luchsinger e por Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em que as reservas aéreas foram registradas sob os mesmos códigos localizadores. Os deslocamentos incluem um trecho internacional para Portugal em 13 de junho de 2024 e cinco voos domésticos entre abril e junho de 2025.
As informações constam na nova fase da operação Sem Desconto, deflagrada na quinta-feira, 20 de dezembro de 2025, que investiga esquemas de descontos irregulares sobre aposentadorias e pensões do INSS. Roberta foi alvo de busca e apreensão. Fábio Luís não foi alvo das medidas e não é investigado formalmente.
O Supremo Tribunal Federal determinou que Roberta utilize tornozeleira eletrônica, entregue o passaporte, seja proibida de deixar o Brasil e mantenha distância de outros investigados. As medidas foram adotadas após solicitação da PF com base em indícios coletados ao longo do inquérito.
Reservas identificadas pela PF
- Guarulhos → Lisboa (Portugal), 13 de junho de 2024, voo TAP 0088, localizador 4FUJPX
- Congonhas → Brasília, 29 de abril de 2025, voo Latam 4700, localizador MKRQIZ
- Congonhas → Brasília, 27 de maio de 2025, voo Latam 3606, localizador WAUUEX
- Brasília → Congonhas, 29 de maio de 2025, voo Latam 3606, localizador DCWWNL
- Guarulhos → São Luís (MA), 19 de junho de 2025, voo Latam 3612, localizador CHEWWQ
- Congonhas → Brasília, 24 de junho de 2025, voo Latam 4700, localizador MSPQMW
Segundo a PF, em quase todas as reservas constam apenas os nomes de Roberta e Fábio Luís. No trecho para São Luís, há seis passageiros no mesmo localizador, incluindo a esposa de Lulinha, Renata de Abreu Moreira, dois filhos do casal e uma filha de Roberta.
Relações pessoais e registros no Planalto
Roberta é herdeira de Peter Paul Arnold Luchsinger, ex-acionista do Credit Suisse, e ex-esposa do ex-delegado Protógenes Queiroz. De acordo com registros obtidos via Lei de Acesso à Informação, ela esteve no Palácio do Planalto em 17 de abril de 2024, às 17h30, e em 18 de abril de 2024, às 12h30. Já Fábio Luís compareceu à sede do Executivo em 17 de janeiro de 2024, 31 de janeiro de 2024 e 7 de março de 2024.
Nas redes sociais, Roberta se declara “BFF” de Renata, esposa de Fábio Luís, descrevendo-a como “irmã de alma”. As duas possuem tatuagens idênticas, fato registrado pela PF como indício de vínculo pessoal.
Pagamentos rastreados e vínculo com o Careca do INSS
A investigação cita transações financeiras ligadas a Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS. Documentos do Coaf indicam pagamentos que somam R$ 1,5 milhão, divididos em cinco repasses de R$ 300 mil para a empresa RL Consultoria e Intermediações Ltda., de Roberta Luchsinger.
Em mensagens anexadas ao inquérito, um funcionário questiona o destino de uma nova transferência e recebe a resposta: “O filho do rapaz”. O comprovante subsequente é direcionado para a empresa de Roberta, o que levou a PF a classificar a atuação como “essencial para ocultação de patrimônio, movimentação de valores e gestão de estruturas utilizadas como instrumentos de lavagem de capitais”.
Posicionamento das defesas
Roberta afirmou por telefone, em sábado, 20 de dezembro, que não responderia diretamente e orientou que a imprensa procurasse seu advogado. Bruno Salles declarou: “Tem muita coisa completamente descontextualizada ali e que será objeto de esclarecimento no momento oportuno.”
A defesa sustenta que Roberta “jamais teve qualquer relação com descontos do INSS” e que atua apenas na “prospecção e intermediação de negócios”. Marco Aurélio de Carvalho, amigo de Fábio Luís, disse que ele permanece sem advogado porque “não é alvo das investigações”.
Divisão interna na PF e resposta do presidente Lula
Relatórios apontam divergências internas. Uma ala defende avançar sobre o possível envolvimento de Fábio Luís; outra considera precipitado, alegando falta de base robusta. Predomina, até agora, a leitura de que “o filho do presidente não está diretamente envolvido nas condutas relativas aos descontos associativos fraudulentos”.