Por que a direita está derrotando a esquerda?
Chile deve ser mais um país sul-americano com um líder conservador; se tudo continuar caminhando como está, sem nenhuma mudança brusca, teremos também pelas bandas tupiniquins mais um vencedor direitista
Não faz muito tempo, as pessoas tinham receio de admitir que eram de direita. No máximo, arriscavam um “centro-direita”, e ainda assim com as palavras saindo entre os dentes. Essa postura mudou de forma acentuada. Hoje, muitos estufam o peito para declarar sua ideologia e enfrentam a esquerda de igual para igual. Em vários países, até com vantagem expressiva nas urnas.
Tudo dá a entender que, no Chile, a direita representada por José Antonio Kast, do Partido Republicano, vencerá a coalizão da esquerda liderada por Jeannette Jara. A candidata comunista venceu no primeiro turno com 26,9% dos votos, contra 23,9% do seu opositor. A diferença foi de apenas 3%.
Ali também as pesquisas erram. E erram muito. Na sexta-feira, dia 14, apenas dois dias antes da votação, a Atlas/Intel divulgou um levantamento totalmente distinto do que ocorreu: apontava Jeannette com 14 pontos de vantagem. E não foi só. Outra pesquisa, feita pelo Radar Electoral e divulgada há duas semanas, mostrou a candidata de esquerda com 28,58%, contra 19,93% de Kast.
Teorias da conspiração
O fato curioso é que erram sempre a favor da esquerda. Deve ser coincidência, mas dá para indagar: que metodologia é essa utilizada pelos institutos? Os adeptos das teorias da conspiração já começam a duvidar da seriedade desses estudos. Independentemente dos motivos das discrepâncias, a credibilidade dessas empresas começa a perder força.
E o que garante que a direita irá superar a esquerda nas urnas? Assim que os resultados oficiais mostraram Kast em segundo lugar, apenas três pontos atrás, Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, que obteve 13,93% dos votos, e Evelyn Matthei, da União Democrática Independente, que alcançou 12,56%, declararam apoio imediato ao candidato da direita para o segundo turno, que será em 14 de dezembro.
Até Boric sentiu
O atual presidente chileno, Gabriel Boric, se pronunciou a respeito do resultado pedindo que os dois candidatos promovessem debates de alto nível, levando em conta principalmente as propostas capazes de solucionar os problemas do país: “O Chile possui uma democracia saudável e robusta que devemos continuar a proteger todos os dias. As instituições democráticas chilenas devem continuar fortalecidas”.
Boric é político experiente. Sabe que, com esses números, a esquerda terá poucas chances de vencer. Por defender ideologia de esquerda de maneira explícita, reconhece que a permanência no poder se tornou improvável.
A direita toma conta
Esse fenômeno da virada a favor da direita tem se repetido. Na Bolívia, Rodrigo Paz acabou com 20 anos sob o comando da esquerda. Na Argentina, Javier Milei conseguiu importante vitória nas eleições legislativas. Em El Salvador, Nayib Bukele mantém apoio esmagador com sua agenda de combate à criminalidade. Sem contar com a mais expressiva de todas: o resultado contundente conquistado por Donald Trump nos Estados Unidos, em todos os níveis.
Aqui no Brasil, com o enfraquecimento de Lula, o único candidato com forte representação na esquerda, mesmo sem opositores de peso se declarando concorrentes, ele pode perder para Tarcísio Gomes de Freitas ou para Michelle Bolsonaro. E se Jair Bolsonaro conseguisse o milagre da elegibilidade, com uma anistia geral e irrestrita, derrotaria Lula.
As pessoas não se diziam de direita
Portanto, se tudo continuar caminhando como está, sem nenhuma mudança brusca no movimento das nuvens, teremos também pelas bandas tupiniquins mais um vencedor da direita. É de espantar, pois a esquerda reinou aqui por mais de 20 anos. Antes de Bolsonaro vencer as eleições, a direita era quase inexistente. As pessoas se sentiam inibidas em defender essa ideologia. Hoje são maioria.
Essa virada não ocorreu por acaso. A direita agasalhou com habilidade temas e propostas que falam de perto ao interesse da população: a corrupção, que continua assombrando setores da esquerda; a violência, frequentemente negligenciada pelos governistas; e as questões morais, que se integram ao universo evangélico e católico, hoje majoritário no país.
Falta pouco tempo
A menos de um ano das eleições, Lula e seus companheiros terão pouco tempo para reagir. Todas as políticas populistas devem estar no radar dos responsáveis pela campanha, mas os recursos para contemplá-las terão de sair de algum lugar. Dos impostos, nem pensar. O país já estourou todos os limites possíveis.
Como há gente pensando 24 horas por dia no que poderá ser feito para a reeleição do presidente, talvez consigam tirar um coelho da cartola, mas não está fácil. Faltam cartolas, e faltam, mais ainda, os coelhos. Siga pelo Instagram: @polito.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
