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A violência já mudou a rotina de 72% dos brasileiros e colocou a segurança pública no topo dos principais problemas do país atrás apenas da saúde, de acordo com uma nova rodada da pesquisa Datafolha divulgada neste final de semana. O medo deixou de ser abstrato e passou a influenciar decisões simples do dia a dia, especialmente nas grandes cidades.
A alteração mais comum envolve o uso do celular, em que 56% dos entrevistados afirmam ter deixado de manusear nas ruas nos últimos 12 meses. A atitude reflete o receio constante de furtos e roubos em espaços públicos – normalmente agravados pela violência por parte dos criminosos para ter acesso a dados bancários.
O impacto também aparece nos deslocamentos diários, já que 36% dos brasileiros mudaram o caminho para o trabalho ou estudo por medo da violência. Outros 31% passaram a retirar alianças, correntes e objetos de valor ao sair de casa.
O Datafolha ouviu 2.002 pessoas em 113 municípios brasileiros entre os dias 2 e 4 de dezembro, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%. O levantamento reforça que a insegurança deixou de ser tema pontual e passou a moldar o comportamento da população.
A pesquisa ainda apontou que 27% dos entrevistados deixaram de realizar atividades prazerosas por causa da violência, enquanto que 26% dizem que simplesmente não saem mais de casa. Os dados mostram um encolhimento da vida social causado pela sensação de insegurança.
As mulheres são as mais afetadas, com 76% delas relatando mudanças na rotina, contra 68% dos homens. Elas também lideram entre os que evitam usar celular nas ruas e entre os que deixaram de fazer algo por lazer.
Nas regiões metropolitanas, o cenário é ainda mais grave, com 80% dos moradores adotando alguma medida preventiva. No interior, o índice cai para 66%, mas ainda revela um problema disseminado.
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O medo atinge todas as idades, superando 65% em todas as faixas etárias e chegando a 77% entre pessoas com 60 anos ou mais. A preocupação também atravessa o campo político, alcançando eleitores tanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 70%), e de Jair Bolsonaro (PL), com 76%.
O levantamento mais recente da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) aponta que, em 2024, 88 grupos criminosos atuavam no país dentro e fora dos presídios. O dado reforça que a presença e a expansão de facções criminosas ajudam a explicar o avanço do medo registrado pelo Datafolha e a mudança de comportamento da população.
Entre elas se destacam o PCC e o Comando Vermelho, com presença em praticamente todos os estados do país e no exterior. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública apurou, recentemente, que 28 milhões de brasileiros convivem com estes grupos em algum período do dia, seja nas comunidades em que moram ou nos trajetos que fazem diariamente.



