
Ouça este conteúdo
O The New York Times destacou nesta quinta-feira (25) que a marca brasileira Havaianas virou alvo de um boicote articulado pela direita após a veiculação de uma propaganda de fim de ano interpretada como provocação ideológica. Segundo o jornal americano, a reação transformou um simples comercial de chinelos em mais um episódio da guerra cultural que marca a política brasileira.
No texto, o New York Times relata que a campanha fez referência à expressão popular “começar com o pé direito”, ao sugerir que o novo ano fosse iniciado “com os dois pés”. A mensagem, considerada leve e bem-humorada por parte do público, foi rapidamente politizada por lideranças conservadoras, que passaram a acusar a marca de alinhamento à esquerda e convocaram um boicote nas redes sociais.
A campanha, apresentada pela atriz Fernanda Torres mostrava a artista desejando que as pessoas começassem 2026 “com os dois pés”, em vez de apenas com o pé direito. Para setores conservadores, no entanto, a frase foi interpretada como uma provocação ideológica contra aqueles que se identificam com a direita política.
Logo após a veiculação do comercial, políticos e influenciadores alinhados à direita começaram a convocar um boicote à marca nas redes sociais. Um dos episódios que mais repercutiu foi a divulgação de um vídeo em que Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, joga um par de Havaianas no lixo, afirmando que a marca teria escolhido deliberadamente alguém identificado com a esquerda para representá-la — uma acusação que a empresa não confirmou.
Outros líderes conservadores entraram na onda: o deputado Nikolas Ferreira publicou mensagens sugerindo que “nem todo mundo agora vai usar Havaianas”, e a deputada Bia Kicis (PL-DF) também convocou seguidores a repensarem o consumo da marca.
A repercussão internacional do episódio, segundo o New York Times, evidencia como até elementos culturais trivialmente populares — como um par de chinelos — podem se tornar símbolos políticos em um país profundamente polarizado. O jornal comparou a reação brasileira a episódios de boicotes culturais vistos nos Estados Unidos nos últimos anos, em que produtos ou marcas foram abandonados por motivações ideológicas por grupos conservadores.
