A indústria do mal
As séries que romantizam a vida de assassinos são o testemunho dessa estética degenerada
Juliana Leite - 17/11/2025 09h25

A falência moral de uma sociedade não acontece de um dia para o outro; ela se instala em silêncio, como mofo nas paredes, até que tudo esteja impregnado…
Quando uma assassina de pais se torna celebridade digital, colecionando seguidores como quem coleciona migalhas de validação, o que vemos não é apenas o apodrecimento individual, mas a capitulação coletiva. É a rendição de uma comunidade que, cansada de pensar, passa a venerar qualquer aberração desde que ofereça entretenimento rápido, indignação instantânea ou a ilusão de uma narrativa dramática que a dispense do incômodo de refletir.
Nada disso é surpreendente num mundo que transformou a perversidade em mercadoria. As séries que romantizam a vida de assassinos — filmadas com o brilho de um comercial de perfume — são o testemunho dessa estética degenerada. Elas arrancam o sangue do chão, polvilham um pouco de glamour e servem ao público uma fantasia requentada na qual o assassino vira protagonista de uma epopeia íntima, uma figura torturada digna de compreensão, senão de admiração. É a negação do óbvio: o mal não é sofisticado. O mal não tem profundidade. O mal apenas destrói.
E assim seguimos, contemplando essa coreografia grotesca como se fosse inevitável. A trajetória da assassina transformada em influencer é apenas o símbolo mais escancarado de uma era que perdeu qualquer senso de proporção — e de vergonha.
Ao celebrar monstros, a sociedade revela uma verdade que preferia ocultar: não estamos fascinados por eles, estamos anestesiados por nós mesmos. A decadência deixou de ser acidente e virou programa de entretenimento. E, no fim, o único cadáver realmente abandonado nessa história é o da moral coletiva.
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Juliana Moreira Leite é jornalista especialista em cultura, escritora e curiosa. Nesse espaço vai falar sobre assuntos da atualidades sob a sua visão. |
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