
Mais uma vez, uma decisão administrativa envolvendo o preço da energia elétrica foi decisiva para manter a gangorra dos índices de inflação nos últimos três meses. Depois da deflação de 0,11% em agosto e da aceleração para 0,48% em setembro, o IPCA de outubro ficou em 0,09%, segundo os dados divulgados pelo IBGE na terça-feira – a menor taxa para o mês de outubro desde 1998. Agora, o acumulado do ano de 2025 está em 3,73% e o acumulado dos últimos 12 meses, em 4,68% – a meta do Conselho Monetário Nacional para o ano é de 3%, com 1,5 ponto de tolerância para cima ou para baixo, ou seja, a inflação anualizada ainda está estourando o limite máximo da banda estabelecida como aceitável pelo CMN.
O IPCA de agosto havia sido fortemente influenciado pelo chamado Bônus de Itaipu, um desconto extraordinário concedido na conta de energia elétrica de consumidores que usam menos de 350 kilowatts-hora por mês. Aquela queda representou 0,17 ponto porcentual na composição do índice. No mês seguinte, sem o desconto, o custo da energia elétrica deu um salto (que, na verdade, era o retorno aos níveis normais) e puxou para cima a inflação: só a energia elétrica residencial respondeu por 0,41 ponto porcentual no IPCA de setembro. Em outras palavras, sem o efeito do bônus e de sua retirada, nem teria havido deflação em agosto, nem a inflação de setembro teria sido tão alta.
Mudança na bandeira tarifária baixou o custo da energia elétrica, resultando na menor inflação para um mês de outubro desde 1998
Em outubro, novamente a energia elétrica foi o item que teve a participação mais importante na composição do IPCA, caindo 2,39% e sendo responsável por um recuo de 0,10 ponto porcentual no índice. O motivo foi a mudança da bandeira tarifária, de vermelha 2 para vermelha 1; com isso, o acréscimo a cada 100 kWh consumidos caiu de R$ 7,87 para R$ 4,46. As bandeiras vermelhas são acionadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica quando os reservatórios das usinas hidrelétricas estão baixos devido à falta de chuvas, forçando o uso de termelétricas, mais caras – em novembro, continuará vigorando a bandeira vermelha 1.
Descontadas as oscilações da energia elétrica, o que se viu no IPCA de outubro foi estabilidade no grupo Alimentação e Bebidas, com algumas esperadas variações sazonais; os combustíveis subiram 0,32%; o grupo Saúde e Cuidados Pessoais teve alta de 0,41%; Vestuário teve a maior inflação entre os nove grandes grupos analisados pelo IBGE, com 0,51%, mas seu peso no cálculo do índice cheio é menor, e seu impacto no IPCA de outubro foi de apenas 0,02 ponto.
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Para conter o estrago causado pela política fiscal expansionista – e bastante inflacionária – do governo federal, o Banco Central adotou a única arma que tem à disposição: uma política monetária contracionista, com juros altos. Lentamente, essa estratégia parece começar a dar resultados do ponto de vista da inflação, o que ressalta a hipocrisia dos governistas que foram às mídias sociais comemorar o IPCA de agosto, baixo não por causa de nenhum surto de responsabilidade fiscal de Lula, mas por causa de uma canetada da Aneel e graças ao Banco Central que os petistas tanto demonizam.