Eduardo Bolsonaro
Deputado diz que diplomacia brasileira "não teve qualquer mérito" na retirada parcial do tarifaço aos produtos brasileiros. (Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados)

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Eis que toda a militância de Eduardo Bolsonaro em favor de tarifas e sansões resultou no roteiro de uma ópera bufa. De uma chanchada internacional eivada de expectativas quebradas. Disse que trabalharia para boicotar encontros entre autoridades brasileiras e americanas. As autoridades se encontraram. Avaliou então que tais encontros não levariam a avanços concretos. Os avanços ocorrem. Disse que Trump não recuaria nas tarifas. O recuo veio. Agora trata de minimizar o recuo. E isso também não para de pé. Quem ainda acreditará em suas promessas?

“A decisão dos EUA decorreu apenas de fatores internos, especialmente a necessidade de conter a inflação americana em setores dependentes de insumos estrangeiros”, escreveu Eduardo Bolsonaro no X. Sua narrativa ignora que o próprio documento da Casa Branca menciona as negociações entre Brasil e Estados Unidos, bem como a validade retroativa de seus efeitos para a exata data do encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário Marco Rubio. Ou Trump resolveu citar Lula no comunicado apenas como efeito da “química” entre os dois? Quanta generosidade.

Ao invés de conceder uma vitória a Trump, como recomendou certa feita Tarcísio de Freitas, o que o governo brasileiro fez foi, no mínimo, ganhar de presente uma vitória a ser explorada no âmbito interno do Brasil. Isso sem abrir mão de nada

Por óbvio, o governo americano fez um cálculo pragmático, com vistas ao processo eleitoral do próximo ano. Os americanos, como também os brasileiros, votam com o bolso. Trump não deseja perder as eleições legislativas como perdeu as eleições municipais. E isso o obrigada a uma mudança objetiva na sua linha de ação. Ainda assim, parece inequívoco que o governo brasileiro soube capturar tal oportunidade E transforma-la num ativo.

Ao invés de conceder uma vitória a Trump, como recomendou certa feita Tarcísio de Freitas, o que o governo brasileiro fez foi, no mínimo, ganhar de presente uma vitória a ser explorada no âmbito interno do Brasil. Isso sem abrir mão de nada.

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Lula terá muito o que explorar em 2026. Poderá bater na família Bolsonaro acusando-a de tramar contra os interesses do Brasil, poderá apontar que sugestão de Tarcísio de Freitas para resolver o problema resultaria na desmoralização do país, e poderá, por fim, usando o próprio documento da Casa Branca, dizer que foi seu diálogo com Trump que abriu as portas para a construção de uma solução.

Poucos meses atrás, Eduardo Bolsonaro, em uma entrevista para a jornalista Bela Megale, vaticinou sobre quais seriam os possíveis resultados de sua empreitada internacional junto ao governo Donald Trump contra as instituições brasileiras. “Os meus planos aqui são: ou tenho 100% de vitória, ou 100% de derrota”, disse. Na época confiante, propunha uma cruzada até dobrar o que chama de “regime”. Instou a oposição, inclusive com ataques a aliados, a seguir sua estratégia extrema em nome de um propósito que, na prática, era inalcançável. E fracassou, como apenas os não iludidos poderiam suspeitar.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos