Cenário indefinido dos juros pesa no mercado
Em uma primeira leitura, muitos analistas viram a abertura de espaço para início dos cortes da Selic já em janeiro
O mercado aguardava com ansiedade os novos indicadores dos Estados Unidos e a ata do Copom para redefinir as perspectivas quanto à política de juros nos dois países. E houve uma certa decepção. A ata do Copom até veio com tom mais dovish do que o comunicado da reunião da semana passada, que foi quase xerox das reuniões anteriores, com as mesmas preocupações.
O Comitê fez alterações no diagnóstico conjuntural da inflação e da atividade, reconhecendo o movimento de desaceleração, nos dois casos e, inclusive, da inflação de serviços, com um ambiente externo menos adverso.
O Comitê ainda passou a fazer a separação entre fatores conjunturais e estruturais na avaliação dos dados do mercado de trabalho. Apesar do desemprego em níveis historicamente baixos, admite sinais de moderação, como a redução da população ocupada. É uma mudança de postura importante, indicando que reconhece o início do arrefecimento cíclico do mercado de trabalho, relevante para a desaceleração da demanda e dos reajustes de preços. Em uma primeira leitura, muitos analistas viram a abertura de espaço para início dos cortes da Selic já em janeiro. Corte modesto, de 0,25 ponto, mas já um primeiro passo.
O problema é que O Copom salientou o peso dos juros elevados nesse processo – a política monetária em patamar significativamente contracionista, que vem produzindo os efeitos esperados sobre preços e atividade. Só que a inflação e as projeções ainda continuam acima do centro da meta, os 3%. Portanto, está aberto o espaço para discussão do início do corte dos juros, mas a política adotada até agora tem sido a adequada. Novas mudanças de comunicação devem ocorrer. Dados de atividade e inflação vão continuar sendo avaliados. Mas a aposta maior ainda é de corte dos juros básicos só na reunião de março, mesmo com opiniões bem divididas.
Quanto aos Estados Unidos, o desemprego subiu para 4,6%, acima dos 4,4% esperados, para o maior nível desde 2021. Só que essa piora teve muito a ver com o corte de 105 mil vagas em outubro, início do shutdown, que paralisou as atividades do governo e a divulgação de indicadores. Mas em novembro houve criação de 64 mil postos de trabalho, acima das 50 mil previstas pelo consenso do mercado.
Diante dessa melhora e com a inflação rodando em patamar mais alto, o Federal Reserve fica confortável para manter os juros em janeiro, após os cortes das últimas reuniões, com as taxas entre 3,5 e 3,75%, não mais em nível contracionista. O FED tem tempo para uma melhor avaliação dos indicadores, da evolução no começo de 2026. E há uma torcida do mercado por cortes dos juros nos Estados Unidos, para estimular maior fluxo de investimentos para outros mercados.
No final das contas, janeiro, dependendo, claro, da evolução dos vários indicadores, pode começar sem novidades em relação aos juros. Tanto no Brasil como nos Estados Unidos.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.