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O diretor-geral da BBC britânica, Tim Davie, anunciou neste domingo (9) sua renúncia ao cargo, após fortes críticas a um documentário da emissora sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A decisão veio acompanhada da saída da diretora-executiva de notícias, Deborah Turness, em meio a acusações de que o programa teria enganado o público ao editar partes de um discurso do norte-americano.
“Essa decisão é inteiramente minha, e eu continuo muito grato ao presidente e ao conselho por seu apoio inabalável e unânime durante todo o meu mandato, inclusive nos últimos dias”, afirmou Davie em comunicado divulgado pela emissora.
Segundo a agência Reuters, Davie permanecerá no cargo pelos próximos meses, até que a emissora escolha um substituto. “Tenho refletido sobre as demandas pessoais e profissionais muito intensas de administrar essa função ao longo de muitos anos nesses tempos febris, combinadas com o fato de que quero dar tempo a um sucessor para ajudar a moldar os planos que ele entregará”, completou.
A crise teve início após o jornal Daily Telegraph publicar trechos de um documento interno elaborado por um ex-consultor de padrões da BBC, que apontava falhas graves de edição em um episódio do programa Panorama, um dos mais tradicionais da emissora. O relatório indicava que o documentário uniu duas partes diferentes de um discurso de Trump, fazendo parecer que o então presidente incentivava os protestos no Capitólio, em janeiro de 2021.
No trecho exibido, Trump aparece dizendo a seus apoiadores que “vamos caminhar até o Capitólio” e que “lutariam com todas as forças” — frases que, segundo o documento, foram ditas em momentos distintos, alterando o sentido original. A controvérsia reforçou críticas à imparcialidade da BBC, que já vinha sendo acusada de tendência política em coberturas sobre Trump, o conflito entre Israel e Hamas e temas ligados à questão de gênero.
Secretária de Trump classifica BBC como "100% fake news"
A secretária de imprensa de Trump, Karoline Leavitt, reagiu duramente ao caso, afirmando que a BBC é “100% fake news” e uma “máquina de propaganda”.
“Essa é apenas mais uma prova de como a grande mídia internacional distorce fatos para atacar o presidente Trump e enganar o público”, disse Leavitt em entrevista na sexta-feira (7).
Nos bastidores, membros do conselho da emissora reconhecem que o episódio causou um dos maiores abalos reputacionais da BBC em anos, atingindo o núcleo de sua credibilidade jornalística.
Tim Davie, que assumiu o comando da BBC em 2020, foi responsável por implementar uma política de neutralidade editorial mais rigorosa e por expandir o alcance global da emissora no ambiente digital. Sua saída ocorre em um momento de forte pressão política e interna, num contexto de queda de audiência e aumento das disputas sobre independência jornalística.
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