Envelhecimento dos astronautas que vão para o espaço.
O ritmo de envelhecimento no espaço é mais rápido se comparado a Terra. (Foto: Brian McGowan | Unsplash)

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Imagine este cenário: ao sair de casa todos os dias para ir ao escritório, seu envelhecimento é mais rápido que o de seus colegas. Assim, quando comparado a amigos e familiares, você possui mais propensão a doenças relacionadas ao enfraquecimento do sistema imunológico e até mesmo ao câncer, sem que haja nada que ninguém possa fazer para eliminar a “toxicidade” do seu ambiente de trabalho.

De acordo com uma recente pesquisa da Universidade da Califórnia, esta tem sido a realidade de diversos astronautas que viajaram em missões espaciais nos últimos sessenta anos.

O estudo descobriu que as expedições ao espaço aceleram o envelhecimento de células-tronco hematopoiéticas, responsáveis pela formação de todas as células de sangue e do sistema imunológico, e expõem os astronautas extensamente à radiação cósmica, cujo resultado acelera mutações e danos genéticos em humanos.

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"O espaço é o teste de estresse final para o nosso corpo", afirma a médica e diretora do Instituto de Células-tronco de Sanford, Catriona Jamieson, responsável pela pesquisa.

"Estas descobertas são extremamente importantes porque mostram que os fatores de estresse do espaço, como a microgravidade e a radiação galáctica cósmica, podem acelerar o envelhecimento molecular das células-tronco do sangue”, analisa a professora.

Segundo Jamieson, além de auxiliar no estudo sobre o envelhecimento humano e no estudo do câncer na Terra, a pesquisa também pode trazer luz ao desenvolvimento de tecnologias de proteção à saúde dos astronautas no espaço – em um momento em que empresas como a SpaceX e Blue Origin têm investido bilhões em novos projetos de lançamentos espaciais.

“Este é um conhecimento essencial à medida que entramos numa nova era de viagens espaciais comerciais e pesquisa em órbita terrestre baixa", acrescentou Jamieson.

A pesquisa da Universidade da Califórnia baseou-se em um estudo da NASA, realizado em 2015, conhecido como o “Estudo dos Gêmeos”. Na ocasião, o órgão americano desenvolveu uma experiência científica que acompanhou o astronauta Scott Kelly no espaço, enquanto analisava, simultaneamente, seu gêmeo idêntico na Terra.

O irmão enviado ao espaço mostrou sinais de alteração consideráveis em sua fisiologia, genética e até mesmo no microbioma intestinal. No entanto, muitas das alterações foram revertidas quando o astronauta retornou à Terra.

Resultados do estudo: há chances de reverter o envelhecimento?

As células-tronco hematopoiéticas de humanos, expostas durante um período de 32 a 45 dias à radiação cósmica, mostraram características marcantes de envelhecimento quando comparadas com as mesmas amostras que permaneceram na Terra.

Segundo o estudo, as células enviadas ao espaço tornaram-se mais ativas do que o normal, queimando suas reservas e perdendo a capacidade de descansar e de se recuperar – característica fundamental para que células-tronco se regenerem ao longo do tempo.

A capacidade do corpo dos astronautas de produzir novas células saudáveis também foi significativamente comprometida. Os sinais de desgaste molecular se tornaram mais evidentes, incluindo:

  • danos ao DNA;
  • encurtamento das extremidades cromossômicas;
  • redução na velocidade de regeneração dos tecidos.

Por outro lado, alguns desses sinais se mostraram reversíveis em um ambiente saudável e sem interferência da radiação cósmica. O que pode sugerir que é possível que as células sejam rejuvenescidas com a intervenção correta, como terapias genéticas e o uso de antioxidantes.

Envelhecimento de astronautas no espaço é um processo mais rápido.Ainda que haja o envelhecimento rápido ao estar no espaço, os astronautas podem reverter esse processo ao se manterem fora da radiação cósmica. (Foto: NASA Hubble Space Telescope | Unsplash)

Qual é a importância da pesquisa para o futuro da ciência?

A descoberta mostra a importância de introduzir novas contramedidas para proteger a função das células-tronco durante as missões espaciais. Além de expandir o desenvolvimento de marcadores biológicos para detectar o impacto das viagens espaciais no corpo humano.

Apesar de significativos e reveladores, os estudos ainda estão em fase preliminar e deverão ser aprofundados nos próximos anos. Além disso, os cientistas ressaltam que os resultados foram obtidos em amostras celulares e missões curtas, e o envelhecimento detectado pelas análises pode variar de acordo com cada indivíduo e sua resiliência às intempéries espaciais.

A equipe planeja estender a pesquisa com novas missões adicionais, com foco no monitoramento em tempo real de mudanças moleculares e potenciais contramedidas farmacêuticas ou genéticas para proteger a saúde humana no espaço.