Senador Weverton Rocha (PDT-MA) é próximo tanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A inclusão do senador Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder do governo no Senado, entre os alvos da nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada na manhã desta quinta-feira (18) pela Polícia Federal (PF) complicou o cenário político para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A mesma ação levou à revelação de que a empresária Roberta Luchsinger, amiga de Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, teria recebido cinco repasses de R$ 300 mil de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.

A investigação que apura fraudes bilionárias em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) aproxima de forma ainda mais direta o Palácio do Planalto do escândalo, animando a oposição em um momento sensível do calendário, às vésperas da corrida presidencial de 2026.

Em decisão que autorizou a operação, o ministro do STF André Mendonça escreveu que os investigados do escândalo do INSS "mantinham vínculos estreitos com agentes políticos, especialmente um senador da República, que figuraria como 'sustentáculo político' da operação criminosa, o que ampliava a capacidade de influência e blindagem institucional do grupo".

Embora o ministro não tenha nomeado o senador, Weverton Rocha é o único membro do Senado relacionado como alvo de buscas no documento. Ele foi relacionado pela PF como "núcleo político que viabilizaria as atividades de Antônio Camilo".

O senador negou envolvimento com corrupção. "Ressalto que a decisão da Corte é clara ao reconhecer a ausência de provas que me vinculem a práticas ilícitas ou ao recebimento de recursos irregulares. Relações profissionais de terceiros não podem ser usadas para me imputar responsabilidade sem fatos concretos", disse Weverton em nota à imprensa.

O novo episódio se soma à sequência de embaraços enfrentados por Lula nos últimos meses, incluindo suspeitas que recaíram sobre familiares — como seu irmão, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, e o seu filho Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, além do envolvimento de aliados próximos.

Apurações envolvendo o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi (PDT) e outros indicados para cargos estratégicos já embasavam a percepção de vulnerabilidade do governo com o escândalo, explicando seu esforço para conter a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS.

A investigação apura esquema de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões pagos pelo INSS, que teriam ocorrido por meio de cadastros fraudulentos e movimentações ilegítimas. O objetivo da nova fase é aprofundar o entendimento da inserção de dados falsos em sistemas oficiais e a atuação de organizações criminosas.

A operação também envolveu, entre outras ações, o cumprimento de 52 mandados de busca e apreensão, 16 de prisão preventiva e outras medidas cautelares em diversos estados, incluindo São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Minas Gerais, além do Distrito Federal.

Senador alvo da operação atua como mediador entre Lula e Alcolumbre

A nova ofensiva da PF tem peso especial por atingir personagem central na articulação do Executivo no Congresso. Weverton é próximo tanto de Lula quanto do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), atuando como mediador em um ambiente já marcado por tensões crescentes.

A investigação localizou um arquivo intitulado “Grupo Senador Weverton” e sugere que o parlamentar teria se beneficiado dos valores ilícitos por meio de interpostas pessoas.

A Polícia Federal chegou a pedir a prisão do senador, mas a Procuradoria-Geral da República (PGR), chefiada por Paulo Gonet, manifestou-se contra o pedido. O entendimento do Ministério Público é de que, "até o momento, não se demonstrou vínculo direto entre o parlamentar e a execução das condutas ilícitas, nem recebimento de valores ilícitos."

O senador também exerce papel-chave como relator da indicação do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF), estratégica para Lula, mas que enfrenta resistência expressiva no Senado, a começar de seu presidente. Essa ponte pode ruir.

Com isso, a investigação extrapola os efeitos jurídicos e interfere mais no custo das negociações legislativas em um cenário de crise institucional, fragilidade de alianças e crescente pressão sobre Lula em ano pré-eleitoral.

Ex-assessor de Weverton amplia lista de nomes ligados ao PDT nas investigações

Entre os alvos das buscas está um secretário-executivo do Ministério da Previdência, que teve prisão domiciliar decretada. O titular da pasta, Wolney Queiroz, ex-deputado também do PDT, ordenou a exoneração do investigado.

Outro alvo é um programador que teria substituído Antônio Carlos Camilo Antunes em suas funções no esquema criminoso após o início das investigações. Além disso, mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados a Weverton em Brasília e no Maranhão, como parte das medidas autorizadas pelo STF.

Um empresário ex-assessor de Weverton e do ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho (União Brasil-MA)também foi alvo de busca e apreensão. Ele é citado como elo entre o senador e o núcleo operacional do esquema. Segundo informações do portal Metrópoles, ele chegou a conceder uma procuração a um consultor que teria movimentado valores de sua conta destinados ao pagamento de propina para autoridades e agentes políticos envolvidos no escândalo.

Na operação desta quinta-feira, a PF afirma ter encontrado planilhas de pagamento do Careca do INSS que atestavam o pagamento de R$ 100.000 para o ex-assessor. Em setembro, a CPMI do INSS chegou a pautar pedidos para sua convocação, mas a base governista conseguiu impedir o depoimento dele.

Nova operação da PF dá munição à oposição e à atuação da CPMI do INSS

O cientista político e consultor eleitoral Paulo Kramer avalia que a nova operação da Polícia Federal no âmbito do escândalo do INSS e seus desdobramentos oferecem à oposição um ativo político de alto impacto, passível de exploração contínua até a campanha presidencial.

Segundo ele, o avanço das investigações amplia o desgaste do governo e pode ter efeitos colaterais relevantes, como o comprometimento definitivo da indicação de Messias ao STF, diante do fato de Weverton, relator da escolha no Senado, figurar entre os principais alvos da ofensiva da PF.

O relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), classificou a operação como uma confirmação de que os trabalhos da comissão seguem “no caminho certo”. Para o parlamentar, as prisões e mandados cumpridos nesta quinta-feira (18) reforçam a apuração do esquema bilionário de descontos indevidos em benefícios previdenciários e contribuem para desmontar tentativas de blindagem dentro do colegiado.

“Entre os alvos, estão pessoas e políticos já citados várias vezes durante o meu trabalho como relator na Comissão. Entre eles, já havia formalizado o pedido de oitiva do senador Weverton Rocha (PDT-MA), a fim de prestar depoimento no colegiado e esclarecer seu relacionamento com o Careca do INSS”, pontuou.

Suspeitas envolvendo familiares de Lula também provocam desgastes políticos

O nome de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, voltou ao debate público com a retomada de suspeitas que incluem viagens internacionais em vôos onde estavam investigados, benefícios indiretos e a alegação de recebimento de uma suposta “mesada do careca do INSS”.

A Polícia Federal investiga cinco pagamentos de R$ 300 mil feitos pelo "Careca" à empresa de Roberta Luchsinger, amiga de Lulinha. A informação foi oficializada em uma decisão do ministro do STF André Mendonça que autorizou a mais nova fase da operação Sem Desconto, lançada pela PF nesta quinta-feira.

Nos diálogos analisados pelos investigadores, o "Careca do INSS" afirma que o destinatário dos valores seria “o filho do rapaz”, sem especificar a quem se referia. O nome de Fábio Luis da Silva não aparece no documento e ele não é formalmente investigado. O filho do presidente e Roberta são amigos, segundo afirmou em outubro à reportagem a defesa de Lulinha. A defesa de Roberta diz que ela "jamais teve qualquer relação com descontos do INSS".

Em uma das mensagens trocadas entre Roberta e Antunes, a empresária tenta tranquilizar o careca do INSS dizendo: "na época do Fábio falaram de Friboi, de um monte de coisa o (sic) maior… igual agora com você". A decisão de Mendonça não especifica se o Fábio referido é o filho do presidente. Em 2015, Lulinha processou políticos por ter seu nome associado à empresa Friboi, segundo ele indevidamente.

Um assessor de Antunes também teria afirmado à PF que Lulinha receberia uma mesada do "Careca do INSS", segundo uma fonte ligada à investigação que pediu para não ter o nome revelado. Mas esse depoimento até o momento não foi tornado público e não há provas contra o filho do presidente.

Já Frei Chico, irmão de Lula, é citado nas investigações por ser vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades que mais tiveram operações questionadas por beneficiários. A suspeita é que a entidade teria omitido que ele fazia parte de seus quadros ao pedir uma renovação de Acordo de Cooperação Técnica com o governo. Esse acordo permite o desconto de valores da folha de pagamentos de aposentados. A omissão é considerada irregular porque parentes de autoridades do Executivo não podem integrar entidades beneficiadas por esse tipo de mecanismo.

Embora Frei Chico não seja formalmente investigado até o momento, a associação de seu nome ao escândalo gerou desgaste político para Lula. O Palácio do Planalto trata do assunto com cautela redobrada e a base governista na CPMI do INSS impediu a convocação do líder sindical.

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Blindagem governista na CPMI do INSS tenta conter a crise

Para o cientista político Flávio Testa, o avanço das investigações tende a aproximar o governo do escândalo do INSS e a constranger o entorno de Lula, ainda que os impactos políticos possam ser mitigados no curto prazo. Segundo ele, o Planalto conseguiu erguer uma barreira de contenção ao assegurar maioria governista na CPMI do INSS, reduzindo o alcance das apurações e ajudando a blindar personagens próximos ao presidente.

“Os governistas barraram a investigação sobre o Lulinha. Já Weverton Rocha mantém vínculos com o ministro Flávio Dino, do STF, e pode acabar sendo poupado pelo tribunal. Além disso, parte da imprensa tende a colaborar para conter a exposição dos alvos. O governo deve então sofrer abalos, mas só de forma pontual e passageira”, afirma Testa.

O analista destaca ainda um fator político adicional que pode jogar a favor do Palácio do Planalto. A interrupção das negociações entre direita e centro-direita para a sucessão presidencial de 2026 abriu espaço para ofensiva de Lula em direção ao Centrão, com a oferta de cargos e ministérios como moeda de negociação. Exemplo claro e recente é a tratativa envolvendo o Ministério do Turismo, oferecido novamente ao União Brasil.

Por fim, Testa observa que Lula segue como ator eleitoralmente competitivo, apesar do histórico de embates com a Justiça e de condenações em todas as instâncias. Amparado por uma relação favorável com o STF e por forte capacidade de comunicação política, o presidente pode, na sua opinião, recorrer a discursos fabricados para tentar neutralizar os efeitos de mais uma crise de imagem.

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